Archive for 2011

Corujão.

 Hoje é uma madrugada qualquer de quinta feira, na verdade, dia 29 de Dezembro de um final de ano qualquer e na televisão passam alguns filmes que me lembram certas partes da época em que eu costumava viajar muito de carro. De Cuiabá a São Paulo. Era tão cansativo e ao mesmo tempo tão magico, tantas estradas que pareciam ser infinitas nos levavam a um destino qualquer embora soubessemos aonde chegariamos. Não tinha tanto mistério.
 Lembro-me perfeitamente de uma dessas madrugadas em que paramos em um posto, meio de semana, sei lá, podiam ser umas duas da manhã e haviam alguns caminhoneiros sentados em frente ao restaurante dos postos, já fechados, que fumavam seus cigarros baratos e conversavam sobre estradas, destinos, mulheres e seus segredos escondidos por alguns capotas que insistiam em trazer e levar mercadorias para aonde tivesse de ir. Lembro-me perfeitamente de estar começando aquela famosa sessão da globo, o corujão. Quando mais nova, tinha muita insonia pelo fato de estudar a tarde portanto eu sempre dormia tarde. Assistia tantos filmes nessa porcaria que já havia perdido as contas de quantos filmes repetidos já havia conhecido nisso aí. Alguns violentos, outros pesados, mas principalmente alguns que me lembravam as famosas viagens a longa distancia e que me deixavam nostalgica. Ouvir aquela musica de madrugada enquanto seguiamos caminho era como ouvir uma breve melodia que ouvira em sua infancia e nunca mais se esquecera. Era parte de minhas viagens, de minhas lembranças das estradas escuras acompanhadas por algumas carretas que seguiam viagem ao lado oposto de nós e eu continuava ali, a sonhar com o destino final, com o que me aguardava e principalmente com as férias de verão.

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Orgulho.

 Na verdade, eu olhei aquelas fotos e me lembrei perfeitamente daqueles dias. Tinhamos tudo né? Tudo para ficarmos juntos e dar certo, não acha? Tinhamos fé, tinhamos eu e tinhamos você, tinhamos nossas mãos e nossos lábios e isso já bastava, tinhamos companhia na madrugada e tinhamos vinhos e cigarros para uma longa noite... Mas a noite acabou se encurtando.
 Que maldito orgulho tive, não? Perdi você. Agora é um bocado triste te ver com outro alguém e vendo esse amor que cresceu em você, que não é mais por mim e que me mata. Acabei por te deixar por outro alguém, mas acabei sozinha, quem diria que isso poderia terminar assim, certo? Tudo prometia tanto e quando meu vaso se foi ao chão, as flores despedaçaram como um longo inverno cheio de neve... Neve escura, neve amarga, neve infeliz.
 Olha, eu disse que eu sentia o mesmo e não menti... Eu sinto, mas não quero esperar, não posso esperar e não sei se vou faze-lo. Não vou lhe dizer, óbviamente mas vou ficar ao teu lado quando precisar de mim. Não quero ser rude e muito menos lhe fazer infeliz mas preciso que saiba que eu sempre senti o mesmo, só não pude e nem sabia como dize-lo, não sabia como ultrapassar o meu orgulho para ser feliz com alguém como você, que se importou comigo de verdade, como ninguém.
 Agora estou sozinha e acabada. Seja feliz por mim também e volte, se um dia achar necessário, volte que estou de braços abertos.

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Mundo de isopor.

 Uma vez já me disseram que as nuvens não eram de algodão e que o céu não era feito de estrelas, que todo aquele azul não vinha do mar e de que o sol não era de papel... O chão era de isopor, bastava um passo em falso e ele podia se quebrar em pedaços, eu era feito de vidro, vidro rachado, pronto para se despedaçar, se estilhaçar deixando suas marcas no chão de isopor branco.
 Meus passos eram lentos, muitas vezes não me deixavam chegar aonde eu desejava e as nuvens de algodão continuavam a me acompanhar, mas quando estava quente demais, elas desapareciam e me deixavam exposto, suspirando por abrigo e respirando por uma eternidade que nunca chegaria, que nunca seria o suficiente.
 As montanhas verdes, também de isopor, eram faceis de serem alcançadas. Quando eu não tinha defeitos, eu subi em todas elas pra gritar ao mundo o quanto eu vivo, o quanto eu era forte, o quanto meu mundo de faz-de-conta era genial! Era bom! Ele progredia cada vez mais, por mais que alí só existisse a mim.
 Meus olhos, de vidro verde, continuavam a refletir aquelas nuvens passageiras que esperavam o próximo trem para seguir em frente, para ir para outro mundo de isopor... Ou talvez não. Os rios do meu mundo eram feitos de tinta azul e continuavam a seguir o seu caminho, livremente, abrindo espaço para todos que quisessem descobrir aonde terminaria aquele sonho.
 Os meus pés continuavam e as borboletas passavam a me acompanhar, umas pousavam em minha cabeça e outras pousavam em minhas mãos, geladas, que servia de apoio para que pegassem uma carona para um lugar qualquer. Tentei sorrir mas nada funcionou. A noite não demorou a chegar e portanto, as borboletas fugiram para se abrigar. Sentei-me no pé de uma arvore e por alí permaneci. Rachado. Sem cura. Sem história pra contar. Um vidro quando racha jamais possui conserto. Eu não iria me regenerar, eu não iria me consertar, eu iria me sentar e ficar ali, olhando as falsas estrelas de diamantes que no céu brilhavam e tentar entender porque vidros como eu acabavam assim... Acabavam quebrados, sem esperança, sem nada... Sem ninguém.

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Nostalgia.

 Como eu queria voltar naquele dia... Como eu queria ter tudo aquilo de volta, como eu queria ouvir aquelas palavras novamente só para fingir que estou bem e ir dormir tranquilo... Como eu queria estar ali, sentado na mesma cama, ouvindo a noite lá fora e os gritos de felicidade das pessoas que comemoravam... Como eu queria voltar. A neve insistia em cair lá fora, o dia estava quase se pondo, se rendendo lentamente ao crepusculo que invadia o céu. Meus olhos estavam um pouco avermelhados e cansados pois eu acabara de acordar. A janela do meu quarto estava com as cortinas abertas e permitia que a luz daquele dia invadisse cada canto de meu quarto, sem sua minima permissão. Hoje era natal.
 Levantei-me lentamente de minha cama sem vontade alguma de acordar, já acreditava no propósito de que estava vivendo minha vida por viver, que não tinha mais motivos para acordar na manhã seguinte e sorrir, como eu sempre fazia. Eu estava um pouco cansado do que me rodiava, estava cansado da vida que levava, dos dias serem sempre iguais, embora me trouxessem lembranças inuteis, esperanças inuteis de que um dia eu alcançaria o que tanto esperava.
 Desci as escadas até a sala, a televisão estava quieta, a casa estava vazia e parecia estar cada vez mais fria, andei até a cozinha, procurando uma ultima esperança e nada. Não encontrava nada. Procurei olhar pela janela em busca de alguma alma que por ali poderia passar e meus olhos se confundiram com a neve. Nada adiante. Suspirei como se não houvesse outro dia e decidi me sentar no sofá, ler o jornal e ver qual seria a desgraça de hoje.
 Nós sempre fomos tão unidos... Mesmo que ele fosse meu melhor amigo de infancia você apareceu e em tão pouco tempo te contei coisas que não diria a ninguém mesmo! Você realmente me marcou e... Ligação interrompida. Créditos acabaram e tudo o que eu podia pensar era na merda que essa lembrança me trazia.
 Eu nem acredito que você esta aqui, na minha frente! É tão bom... Venha cá e me abrace direito.
 Não importa o que vai acontecer agora, eu te amo. Eu te amo muito. Vai ficar tudo bem, eu sei que vai... Termine logo tudo isso e venha embora para cá, para ficarmos juntos e tudo ficar bem. Agora as lágrimas já tinham se tornado visitantes indesejaveis... Eu pedia para que fossem embora mas ela não me deixavam em paz, não me deixavam parar, não me deixavam respirar... Eu queria fugir, eu queria escapar mas não era capaz. Eu era fraco. Fraco demais.
 Agora a noite já estava me abrigando. Já havia apagado todos os raios de sol e acendido as luzes das ruas. A casa permaneceu escura, como a noite que nem a presença das estrelas possuía mais. Era a hora de falhar completamente, era hora de fugir, era hora de correr, era hora de me esconder.
 Levantei-me e fui até o banheiro. As pilulas pareciam atraentes dentro daquele vidrinho laranja. Esvaziei o mesmo em minhas mãos e tomei as pilulas, seguido de um copo de agua. As luzes lá de fora iluminavam um pouco o banheiro e eu ainda podia ver meu rosto, avermelhado, com os olhos cada vez mais transparentes, de dor, de rancor, de ódio... E passei a perder o sentido das coisas... Por uns instantes não ouvia mais nada e por outros já não via mais nada e o silêncio da noite me envolveu em seus braços, me guiando para um lugar qualquer... Que talvez eu ainda encontre... Uma esperança... Uma... Esperan... ça.

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Rosas vermelhas.

 Gosto do jeito com que sorri, do jeito com que me abraçou, do jeito com que me olhou e conversou, mas não pude deixar de notar o teu olhar quando ela entrou naquele lugar. Você que antes parecia tão radiante se tornou tão triste e fez com que as minhas rosas se partissem em pétalas frageis e finas, vermelhas e tristes, como teus olhos verdes.
 Ha muito tempo, eu senti isso. Senti isso por outro alguém que nem aqui estava mas eu pude ver a maneira com que seu coração bateu e eu queria arranca-lo de tanta dor. Queria ser capaz de te dizer que queria estar com você mas não sei, você me rejeitaria novamente e eu não poderia querer isso, eu não ia aceitar. Eu respeitei tantas regras, quis me calar, quis não me sentir mal mas eu me sinto.
 Quero estar com você, por favor, diga-me que também quer estar comigo e podemos fingir que nada aconteceu, talvez assim eu possa curar a sua dor. Sua imensa dor e te fazer feliz. Te fazer feliz pra sempre.
 Pequena V.

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Borboletas.

