Archive for setembro 2012

Mudanças são normais?

 Não sei. Talvez sejam sim, pois ao longo da vida, as pessoas tendem a amadurecer ou até mesmo regredir em relação a tudo aquilo que aprenderam com experiencias relacionadas a coisas bizarras ou até completamente inúteis.
 Como dizia Gregório de Matos, "A firmeza somente na inconstância" e eu complemento dizendo que é a firmeza da vida ou todas as coisas concretas que as pessoas insistem em acreditar ou desacreditar. Tudo tende para a incerteza na vida de todos aqueles que procuram com horários definitivos, os seus trens de partida, que talvez o levem a algum lugar que seja melhor ou até mesmo pior, mas aqueles que se vão, nunca estarão satisfeitos totalmente, portanto, mudam-se a cada segundo que podem ou até mesmo, que não podem.
 Só acho que com tudo isso, nós mudamos. Eu mudei, você mudou, eu cresci, você cresceu e as coisas tornaram para um lado diferente do que esperávamos. Todo mundo diz que é normal, todo mundo acha normal mas eu sou a única que acha isso uma loucura? Tanto tempo com tantas coisas e de repente, elas passam sem mais e nem menos? Nós passamos por tantas coisas juntas e no final das contas, nos restou uma amizade que foi facilmente destruída pelos ventos e pela areia que o tempo trouxe numa tempestade qualquer? O que aconteceu conosco? O que há de ser?
 Eu não entendo. Não é normal. Não é normal pra mim ter que aceitar isso tudo e mentir que não sinto saudades de conversar bobagens com você durante uma noite inteira ou quando eramos bobas o suficiente para acreditar em sonhos adolescentes, estúpidos, os quais nos moviam e nos faziam sorrir. Desejos, intrigas, palavras, abraços e uma eterna sede pelo desconhecido, o qual nunca imaginamos e que nos trouxe até aqui.
 Que seja então, como tiver de ser, como for e como será. Minha vida é calculada, o tempo não, o tempo deixa ruínas como deixou de nós, uma fotografia e apenas os bons momentos na cabeça e a saudade de um abraço e talvez de um beijo que nunca mais nos consolará, nunca mais existirá, apenas a sensação de um doce momento que parecia tão eterno quanto aquele sentimento que você me trouxe. E que levou consigo, uma pequena parte de mim. Eterna.
 Minha Penny, espero te ver de novo algum dia. Espero que a vida nos deixe sorrindo por aí e que possamos, novamente, nos entender um dia sequer... E que enquanto nada disso acontece, vivamos o que o presente nos dá e o que o futuro nos escreve, sem sabermos e depois... Sei lá, depois é depois... Um fim que eu desconheço.

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Cama, livro e café.