 Estava escuro e úmido... Aquele lugar cheirava a mofo e tinha goteiras por todos os lados. Era silencioso e solitário assim como o deserto. Possuía algumas mobilias abandonadas e era quase impossivel de se enxergar alguma coisa alí... Depois de algumas cervejas eu vim parar aqui mas não faço idéia de onde estou.
 "As borboletas... Elas lutam muito para se tornarem borboletas e então, se tornam belas, livres, se tornam bonitas e experimentam o gosto de sua liberdade."
Uma voz doce soava longe dizendo essas palavras e eu as ouvia com atenção, embora estivesse um pouco assustada.
"Elas amadurecem, voam e buscam sua sobrevivencia ou até mesmo o seu novo lar. Deixam o seu passado de lagarta para trás e aprendem, com suas novas asas, que podem ir além do que se esperava."
Pude ver algo se aproximando mas não fazia idéia do que era. Tinha um cheiro suave, parecia algo bom, parecia algo diferente e a voz só parecia ficar mais alta.
  "Chega uma fase em que você precisa decidir se vai ama-las ou não. Se vai respeitar essa liberdade que elas tem, se vai deixa-las voar com suas próprias asas e não vai impedi-las de serem o que são. De serem azuis ou amarelas. Precisa decidir se vai liberta-las, pois mais cedo ou mais tarde, elas precisam voltar para seu lugar de origem. Se ficarem aprisionadas, irão morrer. Elas precisam voar. O mais alto que puderem. Elas precisam alcançar o limite do céu azul e imenso. Elas são pequenas mas são corajosas, elas não tem medo de se soltar. Não tem medo de sua asa quebrar." 
 Fechei os olhos e logo senti um toque suave em meu rosto. Pareciam mãos, geladas, mas familiares que me tocavam a pele lentamente, abri meus olhos devagar e pude finalmente enxergar.  
"Vai ama-la ou vai liberta-la?"
 Dei um sorriso e apenas olhei para aqueles olhos escuros que me guardavam e respondi.
"Vou liberta-la."
 Assim, me levantei daquele sofá e fui seguir o meu caminho pelas ruas escuras e frias. Talvez agora eu tenha entendido o porque. Talvez agora eu saiba melhor do que ninguém o que são as borboletas e o que elas significam. Talvez eu saiba. Talvez eu não saiba. Mas não tinha medo de voar. Não mais.

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Noite parisiense.

 Era Dezembro. É, só podia ser Dezembro. Era o mês que mais me atormentava. Era o mês que Paris ficava coberta de neve e era o mês em que ela fazia aniversário... Não Paris... Ela. A outra.
 Dei um trago em meu cigarro novamente enquanto observava a cidade pela porta de vidro. A neve caía lentamente e a televisão avisava a proximidade do natal. Eu permanecia de olhos fixos naquelas luzes todas, que enfeitavam a torre eiffel de maneira que a deixasse cada vez mais deslumbrante a cada olhar e a minha mente voava para outro lugar, sem dar sinal de quando iria voltar. A fumaçava já havia se espalhado pelo ambiente e ainda não me sufocara, o apartamento ficava cada vez mais frio pela temperatura lá fora e a garrafa de vinho, abandonada ao lado do cinzeiro, já estava vazia. Tão vazia quanto meus olhos, azuis, que observavam a noite parisiense.
 Levantei-me e decidi dar uma volta. Não estava muito preocupada com o fato de estar nevando aquele tanto, eu precisava respirar um pouco, observar os carros que também procuravam seu rumo e a sua saída, a saída desse bosque que parecia ser tão lindo, tão puro que acabou por se tornar um pesadelo. Dei um longo suspiro enquanto acendia outro cigarro, continuei caminhando com a neve em meus pés, deixando-os cada vez mais gelados, assim como os meus lábios aflitos procuravam por refúgio.
 Decidi ir até a torre eiffel, talvez algo tão belo fizesse com que eu não me sentisse um lixo.
 Caminhei um tanto bom até chegar lá e quando cheguei, observei de perto aquelas luzes intensas, que chamavam a atenção de todos que passassem por alí, suspirei e resolvi me sentar, debaixo dela, com mais um cigarro barato na boca, procurando encontrar o que não queria, procurando esquecer o que deveria embora preferisse crer que as flores vermelhas de Maio fossem mais belas do que aquele enorme pesadelo que estava vivendo.
 Alguns flocos de neve me atingiam, outros seguiam seus rumos para bem longe de mim. As pessoas que andavam por alí sorriam, contemplavam tamanha beleza sem se importar com o amanhã e isso me deixava com inveja, pois era dificil acreditar que as pessoas pudessem ser tão felizes juntas, quando no momento em que nasceram, estavam sozinhas... Não entendo esse porque de se encontrar e depois se perder, não entendo essa vontade de querer ficar junto, de querer sentir todas aquelas coisas clichês se no fim, acabam por se desencontrar. As pessoas querem viver de reencontros e não de desencontros, mas eu prefiro o desencontro, ele se torna suave com o passar do tempo.
 Depois de tantos pensamentos e flocos de neve, resolvi procurar um bar qualquer. Levantei-me e fui seguindo meu caminho, rumo ao desencontro e acabei por encontrar almas tão solitárias quanto a minha. Adentrei aquele bar e logo me sentei em um dos banquinhos do balcão. Pedi o vinho mais porcaria do cardapio e passei a bebe-lo. Depois da meia noite, seria oficialmente "natal" e eu passaria embriagada com pessoas desconhecidas. Almas perdidas, almas de desencontro.
 - Uma taça de Romer du Hayot, por favor. - A voz que soou no meu ouvido, com um sotaque francês bem rispido chamou a minha atenção e quando meus olhos azuis encontraram aqueles olhos verdes, eu fiquei curiosa, mas apesar dos olhares, recebi um sorriso.
 - Boa noite.
 - Boa noite. - Apesar do sotaque ser bem rispido, a voz era tão suave quanto bossa nova. Retribuí o sorriso.
 - Me acompanha?
 - É, por que não? - Acho que havia encontrado outra alma solitária que também precisava de uma boa e longa conversa de bar, regada a alguns vinhos de Bordeaux, ruins e baratos, mas resolvi deixar que a noite me levasse, embora nada fizesse sentido, não era razão para eu me afobar... Eu preferi me afogar naqueles verdes tão intensos que me cercavam a madrugada... Que me abriam um novo mundo e que me dirigiam palavras. Secretas. Palavras secretas.

Dedicado a Mariana V.

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Percepção.

 Nós não parecemos em quase nada, é literalmente vazio e não faz nenhum sentido. Ela me olhava com olhos de pena mas eu a olhava com olhos sedentos e isso me tornava tão fragil... Eu escrevia poesias, eu dizia coisas marcantes, levava flores e ela me ignorava. Era tudo tão estranho porque das outras vezes isso parecia dar certo, pelo menos no filme todo mundo costumava ter um final feliz mas eu era o único que não conseguia e ela me arrancava o que eu poderia mudar. Sei lá, eu não entendo nada dessas coisas e é por isso que eu prefiro as ignorar... Mas quando isso se torna impossível, não sei o que faço.
 Tem coisas que me encomodam. O simples fato de eu estar bem até ela vir falar comigo era algo que me intrigava. Eu estava tocando a minha vida tão bem até me importar de vez com aquela maldita amizade que ela cultiva com a minha melhor amiga. Tenho raiva, tenho ciúmes, tenho vontade de morrer toda vez que vejo isso. Tenho raiva pois não sou nada do que ela quer, ao contrário da outra, que tem TUDO o que ela quer: os mesmos gostos. e os signos opostos. Isso é algum tipo de sacanagem? Isso é ridiculo.
 Eu fumo, eu bebo, eu trepo, eu tomo café, eu escrevo, rabisco, rasuro, rasgo, queimo, sinto ódio e olho as luzes dessa cidade abafada de madrugada e não passa, não entendo o que acontece. Não entendo porque tanto sentimento... Não entendo porque esse 'apego' as coisas que ela me faz, as coisas que ela me traz e que eu já não acredito em mais nada. O destino me surpreendeu mas eu estava por cima disso antes, não quero voltar... Então por favor, leve-me para longe disso. Bem longe. Bem longe dela e de qualquer outra pessoa... Bem longe de você.

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Gritos de silêncio.

 Ontem você apareceu e veio com palavras que me confundiram novamente... Eu estava tão bem e não estava fingindo, pela primeira vez eu pude tentar sentir outras coisas mas você voltou... O meu café esfriou, o cigarro apagou e os meus olhos se abriram novamente para encontrar os teus. Minha mente pediu trégua mas você quis continuar do mesmo jeito, continuou jogando e eu pedindo para que parasse porque seria tortura perder tudo novamente e você reclamou. Reclamou da minha ausencia. Minha ausencia que não parecia fazer diferença para você. O que foi que aconteceu? Por que?
 Algo te encomoda? Existe outra coisa que eu possa fazer por você? Eu não sei o que dizer, nem o que pensar, tudo parecia tão claro agora parece tudo tão escuro e eu tento encontrar palavras, coisas para provar que o que eu acabo de enxergar estar errado... Aonde vamos parar com isso? Até quando você quer continuar? Até onde você vai me assombrar? Eu estou correndo mas pareço estar cada vez mais longe do final.
 Suas borboletas me pegaram e eu tentei invadir de novo o seu mundo todo. Você me prendeu e me deu uma pena eterna no seu mundo mas eu ainda continuo livre nesse e tento me livrar do seu. Eu não quero que pense o contrário, pense que eu te amo mas saiba que estou desesperado! Para onde vou correr agora? Quem vai me abraçar quando eu me decepcionar de novo? Por que não parar com isso já que você não me quer? Por que se importa tanto? Não entendo.
 Me deixe em paz. Estou com medo de dizer mas me deixe em paz... Eu já não tenho o que você quer.

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Sexta-feira.

 Era final de tarde, o transito estava infernal e a chuva começara a cair naquela cidade, acinzentando os céus e escurecendo o que ainda restava para enxergar. Os carros buzinavam e tudo que se podia ver eram os faróis acesos em busca de alguma resposta, de alguma alternativa, de alguma saída, no entanto, todos estavamos presos naquele inferno das 18 horas da tarde e num daqueles carros, estava eu, ansioso para voltar para casa sabe-se lá pelo que, talvez pelo dia ruim que havia tido nessa sexta feira... Embora fosse sexta feira.
 Minutos foram se passando e eu decidi ligar o radio para ouvir alguma musiquinha que me animasse, eu estava um pouco tranquilo porque gostava da chuva. Sempre gostei da chuva. Sempre gostei da forma com que ela caía do céu, parecia uma bomba explodindo no chão e derramando suas desgraças por todo o solo em que pisavamos e continuavamos caminhando sob a mesma desgraçada diaria, sobre a rotina maldita que tinhamos e eu continuava distraido enquanto mudava de radio.
 - Hm, isso fica um porre a essa hora do dia... Como eu mesmo me esqueço disso? - E encostei a testa no volante, esperando alguma solução.
 Os carros foram saindo, as avenidas foram se esvaziando e eu finalmente cheguei em casa. A noite já havia chegado e a chuva continuava forte lá fora, entrei na garagem, estacionei meu carro e subi pelo elevador. Eu morava em um dos ultimos andares daquela apartamento. Exatamente no oitavo andar. Abri a porta e entrei pela casa, estava escura, do jeito que eu a havia deixado hoje cedo. Acendi as luzes da sala e olhei pela porta de vidro a chuva cobrindo a cidade inteira, estava cada vez mais intensa enquanto alguns carros ainda tentavam escapar por algumas ruas estreitas e eu a observava.
 O tempo foi passando e a saudade daqueles olhos castanhos foram batendo novamente. Eu assistia televisão mas não me concentrava em nada do que diziam, eu só pensava naquele par de tatuagens, naquele cabelo vermelho que ela tinha e naqueles lábios doces e lindos, fortes como ela. Naquele seu corpo macio e convidativo que sempre me deixava louco e lembrava de todas as promessas que haviamos feitos, de todos os beijos, os carinhos e os dias que passamos juntos. Aquilo me torturava e me matava aos poucos, eu sentia aquela dor imensa tomando conta de mim e não podia fazer nada para conte-la. Ela estava com outro alguém. Estava mais feliz. Ela amava esse outro alguém. Era alguém certo pra ela pois eu nunca fora a pessoa certa, eu era o oposto que ela não queria, eu não era nada do que ela queria, definitivamente isso... Eu só tinha todo o amor que ela queria.
 Suspirei e resolvi sair. Sabia que se ficasse em casa aquilo podia piorar e então eu resolvi que se tinha que piorar, teria que ser de outra forma. Levantei e saí. Fui pela chuva procurando alguma coisa e encontrei um clube noturno de strip tease, por que não? Talvez eu precisasse de algumas mulheres bem vadias se esfregando em mim para que eu me sentisse um pouco melhor. Segui a placa e entrei, o lugar era abandonado, mais parecia um depósito preto, minusculo, com uma luz verde na frente, o lugar cheirava a urina e a vomito e apenas aquela luz iluminava aquele lugar, a rua era toda escura e as luzes dos postes pareciam estar queimadas, sei lá, nem me importei muito com isso. Adentrei e não demorou muito para que uma vadia loira viesse se esfregar em mim. Dizia milhares de coisas mas eu resolvi dispensa-la para me sentar em uma mesa e encher a cara, quem sabe assim eu criaria coragem para me divertir com isso.
 Pedi o whisky mais barato do cardapio, bebi tão rapido que nem pude perceber que já estava no quinto copo e já estava me sentindo um pouco embriagado. Acendi um cigarro e comecei a tragar rapidamente enquanto bebia aquele whisky horrivel. Observei melhor o clube e percebi que aquela merda realmente estava deprimente. Os homens ao meu redor encoxavam as vadias como se fossem garanhões, como se não precisassem pagar por isso, pagar pra se sentir O melhor e eu nunca precisei disso. Outros já estava quase comendo as vadias em cima da mesa e outros bebiam e reclamavam de suas mulheres. Talvez eu fosse o único alí que estivesse sofrendo por causa de uma mulher qualquer, eu sentia que já estava perdendo os sentidos e não estava me importando muito com isso. Terminei o meu whisky e fui até o banheiro. Alí haviam alguns homens pagando boquete para outros enquanto eu observava minha cara embriagada no espelho. Meus olhos estavam tão avermelhados que chegavam a me assustar e eu estava fedendo a whisky, estava fedendo a tristeza, a melancolia e a depressão, estava fedendo a saudade e isso me irritava. Saí do banheiro um pouco nervoso e voltei a beber. Bebi tanto que perdi a noção e logo quando estava saindo do bar, a mesma loira vadia me puxou, disse que agora eu não escaparia de suas garras, empurrei-a e resolvi seguir o meu caminho, não estava me importando com sexo e nem nada, eu só queria a minha ruivinha de volta.
 Entrei em meu carro e decidi voltar pra casa, a chuva estava mais intensa ainda e eu não faço idéia de como consegui voltar dirigindo, pois eu estava muito bebado. Cheguei em casa e quando abri a porta, resolvi tomar outro copo de whisky mas dessa vez, o meu favorito. Bebi a garrafa inteira enquanto observava a chuva lá fora. O cigarro continuava queimando no cinzeiro e eu ainda tragava as ultimas lembranças daquele 15 de dezembro de 2010... Atirei a garrafa vazia na parede e apertei todos os seus estilhaços na mão, cortando-me sem me importar, eu gritava de dor, eu sofria de desespero e pedia para que isso acabasse logo, pois eu já não aguentava mais... Percebi que não sabia viver sem a minha ruivinha, sem aquela menina que me fazia tão bem mas que ao mesmo tempo, me fazia ver o inferno de tão mal que já havia feito, no entanto, eu não sabia esquece-la.
 - Eu sei que você não vai voltar, mas a porta está aberta! Volte quando precisar de mim, volte quando sentir saudades, volte quando quiser o meu abraço protetor novamente, volte para mim quando achar que finalmente está me amando de volta, volte e acabe com essa solidão... Volte antes que seja tarde demais.
 E as palavras se apagaram num triste brando sem fim... Aonde nem a chuva conseguiu acalmar aquelas mãos perdidas, cobertas de sangue que esperavam uma solução... Talvez a solução final de todos os sentidos ou sentimentos... Sen-ti... Mentos.

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18 anos.

 Seu aniversário chegou e era justamente por essa data que eu não ansiava nem um pouco, pois já estava previsto que ficaria mal sem você. Hoje é seu grande dia, você finalmente vai completar os seus 18 anos de idade, idade da independencia e da responsabilidade, idade da sua liberdade e eu pude perceber o quanto esperou por isso, o quanto queria que isso chegasse logo justamente para não ter mais problemas em relação as regras... No entanto, isso nunca fora um problema pra você, certo?
 Embora estejamos afastadas, eu ainda sinto sua falta. Sim, sinto sua falta. Todos os dias. Não é a toa que vivo de viver, vivo de respirar essas bobagens e vivo afastada de meus pensamentos próprios, tentando entender o quanto eu quero que as coisas voltem ao normal, o quanto eu queria que tudo pudesse ser como a gente fazia antes... Quando a gente simplesmente jogava papo fora e não tinha nada de ruim entre nós, nada mesmo, era tudo uma brincadeirinha sem que arcassemos com as consequencias, era tudo bobagem, era tudo besteira... Era tudo tão facil e agora tudo parece um pesadelo... Você se foi e nem quis se despedir, você partiu e nem olhou pra trás, nem pediu para que eu te acompanhasse e me deixou sozinha... Sentada numa escadaria em Paris, durante uma tempestade de neve, esperando alguém que nunca iria chegar, sentia o clima todo gelado e não podia enxergar nada além do que gostaria... Sentia os pés congelarem, as mãos esfriarem e o corpo estremecer, procurava com olhos famintos e meio embaçados por uma forte tempestade que não parecia querer cessar... Era uma guerra entre eu e ela e no fim, era você.
 Talvez eu pudesse lhe escrever milhares de coisas com a intenção de lhe fazer chorar de felicidade por saber que existe alguém que se importa até mesmo com o ar que você respira, no entanto, não o farei, ficarei calada guardando cada minima palavra que ainda me resta para deixar bem claro que no final das contas eu me esforcei demais e não me arrependo... Eu fico feliz por hoje ser o seu grande dia, apesar de me encomodar MUITO o fato de você nem sequer fazer questão de eu estar contigo, mas mesmo assim, quero te desejar tudo de bom, felicidades e muitos anos de vida, que você se forme logo e realize a vida inteira que você tem pela frente e eu espero que um dia faça questão de mim como antes fazia... Ou se não fizer, tudo bem, eu acho que preciso aprender a viver assim...

 Feliz aniversário. Amo você.
Sim, ainda amo você. Demais.

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30 de Novembro: a tão sonhada véspera.

 Estou atormentado. Sério, estou bem atordoado. Amanhã já é o seu aniversário e o que mais me encomoda é saber que você não gostaria de passa-lo comigo, como eu sempre imaginei. Você está longe e está tão obcecada em passa-lo com seus amigos, em se divetir com Ela que nem se preocupa com mais nada. A sua garota, não? O amor que você tanto queria, sua alma gemea talvez... E me pego imaginando se estava certo quando pensei que nós não serviamos um pro outro, sinceramente, eu pensei certo? Eu estava mesmo certo? É uma pena eu não acreditar nisso realmente, sabe-se lá como, ainda sou apegado a você mas você nem se importa mais. Doloroso? Sim, acredite, bem doloroso. Mas de que adianta me sentar nesse quarto vazio e desarrumado, com todas essas cartas atiradas pelo chão, rasgadas e rasuradas embora eu tenha escrito muitas coisas que te agradem, mas não fazem mais sentido! Aonde foi parar tudo aquilo que nós sentiamos antes? Quando você ainda sentia prazer em me chamar de 'seu'? Isso vai doer pra sempre? Eu gostava de sentir dor, mas agora eu não quero mais, eu quero você longe de mim... Ou talvez perto de mim. Meu orgulho te rejeitará assim como negará todas as pequenas coisas que aconteceram... Pequenas memórias, eu sei, bonitas... Jogadas no lixo num papel azul escrito com recortes que no fim de todos os anos, vou continuar te amando.

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Beco sem saída.

 É involuntariamente e é indiretamente que eu saio te procurando de bar em bar. Não sei, eu nego até para mim mesmo que estou atrás de você, que quero saber por você, que quero ouvir seu nome, ouvir sua voz e acreditar que tudo estava bem, embora eu saiba que é o contrário. É sem querer, eu não pedi por isso, eu não queria isso, eu imploro para que seja tudo como eu quero mas é inevitavel: Você está na minha vida do mesmo jeito e eu não sei te colocar para fora dela como se não houvesse nada! É impossivel! Eu berro todas as noites, em solidão, no silêncio da escuridão, tentando lhe esquecer, tentando colocar no passado tudo de ruim que você me causou e eu me pego preso em um beco sem saída. Aonde estou? Quem sou eu? O que estou fazendo? Por que estou perdido? Por que você? Por que tornar as coisas mais dificeis? Por que ainda existem esperanças? Por que meu orgulho falha toda vez que você profere o meu nome? O que está acontecendo comigo? Isso nunca havia sido tão dificil! Uma semana já era o suficiente para eu esquecer tudo aquilo que me fazia mal, que não me importava mais, mas agora parece uma eternidade, você se perde por aí e eu vou de bar em bar atrás da menina dos cabelos vermelhos novamente... Aonde vou parar? Aonde vou chegar? Eu tenho olhos verdes que olham pra mim como ninguém nunca olhou mas... O que estou fazendo? Isso parecia tão facil antes que eu realmente me pego e confesso em silêncio que desaprendi... Sei lá, desaprendi o desapego, desaprendi de tudo que eu sabia antes de ter você... Parece que quando você se foi, levou tudo consigo, minha identidade, minhas chaves, meus olhos, minha mente e meus lábios... Minhas palavras que não são mais rimadas.