 Existem pequenos momentos que por mais que o tempo tente os varrer, estão fixos no chão da vida de quem anda por aquele apartamento. Estão presos, em molduras brancas talvez, com um efeito de uma fotografia antiga, a qual não se pode destruir e alguns, pendurados nas paredes brancas que são frequentemente vistas por visitas ou até mesmo por estranhos, mas nem sempre, pois existem portas que não se abrem tão facilmente e também quando se fecham para outros, é para nunca mais se abrirem e o inverno lá fora, acaba sendo um pouco mais gelado.
 Na sala desse mesmo apartamento, há um sofá e um violão encostado no mesmo. Um violão antigo, com marcas da vida e que nos braços de uns e de outros, emitia uma música a qual nos lembrava que há muito tempo, já existiram razões para que cantássemos ali e as palavras proferidas, numa simples letra, talvez significasse bem mais. Olhos nos olhos. Um momento a sós. Aquela risada ao lembrar de uma música antiga e a sensação boa de estar se cantando aquilo que gostaria de ser dito. São risadas que percorrem os longos corredores e conseguem chegar aos meus ouvidos e que, sem nenhum esforço, fazem parte de mim.
 Nos quartos, poesias e palavras grudadas nas paredes manchadas. Alguma forma de sair e esquecer as dores da vida. Poemas que já foram dedicados para tantas pessoas, poemas tão diferentes sobre mundos tão diferentes e lugares tão diferentes. Poemas tão reais e outros tão utópicos quanto os pensamentos que naquela cama, adormecem como se não houvesse um amanhã e no final das contas, aquela letra tão mal feita com aquelas rasuras tão grandes destacam que uma vez na vida, eu tentei sentir ou realmente senti, não sei, mas eu tentei. Eu juro... Juro que tentei.
 Já na cozinha, a panela com uma certa quantidade de água ferve.
 - O chá está servido.
 Eu me lembro. Suspiros e uma volta e meia para darmos risadas e um bom dia na mesa.
 A água que ali fervia para o café, já se ebuliu quase que por inteira e dela, nada restou, a não ser uma panela queimada que esperava por uma atitude a mais. Eu fiz isso também? Devo ter feito.
 A bolacha ruim e mais algumas conversas de um domingo que parecia acordar melhor, que transformava a embriaguez do dia anterior, em mera consequência estúpida da vida e ainda me diz que no final desse livro todo, sempre existiu um marcador de paginas com uma caneta nova, para que eu pudesse retornar ou ao menos tentar marcar. Depois escrever. Escrever muito até me cansar de tudo.
 O melhor de tudo é que você e já se foi. Uma parte só que eu nem soube escrever, que a gente nem tentou escrever, mas que nunca iríamos escrever de fato. Era um tudo e um nada e ao mesmo tempo, marcas de canetas borradas por toda a folha... A pagina que nunca soube virar.

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Quase um ano.

 Reconhecer limites pessoais é uma verdadeira merda, pois quando tudo parece estar funcionando para que o inalcançável seja finalmente alcançado, as pernas tremem e uma tempestade de ventos faz com que toda força obtida, seja perdida na mesma proporção e no final das contas, eu sei, eu nunca mais serei a mesma.
 É triste admitir isso. É triste pensar que no final das contas, meus limites se ampliaram por conta de algo que eu nunca pensei em "adquirir" certa parte da minha vida. Fora difícil. Tantas noites perdidas, pensando em algo inexistente para que por um ou dois segundos, pudesse aliviar toda aquela tensão de saber se no dia seguinte, conseguiria ainda abrir os olhos e enxergar as paredes brancas do meu quarto... Ou pelo menos do hospital e suspirar aliviada por finalmente saber que podia ficar tudo bem. Era mais um dia. Um dia a mais é sempre um momento a mais, que não pode ser desperdiçado, nem por um segundo e são as vinte e quatro horas mais valorizadas durante uma vida inteira, a qual a incerteza domina sobre o dia de amanhã.
 Nunca pensei em reclamar de tudo, as vezes acho que até valeu a pena. Naquele instante, a melhor parte de mim possuía olhos verdes e cabelos loiros que me faziam acreditar e continuar, mas depois, essa melhor parte de mim fora arrancada e eu passei a caminhar novamente com meus próprios pés sobre uma areia um pouco mais firme que a anterior, a qual eu nunca saberia se conseguiria sair ou não.
 Abri meus olhos num pulo e quando as coisas foram passando diante de mim, percebi que não teria um fim alí e que talvez, se eu segurasse um pouquinho mais o meu dedo indicador e apertasse como uma criança assustada, eu conseguiria sair dalí sem me preocupar. Eu sorriria e eu acreditaria depois que pra se viver, é preciso aprender a lidar com todas as dores imundas que ensinam lições importantes ou bobas, mas que servem como os livros que educam aqueles que querem abrir suas imaginações ou expor suas opiniões.
 Eu sei, já vai fazer um ano.
 Um ano e eu estou aqui.
 Quanto tempo...

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Efeitos de vinho branco ou coisas estúpidas.