PS: Ninguém vai te amar do jeito que eu lhe amei... Ninguém.

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A garota da tempestade de Dezembro. II

 Os dias se passaram e a gente continuava a se encontrar alí, sei lá, ela não sabia meu nome e eu não sabia o dela, mas conversavamos. Pareciamos nos conhecer há tempos e até a noite de natal, que sempre fora um inferno para mim, eu passei com ela, sentado naquele banco e justamente no dia em que havia criado coragem para chama-la para ir tomar um vinho, ela não apareceu. Esperei dias no mesmo lugar e nada dela, ela havia sumido e eu não sabia para onde aquela garota dos olhos verdes havia ido, não sabia aonde ela se encontrava e não sabia como procura-la, afinal, nem sabia seu nome.
 Meses e meses foram passando, Maio já estava próximo e meu aniversário estava chegando, eu continuava a ir todas as noites para aquele mesmo lugar para ver se a encontrava novamente e nada dela, sumira por meses e quando decidia procura-la, eu não fazia idéia de como encontra-la pois não sabia nem seu nome e meus dias infelizes pareciam voltar, sem a companhia dela, sem os olhos dela.
 - Boa noite. - Ouvi uma voz grossa ao meu lado enquanto estava sentado, outra noite, a espera dela.
 - Boa noite...
 - Está esperando alguém? Vejo você aqui todos os dias e... Fico me perguntando se está a procura daquela garota de olhos verdes que sempre vinha por aqui.
 - Sim, sim! Eu queria saber por ela, mas nunca mais a vi e nem o nome dela eu sei. - Abaixei a cabeça enquanto observava a grama verde daquela praça.
 - Eu sei quem ela é e ela já me falou de você. - Olhei para o lado e observei, era um cara magrelo, com cabelos meio bagunçados e olhos verdes como os dela.
 - Co-como assim? - Perguntei já bastante confuso.
 - Era a minha irmã. O nome dela é Sophie.
 - So-Sophie? E o que aconteceu com ela? Por que ela sumiu? Ela... Ela vinha aqui todos os dias e agora... Eu nunca mais a vi e eu... Queria saber por ela. - Disse engasgando as palavras.
 - Imaginei que você fosse dizer isso. - Ele suspirou profundamente, fechou os olhos e logo se lamentou. - Minha irmã faleceu há alguns meses em um acidente, vindo para cá e como ela havia falado de você, eu achei que deveria procurar quem era o cara que fazia com que ela sorrisse de um jeito muito especial, embora ela nem soubesse seu nome também e pelo visto, ela causa o mesmo efeito em você. - Senti meu mundo desabar. A menina do banco, a menina de Dezembro, a menina do natal, a menina do sorriso, a menina dos olhos mais lindos desse mundo havia ido embora como todos os outros fazem, dei um longo suspiro e não pude conter. Eu não precisava saber seu nome para descobrir que a amava, eu simplesmente soube que era ela desde o momento em que eu a vi, que eu bati meus olhos naqueles verdes cor-de-mar que me deixaram perdido. Eu não sabia o que dizer, eu não sabia o que fazer e as lagrimas fugiram.
 Voltei para minha casa, acendi meu cigarro e dei longas tragadas. Estava sozinho novamente. Estava sem Sophie, estava sem nada, estava perdido e estava infeliz. Tomei meu café assistindo a minha própria miséria, enquanto fumava meu último cigarro. Meus olhos avermelhados de tanto chorar não correspondiam a mais nada, não piscavam e não demonstravam expressão, talvez tenha sido tarde demais. Talvez eu devesse ter convidado Sophie para um café muito antes disso acontecer. Talvez eu tenha perdido tempo demais e talvez eu estivesse perdido sem saber me encontrar. Traguei meu cigarro novamente e me perdi em pensamentos.
 Assim que acordei, na manhã seguinte, subi para meu quarto pois havia adormecido no sofá e me sentei na cama, eram por volta das sete horas da manhã e eu não precisaria ir trabalhar hoje, era a minha folga. Olhei para as paredes de meu quarto e resolvi escrever coisas nelas e em menos de algumas horas, as paredes estavam cobertas por frases, desenhos e mais trilhares de coisas que eu havia colocado nelas, a dor era tanta que eu decidira continuar.
 Desci até a cozinha para tomar uma agua e quando dei o primeiro gole, senti aquele ódio enorme. Era saudades, era a vontade de voltar atrás e refazer a besteira que havia feito, atirei o copo contra a parede e com os estilhaços que restaram, apertei-os em minha mão, cortando-a inteira e sem me importar com os ferimentos, voltei para meu quarto e procurei por uma das frases, aquela que dizia que eu havia amado sophie como nunca havia amado ninguém, era meu inverno, meu Dezembro, meu natal e meus olhos cor-de-mar. Passei a mão ferida por cima das palavras e destaquei a parte em que eu dizia que a amava.
 "Sophie, de todos os olhos cor-de-mar que eu já encontrei, o teu era o mais lindo, de toda a neve que encontrei, a tua era mais bela, de todos os natais que já passei, contigo era mais quente, em todos os Dezembros que morri, o teu fora o que eu sobrevivera, de todos os pensamentos que eu tinha, o teu era o mais lindo, de todas as vozes que ouvira, a tua era a mais musical, de todas as músicas que conhecia, a tua era a mais melodiosa, de todos os amores que tive, fora o unico que realmente amei. Desculpe se demorei para te chamar para um café, para uma noite de amor, para uma noite de poesia, de almas que se encontravam, tive tanto medo que deixei com que ele me levasse para longe, longe de você, do seu abraço, do seu amor e só pude saber quem eu era agora que você se foi. Quero te encontrar. Sophie... Minha querida Sophie numa tempestade de neve no dia 21 de Dezembro de 2006."
 O sangue escorria de minhas mãos e pingavam no chão de meu quarto, colorindo-o com a cor da morte. Dei um suspiro, peguei meu cigarro e fui atrás de qualquer coisa, mas não voltei para casa... Eu fui me encontrar com Sophie em algum lugar... Não sei aonde, mas sei que nunca mais voltei...

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A garota da tempestade de Dezembro.

 A neve caía lá fora, lenta e serena enquanto eu a observava da janela de meu quarto. Aquela madrugada estava gelada e a casa estava vazia. Estava perto do natal, faltavam apenas alguns dias e eu continuava ali, acompanhado do meu cigarro que queimava lentamente no cinzeiro e do meu café, já frio, que continuava exalando seu cheiro pelo quarto, dei um longo suspiro, resolvi por o cigarro na boca, coloquei uma roupa mais apropriada para aquele frio e apaguei a luz, desci as escadas e quando abri a porta da sala, senti aquele vento gelado me tocar, dei um trago no cigarro e resolvi encarar o frio que lá fora fazia.
 Andei pelas principais avenidas daquela cidade coberta com aquela substancia branca e gelada, procurando alguma resposta, talvez algum boteco, talvez alguma coisa que pudesse me fazer esquecer da vida de merda que eu levava, segundo após segundo e continuei caminhando sem direção alguma.
 A neve se tornou mais intensa e eu continuava andando, resolvi me sentar em um banco numa praça e observar as crianças que por ali corriam, mesmo com uma tempestade a frente, elas se divertiam, riam e os pais as observavam com atenção, enquanto conversavam ou se abraçavam. Não entendo porque o natal tem que ser tão feliz, pessoas como eu, amarguradas e frustradas, passam dias como esse assim: sozinhas. Dei um longo suspiro, me perdendo em meus pensamento até uma voz me interromper.
 - Não acha que está meio tarde e meio frio para ficar aqui sentado? Parece estar a espera de alguém. - Virei meu rosto em direção a voz e logo encarei aqueles olhos verdes que me fitavam, não os conhecia de lugar algum mas eles pareciam me conhecer.
 - Com licença, está falando comigo?
 - Sim, estou. És o único sentado nesse banco a espera de um milagre. - E arqueou sua sobrancelha. - Não deveria estar em casa comemorando a chegada do natal com sua familia?
 - Eu não tenho familia e não tenho ninguém, a propósito, por que tantas perguntas? Quem é você?
 - Alguém que está observando essa sua melancolia aparente. Vai ficar aí mesmo passando frio?
 - Quem se importa?
 - Talvez eu me importe. - Olhei para ela, confuso. Quem era ela? De onde ela surgiu? Por que queria tanto saber de mim? Por que tantas perguntas?
 - Quem é você e por que está fazendo esses joguinhos? Eu não gosto disso. - Perguntei um pouco nervoso.
 - Eu sou alguém como você. - E sorriu. - Também me sento nesse banco todos os dias a esperar alguma coisa que nunca vem. - Me calei enquanto fitava-a com curiosidade, fiz uma expressão confusa.
 - Certo, então por que não se senta e esperamos juntos?
 - Achei que nunca fosse pedir. - Sorriu novamente, sentou-se ao meu lado e juntos passamos a madrugada inteira, debaixo daquela neve congelante a conversar, ela me dizia coisas e eu a dizia coisas mas nem sabia o nome dela, talvez fosse desnecessario. Na verdade, nunca soube o nome dela, mas me sentava naquele banco todos os dias, na mesma hora só para encontra-la por lá.

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Sonho de inverno.

 Era inverno, nevava muito e eu observava a cidade iluminada pelo vidro transparente da sala. Os carros corriam e procuravam alguma direção e eu continuava perdida, com uma taça de vinho na mão, observando de longe a torre eiffel. Deveria ser por volta da meia noite, sei lá, estava um pouco tarde mas os flocos de neve caindo me encantavam cada vez mais, enquanto dava longas goladas naquela taça, não tirava meus olhos sedentos daquelas luzes tão maravilhosas, daquele lugar tão encantador.
 - O que está fazendo aí ainda? Vamos sair! - Ela me acordou para a vida, deu seu sorriso mais maravilhoso enquanto me observava de longe, sorri e não pude deixar de reparar o quanto era linda, o quanto ela se ajeitava para todas as vezes que nos viamos. Era maravilhosa, encantadora e eu não tinha duvidas de que era ela, de que era só ela.
 - Estou indo, estava apenas observando... Bem, os carros.
 - Ai, poderia se esquecer deles por um instante e sair comigo, não?
 - Sim, claro! - Peguei meu casaco e abandonei a taça em cima da mesinha de vidro ao lado do sofá, dei um sorriso para ela e logo me vesti, fomos de mãos dadas andando pela cidade-luz sem rumo algum e não, não estavamos preocupadas em nos perder.
 Andamos por um bom tempo e ela continuava com aquele sorriso meigo no rosto, observei aquilo praticamente o caminho inteiro e talvez agora eu tivesse certeza de que devia dizer a ela o que estava realmente sentindo, o que precisava mesmo ser dito.
 - Tem mais um lugar aonde eu queria passar antes da gente ir...
 - Que lugar? - Ela me olhou, curiosa.
 - Vem comigo. - Fui guiando-a até lá e quando nos aproximamos, sentamos em um banco qualquer que estava de frente para a torre eiffel, dei um sorriso.
 - Gosto desse lugar.
 - É, é maravilhoso! Mas por que me trouxe aqui?
 - Tem algo que preciso te dizer. - Olhei para ela com uma expressão séria e aquele sorriso no rosto dela, sumiu em instantes, ela me olhava aflita e parecia não encontrar palavras. Levantei-me e logo fiquei a frente dela, ela continuava sentada, me observando com atenção, pedi sua mão e logo fomos andando em direção a torre, ela continuava calada e eu também e assim que chegamos, quebrei o silêncio.
 - Posso dizer?
 - Estava esperando que me dissesse já faz um tempo... - Olhei para ela que agora parecia mais aflita, ajoelhei-me enquanto ela me observava e logo tirei uma caixinha do bolso.
 - Talvez agora tudo o que a gente passou mude e eu sei que é o momento certo de te dizer que quero me casar contigo, se você também quiser. Você é a minha Victoria e eu tenho me sentido a melhor pessoa do mundo quando estou ao seu lado, eu tenho vontade de crescer sempre mais e lutar cada dia mais pelo que quero, pelo que amo, não tenho medo de perder e nem vontade de desistir, porque eu sei que se meu dia for ruim, eu vou voltar pra casa e vou te ver sentada na poltrona, sorrindo e vindo me abraçar em seguida, sem me perguntar nada, apenas vai tirar toda a dor que eu sinto e tudo vai ficar bem, eu não falo francês portanto... Scusa ma ti voglio sposare. - Ela abriu o maior sorriso do mundo e coube a mim tentar saber o que ela diria... Talvez aquela noite fosse a mais perfeita, talvez fosse a pior de todas mas não, ela disse tudo o que eu precisava ouvir.
 - É claro que sim, meu amor. - E sorrimos. A noite acabou assim, única, perfeita, sem nenhuma duvida e com uma vida inteira pela frente. Minha Victoria, era só você e eu.

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Eu e ela, ela e eu.

 Era uma madrugada fria lá fora, o vento batia na janela e ecoava nas paredes geladas do meu quarto, trancado e abafado. O café, que há pouco estava quente, agora exalava todo seu odor pelo quarto, cada vez mais frio, acompanhado pelo cinzeiro que ainda possuía um cigarro apoiado, ainda aceso, com marcas de palavras, de dedos e de histórias que por ali já passaram, queimava livremente cegando-me com a sua fumaça intensa. Meus olhos avermelhados observavam a escuridão e a brasa do cigarro que ainda me trazia alguma esperança. Sei lá, esperança de alguma coisa nova acontecer. Eu me sentava no chão e observava o mundo girar ao meu redor, perdia meu tempo esperando algo, como se fosse simplesmente aparecer de uma hora para a outra, sem me lembrar de que não valia a pena hesitar por boas noticias.
 A vida continuava, eu fazia tudo novamente, minha rotina era tão repetitiva quanto as histórias clichês das novelas da televisão. Fazia tudo igual, tudo como no dia anterior e assim eu andava, distraído, sem esperar mais nada dessa vida que só me trazia miséria e acreditava que meu destino estava perdido, embora tivesse um pouco de esperança de encontrar algo que me fizesse bem, da forma que eu tanto esperava.
 Suspirei ao me lembrar de tudo que se passava. O cigarro já se apagara e o café continuava esfriando, cada vez mais, perdendo toda a sua essencia com o passar dos minutos e eu sentava alí, com olhos tristes e sedentos, esperando por outra melancolia, esperando por algum desastre, esperando por alguma coisa que não fazia idéia do que.
 Fechei os olhos e quando eu os abri, nada vi. Fechei os olhos e os abri novamente e foi então que eu a vi. Singela, sincera de olhos tão sedentos quanto os meus. Ela estava na minha vida já fazia tanto tempo e eu nem sequer pude notar e depois daquele dia, o cinzeiro passou a ficar com uma dupla de cigarros acompanhados por uma dupla de xicaras, com o café esfriando e ela se sentava ao meu lado para esperar o tempo passar, até segunda feira chegar que era dia de trabalhar. Ela se sentava ao lado meu, deitava sua cabeça no meu ombro e dizia que iria me acompanhar. Eu sorria, meus olhos ainda eram avermelhados mas a olhavam com infinita ternura, ela me beijava os lábios como ninguém e quando era hora de se despedir, pedia para que eu não fosse e os dias amanheciam assim, ela comigo, eu com ela, cafés frios e cigarros apagados no cinzeiro. Ela na cama e o quarto cheirando a sexo, porque agora eu entendia o que era sentir algo e sabia que ia muito além da alma. Eu sabia que ia muito além de nós. Eu sabia que era ela e ela sabia que e era eu. Sei lá, talvez tudo fizesse um pouco mais de sentido agora, mas quando o dia amanheceu e eu decidi mudar para sempre, escrevi na palma da mão dela: "Victoria minha, vou partir pela manhã, mas volto a noite, volto a noite para te proteger, para te amar, para te cuidar. Victoria minha, eu sentirei sua falta durante as longas horas do dia." e a beijei. Quando o fim do dia chegou, tudo recomeçou. Era ela e era eu.

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Rancores, bilhetes e lembranças de uma carta de um passado qualquer.

 Pensei que naquele instante tudo se resolveria. Tudo ficaria bem e acho que acabei por me enganar: Nada ficaria bem.
 Dei meia volta, cocei a nuca, tentei organizar todos os pensamentos turbulentos dentro de minha cabeça, embora fossem inuteis e não me ajudassem em nada, tentei esquece-los, tentei tirar de mente tudo o que me aflingia naquela madrugada, tentei esquecer as palavras que já me fizeram tão bem e agora me causam tanta dor.
 - Maldita dor! - Gritei comigo mesmo enquanto surrava as paredes do meu quarto, brancas, fortes e altas que talvez tentassem me levar a algum lugar: desespero e não havia nada que pudesse me salvar. Era tanto medo, era tanta frustração, era tanta paixão e decepção que acabava por me aflingir cada dia mais. O que estava acontecendo comigo? Bem, eu estava a beira da loucura, afinal os cigarros já não me acalmavam mais e o alcool não me fazia esquecer de nada, eu apenas sorria fingindo estar bem, mas será que eu estava realmente bem? Não sei.
 Foi aí então, que ela me apareceu. Ela chegou com um sorriso e me olhou nos olhos como nunca. Parei para observa-los porque eram tão verdes quanto as aguas mar. Eu gostava do mar, me trazia paz e os olhos dela me lembravam exatamente isso: paz, tranquilidade. Eu apenas a observava enquanto ela sorria e dizia, com a voz mais doce e suave desse mundo inteiro, que iria cuidar de mim e que eu não precisava mais me preocupar, podia ter fé no amor agora, podia crer porque ela era quem eu esperei esse tempo todo.
 E terminamos a noite assim, ouvindo first date na maior altura na grama numa madrugada bem fria, enquanto nos olhavamos, riamos, bebiamos e fumavamos algumas coisas. Ela me olhava e o mundo parecia parar, ele se calava e as estrelas se apagavam para ver os olhos dela brilharem e então ela dizia:
 - Ter medo pra que se a gente pode se aventurar?
 E eu concordei que ela estava certa, eu queria me aventurar, só não sabia para onde, mas iria aonde ela quisesse me levar e logo tive a certeza... Pra quem não sabe, por que não se aventurar? Eu já sabia mas ainda assim queria ir longe com ela.

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Victoria.

 Seu nome já diz o que realmente é. Victoria.
 Dos meus dias, das minhas noites e dos meus pensamentos.
 Inteligencia e tantos defeitos em comum que se escondem atrás desses olhos verdes que eu gosto tanto, embora nunca tenha os visto assim, de perto, como queria.
 Gosto de pensar que somos assim, Victoria, um dia só, numa noite inteira. Talvez possamos ser uma madrugada qualquer, numa estrada qualquer, acompanhadas por um bom vinho e pelas constelações que nos iluminam.
 Penso em você, como escrevo poesia, seus olhos são labirintos cheios de mistérios e quero tanto desvenda-los que poderia ir além das coisas mais grandes do universo, além do sol para descobrir o que tanto quero nesse olhar.
 E sua voz, tamanha melodia para minha orquestra, que parou de cantar canções solitárias no instante em que você me apareceu. A melancolia foi embora, pediu carona e a miséria se aproveitou.
 O tempo voa, o tempo vem, o tempo corre como nunca, os dias passam e eu espero por você, aqui, em algum lugar dessa cidade escura e acinzentada. Espero um sinal seu para que pare de chover e que o dia clareie como antes, sem frio, sem dores e sem rancores.
 Chegou, Victoria, mistério da minha poesia, da minha rima, você chegou, e agora?
 Faço por que te quero, Victoria, faço você um pedacinho da minha poesia, escrita num lencinho branco cheio de rasuras e imperfeições.
 Escrevo pois não sou perfeita, erro também, mas encontrei você.
 Acertei tanto quando te encontrei que nem pude deixar de notar que sempre foi você.
 Victoria minha.

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Minha nova paixão.

 Perdi o sono. É, perdi o sono. Depois de me deitar e rolar na cama, sem tentar pensar em mais nada para ver se conseguia invadir novamente o meu interior, sem nenhuma dor, sem nenhum rancor e sem nenhum medo de encontrar o que estava por vir.
 Acho que brinquei demais. Sei lá, reclamei demais e o destino acabou por me surpreender, justamente porque estava na hora de parar de sofrer e finalmente sentir todas aquelas coisas bobas que há muito tempo eu não sentia. Sentia tanta dor que havia me esquecido de como era bom virar a noite pensando em alguém e em como esse alguém te faz bem, em como tudo aconteceu e nos trouxe até aqui.
 De certa forma, em meus sonhos, haviam um par de olhos verdes que me observavam atenciosamente e com tanta ternura que era de se invejar. Tive a maior vontade de beija-los e de fecha-los, abraça-los e envolve-los numa valsa infinita, aonde ninguém pudesse ir embora, aonde a música nunca parasse de tocar e por fim, nos apaixonar. Era tudo tão magico que parecia ser utópico e parecia me assustar. Gostava tanto daqueles lábios e daquela voz que eu tanto imaginava na cabeça e não poderia nem fazer idéia de como ela realmente era e mesmo que não fosse doce, seria o eco das minhas noites em claro.
 Brincamos de fingir, de nos abraçar, de conversar bobagens até o amanhecer e acabamos por cair no caminho contrário do que se esperava e ninguém diria nada. Quem diria que o nosso amor seria assim, eu e você, você e eu, quem diria que o meu amor seria você? Por tanto que já passamos, é a prova concreta de que o amor não escolhe a pessoa certa pra acontecer, ele simplesmente acontece e quando eu fui abrir meus olhos, eu já sentia tudo aquilo de novo e era tão magico quanto das outras vezes.
 Será que seu instinto geminiano e meu defeitos taurinos vão se completar? E que ainda vamos ser felizes, custe o que custar? Hei de saber que minhas palavras não serão mais melancólicas e sim magicas, só pelo jeito om que você faz com que eu me sinta.
 Bobo? Não, não. É paixão. É você e eu. Eu e você.

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Amanhã pela manhã.

 Vou partir pela manhã. Não vai demorar muito até o sol chegar, portanto eu vou partir pela manhã.
 Vou levar comigo o que restou, o resto eu perdi. Perdi tudo, perdi razão. Perdi meu chão.
 Amanhã pela manhã, lá pelas cinco e meia da manhã, estou com as mãos nos olhos e os pés nas estrada, a procura de algum lugar para recomeçar, para ficar, para me adaptar, para mudar.
 As lagrimas vão secar quando tudo passar e eu vou pedir pra sorrir, implorar para aprender o que desaprendi, vou atrás do que me convem e vou abandonar o sofrimento que você me deixou. A miséria que eu vivi, o suicidio e a raiva que eu senti.
 Amanhã de manhã eu vou embora, não, não tenho hora. Não me peça para ficar pois não vou ficar, a dor é maior, o dia é mais alto e você vai pedir da boca pra fora. Quem foi que disse que isso me comove?
 Vou-me embora e não volto mais! Não volto atrás. Não me mande noticias suas. Não quero cartas. Deixe-me ir atrás do que preciso, deixe-me mudar o que é necessario e deixe-me viver como antes vivia. Antes de você, antes de nós duas. Deixe-me voltar a ser o que era.
 Estou partindo hoje de manhã e não volto mais para essa cidade, estou deixando aqui tudo de ruim que me aconteceu. São bagagens desnecessarias e não aceitam melancolia no meu voo.
 E pra onde o mundo me levar, aqui vou eu.

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Velha infancia.

 Hoje eu quis brincar de não me importar, fingir que nada me atingia e que tudo não passava de uma brincadeira. Os falsos sorrisos que dei, as palavras que proferi e a vida que vivi são fantasmas do que me restou. Tentei brincar com mascaras mas no meio do baile, meu final feliz fugiu, se acidentou e tudo acabou. Tentei brincar de amar alguém mas não sabia as regras certas, brinquei de me apaixonar, brinquei de mandar flores, brinquei de me magoar e de me iludir. Brinquei com tanta gente e acabei por deixar pra trás tudo o que eu tinha.
 Hoje eu quis brincar de voar, tentei ir tão alto e acabei por cair no chão, alguns anjos debocharam de mim e descobri que tirar meus pés do chão não seria mais uma boa idéia, portanto fui brincar de andar descalço, pois o sapato me apertava o pé e eu queria liberdade desse cantinho tão fechado que parecia me proteger. Quis brincar de te esquecer, no entanto me esqueci que não sei esquecer você e fico calada nas madrugadas de domingo a cantarolar uma canção qualquer que me lembrasse o fato de esquecer você.
 Hoje eu quis tentar sorrir, mas desaprendi o que isso realmente significava. Quis brincar de abandonar tudo e me lembrei que já estava sozinha. Quis brincar de tentar confiar mas nunca gostei desse tipo de brincadeira, pois sempre saí com o joelho ralado no final. Quis brincar de perder você mas acabei por chorar de medo antes do fim.
 Hoje eu quis brincar com você, usei uma mascara e você não, dancei sozinha no baile e você só observou, tentei sorrir mas ninguém viu, nem você. Tentei fugir mas não deixei, voltei pra te olhar e você estava tão bem e parecia ver o mesmo em mim. Tentei dançar de novo mas as lágrimas não quiseram. Tentei voltar, tentei brincar e acabei por descobrir que não era mais criança. Eu não sabia mais brincar. Brincar de amar, brincar de viver, brincar de esquecer, brincar de sentir ciumes de você. Brincar de ter você.

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Pinturas, paredes e lembranças.

 Lagrimas escorrem por todos os lados, por todos os cantos da casa. O silêncio paira e a escuridão da madrugada me acolhe, me envolve e me cega. Nas paredes, restos de memórias. Fotos rasgadas, marcas de algo que já significou tanto e agora não parece ser mais nada. A luz vermelha, acesa em um dos quartos, ilumina parcialmente as paredes com aquelas fotos. Lembranças de você que um dia já fez parte desse lugar, lembranças de uma ilusão que eu costumava acreditar. O cigarro continua queimando no cinzeiro espalhando a fumaça pela casa inteira, que chorava aos prantos a tristeza de um crime sem perdão, a noite gritava lá fora enquanto eu continuava cega, tentando enxergar as fotos em vermelho vinho que já me fizeram sorrir como ninguém e agora me rasgam como se eu fosse uma simples folha de papel, amassado, rabiscado, sem utilidade alguma, deixado e abandonado.
 Minhas mãos, geladas, tocam as fotos enquanto a luz se apagava. O escuro tomou conta de todos os comodos daquele apartamento, deixando-o completamente vazio mas quem se importa? Estou sozinha de qualquer forma e ninguém pode me ouvir, ninguém pode me ver, ninguém precisa saber o quanto isso dói e me corrói a cada dia que passa, eu finjo tanto estar bem mas só finjo. Eu minto tão bem para mim mesma que as vezes, consigo acreditar e aí a gente brinca de fingir. O barulho do vento tentando derrubar as janelas me tira de meus pensamentos profundos e decido que é a hora certa de apagar de vez. Uma garrafa com gasolina e o isqueiro na mão, vou espalhando o liquido por todo o apartamento e quando termino, olho pela ultima vez com carinho cada lembrança que restou de nós. Coisas que você nem se importou e coisas que eu gostaria de nem ter me importado, datas bobas, coisas bobas que me faziam crer que por um instante, eu era o que você sempre quis. Acendo o isqueiro e sem mais delongas, o calor do fogo se espalha pela casa, flamejante, quente, poderoso, apagando todas as lembranças que um dia estiveram naquelas paredes e todas as fotos vão se incendiando e virando cinzas como o que restou em mim acabou por se tornar... O calor acaba por me envolver e pela ultima vez, dou adeus as cinzas de nós duas.

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Histórias de bar.

 Era sabado. Tipico dia de sair com os amigos para comemorar qualquer banalidade, ou melhor, uma desculpa para encher a cara, se divertir e sair beijando todo mundo... Afinal, era para ser divertido, não? Não estou lembrado da parte em que fazer todas essas coisas não fosse divertido.
 A noite logo chegou e com bebidas indo e vindo, não demorou muito para que eu começasse a me sentir tonto. Alegre demais, feliz demais, emoções demais com o alcool que adentrava meu corpo naquele instante, era perceptivel o que eu escondia, mas quem é que se importa? Nessa altura, as pessoas já não estão preocupadas com o que as encomodam. Elas bebem, se deprimem e vomitam no dia seguinte. Exatamente como eu fiz e não demorou muito, depois de péssimas noticias naquela madrugada, resolvi embarcar em um barzinho fedido e acabado, que tinha uns letreiros azuis, uns já nem acendiam mais. Bar da motota, sei lá, algo assim. Entrei e logo me deparei com aquela sujeira que ninguém parecia se importar. Alguns sentados no balcão bebendo suas bebidas e contando suas histórias, outros jogavam sinuca, outros beijavam mulheres e outros contavam vantagem com suas putas que mais pareciam travestis. Sentei-me em um dos bancos do balcão e comecei pedindo o whisky mais porcaria que eles tinham, bebi aquela merda como se fosse remédio e assim fui repetindo as doses, da mesma forma da primeira.
 Assim que fiquei bebado, fui em direção ao banheiro. Havia um espelho rachado, me olhei nele e pude ver aqueles meus olhos cor de mel avermelhados, cansados, infelizes e meus cabelos escuros, bagunçados, barba mal feita, camiseta mal abotoada e suado. Saí de lá rapidamente e voltei para minhas bebidas, bebi um vinho barato e passei a observar os homens e as suas histórias. Muitos eram caminhoneiros e contavam das mulheres que conheceram em cada capital e eu, que não conhecia varias delas, amava uma só, que acabava com tudo o que me restava. Acendi um cigarro, um marlboro red, forte, traguei e continuei assim. Alguns já estavam caindo de bebados e vinham perguntar o que diabos eu fazia naquele lugar, quem era eu, o que eu queria, por que estava me sentindo assim... Eram tantas perguntas, tantos por ques que pra mim já não fazia mais diferença, eu não me importava comigo mesmo há dias.
 Acordei na segunda com uma dor de cabeça desgraçada, ressaca, vomitando muito e com aquele mal estar dos infernos, resolvi dar de ombros e assim que o sol se foi, parti para o mesmo bar e meus dias foram assim até na quarta feira. Aquele sertanejo horrivel ainda me encomodava e aquele cheiro de vomito, de sujeira ainda estava empregnado em meus nariz, contudo eu não me importava.
 Um velho caminhoneiro sentou ao meu lado na quarta feira e...
- O que um rapaz como você faz num lugar desses? - Quis dar de ombros e fingir que não tinha ouvido nada, de que interessava a ele?
 - Tá sofrendo, meu garoto? Sei como se sente. Quem é ela? - Continuei calado, dando longas goladas em meu copo de whisky, sujo.
- Existia uma mulher na minha vida... O nome dela era Mariana. Mar e ana. - E sorriu ao lembrar-se de sua própria história, continuei da mesma forma, por mais que estivesse interessado em sua história.
- Mariana era uma linda garota que conheci quando viajava para Goiania. Eu tinha tanta carga para entregar naquele raio de cidade e ela me apareceu. Na estrada. Mariana era de todos os homens que por ali passavam e estivessem dispostos a ter o prazer de lhe conhecer. Era linda. Alta, cabelos negros, longos, olhos verdes flamejantes e envolventes. Eu tive que parar quando bati o farol naqueles olhos e ela simplesmente sorriu. Me acariciou e me amou a noite inteira. Fui um homem de verdade e descobri que a amava. Fui atrás de Mariana tantas vezes mas nunca consegui encontra-la... Soube então que havia falecido num acidente perto dali, fora vitima de seus próprios pecados, do seu próprio pudor e eu nunca pude ter a chance de pedi-la em casamento. Ela me contou sua história e deixou que eu lhe contasse a minha. Ela me ouviu. Ela me ouviu com tanta atenção que nas noites de verão, eu sinto saudades e toco minha gaita pensando nela. Todas as vezes que passo por aquela estrada, eu ainda vejo aqueles olhos verdes, parados, esperando por algum sinal, por mais alguma vitima de seus prazeres intensos. Vitima do seu amor, vitima dela. Vitima de mar e ana. - Não pude deixar de sorrir e via que seus olhos se encheram de lágrimas e logo pensei que talvez fosse assim que as coisas acabavam por ser... Ele tinha Mariana, eu tinha Nayara que nunca me amou... Quantas noites embriagado eu passei por esse bar de letreiros azuis que me lembrava a minha maior derrota... A minha maior perda. O meu triste fim.

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Wrong place, wrong time, wrong ideas...

 We're not mean to be, but I want it and it hurts.
 (...)
 And you don't give a shit 'bout it.

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Porque era ela, porque era eu.

 Depois de tudo pelo que ela havia feito com que eu passasse, eu a deixei ir, sem brigas, sem choro e sem nada, eu apenas me conformei com o que considerava certo e deixei que ela atravessasse a porta sem nem dizer adeus... O adeus já havia acontecido há muito tempo e eu nem percebera.
 Dias se passaram desde que nossa enrolação de dois anos e alguma coisa finalmente tivesse acabado. Eu estava bem, eu estava lucida, não queria saber de bebidas e nem de magoas. Eu parecia estar tão bem que conseguia acreditar naquelas risadas que dava, embora muitas vezes, soassem falsas.
 Ela veio me procurar uns dias depois, disse que precisava de ajuda e logo todo aquele sentimento de 'independencia' havia se tornado algo fragil, disse a ela que não precisava se preocupar, eu estaria ali sempre. Quando amamos alguém, não abandonamos assim, nós continuamos, embora precisasse abandona-la, eu não queria, eu não seria capaz de faze-lo, mesmo que ela me magoasse novamente no final de tudo, quando estivesse recuperada.
 Abri os braços e disse que ela poderia vir, estaria com ela independemente do que fosse, não a abandonaria de forma alguma. Parecia que ela realmente precisasse de mim e por mais que eu não precisasse de mais melancolia na minha vida, aceitei a condição de faze-la sorrir novamente.
 Eu disse, eu repeti e trepensei sobre isso: Não vou te abandonar.

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Inverno em NY.


Era 1930, a neve caía com certa intensidade na times square enquanto eu observava um cadillac v-16, preto, andar lentamente pelas ruas brancas, num eterno brando, cobertas pela substancia gelada que também cobria meus sapatos. Usava um chapéu panamá preto, que combinava com o meu sobretudo e com o meu terno, que era tão sedento quanto eu. Acendia um cigarro, um marlboro e não consigo me esquecer, a fumaça subia e o movimento continuava intenso.
 Andei um pouco e finalmente pude encontrar o bar de Moretti, que estava cheio de almas solitárias, como a minha, que usavam seus olhos para outros males que talvez nem me importasse muito, entretanto, estávamos todos afogados no mesmo copo de whisky, sim, o mais barato que tiver ou talvez o mais caro do cardápio.
 Fui até a porta dos fundos, alguns me olhavam de forma curiosa enquanto eu os encarava com tamanha frieza, dessa forma, nem parecia ser um homem vazio, infeliz pra caralho, em busca de qualquer merda que me tirasse dessa vida de bosta que eu vivia todos os dias.
- Onde estava? – Moretti me questionava sem rodeios, encarando-me de cima em baixo.
- Dando uma volta por aí. – Disse com o cigarro equilibrado na boca seca, com alguns cortes ainda abertos, porém cicatrizados.
- Tenho um trabalho para você.
- Outro? Para hoje?
- Sim, presentinho de natal. – E colocou aquela pilha de dinheiro em cima da mesa, dando seu famoso sorrisinho malicioso, soltando a fumaça do seu imenso charuto. Retribui da mesma forma mas claro, com meu cigarro barato.
 O trabalho? Bem, era sujeira como todos os outros. Provavelmente matar mais alguém na mira do grandioso Moretti, que não tinha piedade nem de si mesmo, adorava se torturar com seus charutos enquanto os apagava em seu braço, grosso, com grandes pelancas, cheios de marcas de um passado que nunca se desvendou.
Subi em meu Chrysler 77 e fui a caminho do endereço que havia recebido. Instruções e todo aquele blá blá blá convencional, Moretti sabia como me entreter, sabia o meu tipo predileto de trabalho e sentia orgulho quando eu eliminava mais um individuo qualquer de sua lista negra.
 Era um lugar familiar, uma casa meio abandonada em pleno subúrbio. Estacionei meu carro de qualquer maneira e saí calmamente, o chapéu escondia minha face que já estava um pouco misteriosa pela falta de luminosidade daquele lugar. A neve caía, o silencio pairava sobre aquele triste lugar, que se preparava para entrar em luto. Adentrei a casa rapidamente, sem mais delongas, tirei o meu revolver do bolso e fui seguindo. Ouvi um barulho de um rádio sendo ignorado, na voz de Louis Armstrong e logo pensei que seria um assassinato ao som de um ótimo bom gosto. Subi as longas escadas de madeiras, muitos degraus estavam quebrados ou rachados, tentei subir cuidadosamente mas mesmo com tanta cautela, quebrei vários deles, não conseguia controlar.
Na cama estava ela, adormecida, cabelos vermelhos não tão longos, meio ondulados, com algumas tatuagens espalhadas pelo corpo. Duas na verdade, já havia decorado como nunca cada mínimo detalhe daquele corpo que repousava. Os olhos fechados não demonstravam preocupação, mas pareciam pairar sobre os meus, traiçoeiros e mentirosos, que se iluminavam ao observar aquela cena, caindo em minha própria armadilha. A noite escura junto com a coragem que me faltava para apontar aquela arma. Eu conhecia aquele rosto, aquela alma, aqueles braços e aquelas mãos que já estiveram com as minhas e sabia de longe que o único destino que me traçava, era o que me assombrava.
Afobei. As lágrimas não caíram pois já haviam secado há tempos. Suspira rapidamente como um motor, continuo, em fase de testes e tentava persuadir aquela alma tão tranqüila que havia roubado a tranqüilidade e conforto de meu ser, tornando-me quem sou. Whisky barato, cigarro barato, espelho qualquer, olhos vermelhos e toda aquela nostalgia de bar.
 Levantei o braço direito, apontei a arma para aquela cena tão pacifica. Pensei em destruir aquele silencio e apavorá-la antes de sua morte, cruel. Puxei o gatilho e em alguns segundos estava a pressionar para que desse o seu ultimo disparo. Escondi os olhos pelo chapéu e ainda pude ver aquelas doces mãos se acanhando, lentamente. Apertei.
...
O silêncio pairou sobre aquele lugar, haviam marcas de sangue por todo o quarto, tão vermelho quanto seus cabelos. Seus olhos curiosos e assustados observavam a cena, tão cruel e mórbida e a conclusão era a mesma: desespero. Havia alguém morto ali, colorido com as cores da vida, que acabavam de se tornar as cores da morte e era perceptível, teus olhos jamais esqueceriam aquela cena... Um mafioso que foi traído por sua própria arma e por seu próprio coração.
 A neve caía, a rua continuava silenciosa e o Chrysler 77 preto continuava na porta a esperar, dessa vez, com a cor de luto como todas as luzes daquela cidade, que ouvia Louis Armstrong numa madrugada de natal em 1930. A madrugada dos olhos vermelhos e de um plano concreto de Moretti, que havia perdido o seu melhor pelo poder de um sentimento qualquer. Aquele que ninguém entende e que não faz sentido. Era apenas um inverno qualquer em Nova Iorque e uma noite feliz para qualquer um que estivesse tomando seu vinho na Times Square. Triste Nova Iorque.

Dedicado a Pedro Henrique F. Bergo.

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Novembro.

 As horas parecem passar como se fossem uma eternidade. Os carros lá fora correm como se estivessem apressados para chegar a um lugar qualquer. A noite iluminada pelas luzes da cidade abraça o calor intenso que faz e afaga meus cabelos que dançam no ritmo do vento que sopra. Vento quente, vento abafado.
 A casa está vazia e toda escura, o único som que se ouve nela é o da televisão, que fala sozinha nesse instante, repete multiplas vezes sobre as mesmas desgraças de sempre e eu as ouço, apenas prestando atenção em meus pensamentos distantes que me levam até você.
 Eu sei, tanta coisa aconteceu. Esse meu jeito taurino sempre em conflito com o seu jeito sagitariano nos trouxe alguns desentendimentos e algumas lições, aquelas que só nós sabemos o que passamos, o que acabou por nos tornar. As vezes quando não penso, quando tento me afastar eu me lembro tanto das coisas que costumavamos conversar, das bobagens e das brincadeiras que faziamos e tudo me traz aquele aperto novamente, aquele aperto de estar sem você.
 A parte mais dificil foi aquela em que eu tive que te deixar ir, agora vivo com um cigarro na boca, tragando minhas magoas e me sufocando com as minhas próprias palavras, todas aquelas que eu gostaria de te dizer mas não faço idéia de como lhe explicar... Acho que cheguei tão longe que nem sei mais como voltar.
 Esse teu ascendente em aquario, sua lua em cancer, seu vênus em escorpião sempre foram um mistério para mim, você sempre fora o enigma que eu gostaria de desvendar todos os dias, era como se fosse uma aventura, era como se eu fosse encontrar todas as respostas que precisava e acabei por me apaixonar e te querer todos os dias mais. Que confusão isso se tornou, não? Foram tantos feitos e desfeitos, idas e vindas que chegam a deixar minha vida, que era uma linha reta, planejada e realista, de cabeça para baixo, eu sempre detestei incertezas mas vivi uma grande incerteza durante dois anos e pouco e isso foi o suficiente para eu entender que não precisava de razões se eu tivesse você, embora você nunca tivesse sido minha.
 Por fim, chegamos aqueles conflitos que tivemos durante um tempo. Aquelas briguinhas bestas, meu ciume ridiculo e seu jeito impaciente nos tornou um inferno, eram lágrimas, eram rancor, dores físicas e emocionais, era uma destruição e eu via o meu mundo desmoronar diante o seu. Queria apenas demonstrar como me sentia para que talvez você soubesse mas não queria seu sentimento de pena e nem de compaixão, queria você a qualquer custo, de qualquer forma, de qualquer jeito.
 Não vou negar que procuro você em outros amores, que procuro seus abraços em outros braços, seus olhares em outros olhos e assim por diante. Eu sinto tanto a sua falta que as vezes tenho vontade de voltar no tempo e fingir que nada aconteceu, queria apenas sair dessa solidão e voltar correndo para seu colo sagitariano-canceriano que eu tanto gostava, te abraçar de novo e dessa vez ter a certeza de que tudo ficaria bem. Que você estaria do meu lado, não importando o quê.

 PS: Me perdoe pelas brigas, por tudo de ruim que falei ou fiz, foram dias dificeis.

 "Se for pra te abraçar, que seja agora, pra te proteger, pra te levar comigo para qualquer lugar"
 "Leve contigo o que deixou de maior em mim, leve contigo esse amor que deixou em mim."
 "E se voltares, te levo a qualquer lugar e se for impossivel de se viver, a gente dá um jeito."

Pra onde você quiser. Só pra onde você quiser ir.

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Vinhos baratos e promessas de bar.

 As luzes da cidade estão acesas. Elas iluminam parcialmente o meu quarto escuro, o quarto aonde me escondo e escrevo minhas bobagens, riscando palavras, textos, frases feitas e sinceridades ditas, gosto de pensar que apenas eu vou le-las e que ninguém vai compreender. Eu sei, pode estar um pouco escuro mas isso não é motivo para deixar de escrever. A escuridão me ajuda. Ela me guia, me vira, me desvira, me deixa de cabeça para baixo, me faz agarrar o silêncio e a solidão, abraça-las como um só. A minha maior miséria.
 Estou sozinha. Completamente só, sem ninguém, sem nada, sem ajuda e sem respostas, a única coisa que ouço são os barulhos dos carros passando pelas avenidas, todos correndo em direções diferentes, em busca de um caminho, sim, um caminho... Aquele que eu não encontrei, aquele que eu não tenho para onde seguir. O cigarro aceso no cinzeiro, com o maço jogado pelo meio do quarto, acompanhado de um vinho barato que particularmente me deixaria embriagada eram as unicas coisas que me faziam companhia. Eu me sufocava com aquela fumaça e com aquele cheiro de alcool, cada vez mais forte pois dessa vez, talvez fosse um exagero comprar as 4 garrafas. Eu me embriagava até essa tristeza passar e mesmo assim, ela não passava e eu não precisava de ninguém. Escrevia só e a caneta continuava por si, eram palavras imendando palavras, levando-as a qualquer lugar, exatamente aquele aonde eu gostaria de chegar, embora não tivesse saída.
 Desconfio tanto que desconfio até de mim mesma. Tenho tantas dúvidas em relação a mim que nunca vou saber responde-las, quem sabe se soubesse, estaria melhor, aceitaria melhor. Meus olhos fitavam aquele papel com milhares de palavras e as perseguia como um só, como um todo e me causava sensações estranhas, pois já estava alcoolizada. Fiquei insatisfeita com as besteiras e logo arranquei a folha com rapidez, atirando-a sobre uma garrafa de vinho que nem se mexeu com o impacto. Peguei meu cigarro no cinzeiro, com as mãos tremulas e o levei até minha boca, traguei. Soltei a fumaça como se fosse a coisa mais comum do mundo e logo abri outra folha de papel e desta vez passei a escrever com o cigarro, queimando cada minimo detalhe desta folha branca, que parecia refletir tudo o que eu era.
 "Eu sou exatamente como um final feliz, eu sou vazio, eu sou puro, eu sou triste."
 "Finais felizes não existem."
 "Amei-a como se fosse a última."
 "Dei-lhe meu tudo, meu todo, minha alma que acabou por se afogar."
 E com rancor, acabei por atirar uma das garrafas de vinho diretamente na parede escura, ninguém ia ouvir, ninguém jamais iria se importar e com as mãos cheias de sangue, decidi.
"Vivo por viver, sou quem sou, respiro você, preciso de você."
 "Você me matou, você me destruiu, você me levou ao suicidio."
 "Fez com que a minha própria arma me traísse."
 "Me tirou tudo o que pôde mas de mim nunca tirou o que mais precisava: O meu amor"
 E amei-a como se fosse a última vez, com marcas de sangue, embriagada, num quarto de um hotel barato numa cidade qualquer... A noite, por fim, adormeceu.

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Versículos de amor.

 "Eu queria estar por perto mas estou tão longe, eu sei que por muitas vezes nós não nos entendemos. Era meu ciúme, era o seu jeito e tudo se quebrou, mas quem disse que deixei de te amar? Era o meu amor e sempre será a minha maior dor, ter que deixar você partir para finalmente ser feliz com quem você amava. Eu sinto muito por sentir falta até da sua risada e dos teus braços e abraços, feitos e desfeitos, não queria terminar assim e nem deixar você ir, mas ainda faço qualquer coisa para te fazer sorrir e meu amor, se for assim, eu juro que me mudo para perto de ti só pra te ver sorrir e se for o suficiente, estarei sempre aqui. Você nunca estará sozinha."

 Um trechinho de amor, um trechinho de nostalgia que eu andei escrevendo nas estradas de Campo Grande para cá, um pequeno paragrafo de como me senti por alguns segundos, aquela vontade imensa e ir correndo de volta para aquela cidade, bater na porta dela e dizer 'estou sempre aqui para você' e sorrir, fingindo que tudo iria ficar bem... Na verdade, acreditando cegamente que tudo ficaria bem, infelizmente, já era tarde demais mas você sabe. Você sabe.

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Sentado sob sua janela.

 Era noite. Talvez fosse Novembro, não me lembro muito bem, mas estava chovendo bastante naquele mês. Eram por volta das 19 hrs da noite e eu andava de carro sem rumo por aí, passando pelas largas avenidas que me levariam a qualquer lugar, até eu me lembrar que era exatamente a mesma avenida que me levaria até você, até sua casa e então, resolvi arriscar, vou andar em direção a ela.
 Me aproximei e parei do outro lado da rua, você morava no oitavo andar, sua janela estava aberta e a luz estava acesa. Não tive coragem, apenas me sentei na calçada, tirei o maço de cigarro do bolso e acendi um deles. Fiquei observando a janela do seu quarto, a luz acesa, os movimentos, as sombras e tudo que parecia estar acontecendo e não, não havia nenhum sinal de ti alí, eu procurava mas não a via, nada acontecia.
 O transito continuava agitado e por mais algumas horas, continuei alí, sem me mover, fumando meu cigarro e aspirando todo aquele dióxido de carbono eliminado pelos carros, me matando cada vez mais juntamente ao cigarro. De repente, tão de repente, você apareceu na janela. Parecia triste, parecia encomodada, parecia muito infeliz. Você olhava sem direção, acendia um cigarro e fumava com uma delicadeza semi igual, tragando e soltando como se fosse sua ultima esperança, segurava o cigarro com firmeza e me aflingia a cada movimento. Agora meus olhos eram fixos apenas em ti, naquela imagem na janela do oitavo andar.
 Então, como um susto, você entrou, largou o cigarro e entrou, rapidamente e eu nem pude ver mais nada, apenas a luz do seu quarto se apagando. Droga, com quem será que você estava? Estaria transando com outro qualquer? Estaria assim me esquecendo? Estaria mesmo sofrendo por um outro otário que não merecia nada? Vi lágrimas em teus olhos e nada posso fazer, a não ser te observar.
 O tempo foi passando e logo a vi, saindo pela portaria, apressei meu olhar e me escondi, ela observava, parecia nervosa, parecia procurar qualquer coisa, depois então, sumiu novamente e uns minutos após sua volta, a luz do seu quarto se acendeu novamente e eu parei para observa-la novamente, desta vez, você ficou na janela sem nem me notar, fumou tantos cigarros seguidos que parecia estar pior que eu, você se abraçava, se envolvia e eu sofria, querendo e pedindo para ter você em meus braços por mais uma noite.
 A madrugada se aproximou e você continuava com a luz acesa, desta vez, fazendo outras coisas, então resolvi tomar uma atitude. Me levantei, joguei fora todo aquele lixo que estava comigo, peguei a chave do carro e segui em frente, não fiquei esperando mais um dia por você debaixo da sua janela. Eu fui embora pra sempre na sua avenida, na sua janela.

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Diálogo.

 Ela me olha nos olhos.
 Eu a olho nos olhos.
 Ela não me reconhece.
 Eu não a reconheço.
 Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos?
 Tudo havia mudado. Eram dois mundos que se desconheciam. Eram dois planetas distintos. Eram Vênus e Marte. Eu não a reconhecia mais. Aqueles olhos eram estranhos, aqueles cabelos eram novos e aqueles lábios não me chamavam mais a atenção. Ela me olhava da mesma forma. O silêncio continuava a nos calar enquanto as indas e vindas de nossos pensamentos nos prendia cada vez mais.
 - Então...
 - Estou bem.
 - Fico feliz.
 - E você?
 - Estou feliz.
 - Que bom.
 - Voltei ao normal.
 - Sim. - E assim, o silêncio voltava. Dois anos pareciam desaparecer e aquela mesma garota não parecia ser alguém que um dia já significou o meu mundo. Pareciamos duas pessoas distintas que nunca se conheceram em toda a sua vida, que não sabiam os segredos umas das outras, que não conheciam as verdades e que um dia nunca se amaram. Eramos perfeitas. Eramos amizade. Eramos caminhos iguais e agora o que me entristece é ver que duas pessoas que um dia já se conheceram como ninguém agora são duas perfeitas estranhas, sem razões para acreditar nas palavras uma da outra. Quem é você e o que fez com o meu amor?
 Depois, volto a me questionar... Para onde vai o amor, depois que ele acaba e torna duas pessoas completamente estranhas?

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