 E se eu te dissesse tudo aquilo que eu tenho vontade de dizer, alguma coisa saíria do lugar? As coisas fugiriam do meu controle novamente e eu ficaria completamente perdida? O que aconteceria se eu proferisse as palavras certas (ou erradas) no momento certo (ou errado) e lhe fizesse pensar (ou não pensar) sobre tudo isso que têm acontecido nos últimos meses? Será que você notou ou que passou despercebido? Será que fez sentido?
 É engraçado. Tá todo mundo reclamando da vida hoje e a única coisa que eu posso fazer pro tempo passar um pouco mais depressa é beber várias cervejas no meio da semana, ouvir New Found Glory e procurar, sabe-se lá como, alguma palavra que possa esclarecer tudo isso que tá se passando na minha cabeça agora.
 Eu sei que vou continuar sentada aqui e que quando você chegar, vai pedir pra eu sair. Eu vou sair. Vou caminhar até a porta e pensar em tudo aquilo que eu poderia ter dito ou ao menos, não dito e quando chegar em casa, vou me jogar nas palavras erradas que estão justamente em cima da minha cama, desarrumada e amassada, como quem não precisa de esperanças para um outro dia, pois do mesmo jeito saí, elas saíram pra nunca mais voltar, mas eu ainda penso em voltar, se você quiser que eu volte, claro.
 Se eu resolver ligar a televisão, vou mudar de canal sem parar, vou fingir que estou concentrada em algo que realmente não me prende. Depois vou tentar ler o jornal, depois vou tentar ler algum livro, depois vou tentar escrever, vou tentar fazer música, vou tentar tirar da minha cabeça várias razões pelas quais eu poderia ter feito diferente ou simplesmente ficado, caso alguma coisa fizesse sentido, já que na minha cabeça, nada disso faz sentido algum. Nada. Nada mesmo.
 Vou entrar no google e fazer umas vinte pesquisas sobre o que dizer. Vou procurar palavras novas e vou fazer mais rodeios pra nunca chegar aonde eu quero chegar, mesmo sabendo o rumo, mesmo sabendo aonde eu quero estar, eu não quero chegar. Tenho medo do caminho. Tenho medo dos automóveis vindo em minha direção, em alta velocidade. Tenho medo de um grave acidente. Tenho até mesmo que colocar uma máscara de papel pra observar o movimento sem nem precisar fingir um sorriso. Nem sei o que fazer.
 É uma péssima situação, essa de ficar largada em casa pensando em tantas coisas que ao seu ver, não parecem fazer sentido algum, mas que os outros, dizem fazer sentido. O que é isso tudo? O que vai ser isso tudo? O que pode ser isso tudo? Conquistas, paixões, perdas, derrotas? O que é tudo isso que a gente sente quando os sinais não correspondem as ondas lançadas? O que é se embriagar pra tentar entender as coisas?
 Não sei, não sei e não sei. Só sei que nada nunca vou saber.
 E quem é que vai que me explique.

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Noite de show.

 Horas. Horas e mais horas que se passavam lentamente, como quem não tinha pressa de chegar a lugar algum. A agonia tomava conta de minhas mãos e o caderno agora, já possuía seu nome em cada linha do mesmo. Eu tentei me controlar. Eu tentei não ligar. Eu tentei tanto mas nada consegui. Quem dera pudesse ter sido um pouco mais fácil, mas naquela noite, eu soube. Eu tive certeza. Tenho que ligar. Vou ligar. Devo ligar? Droga! Será que eu devo ligar? Seria mais fácil ignorar? Será que se eu não ligar, ela vai ligar de volta? E se eu ligar e ela ligar de volta num outro dia? Ah, que se dane! Eu vou ligar.
 Disquei o número um pouco tremulo e engolindo seco. Não sabia muito bem o que dizer, mesmo que na maioria das vezes, eu sempre estivesse calmo nessas horas, mas hoje eu não estava! Hoje não. Não me peça calma, não me peça palavras, eu não tenho muito pra dizer, apenas o suficiente.
 Apertei o botão para ligar e quando comecei a ouvir aqueles bipes compassados, senti a minha espinha congelar, a garganta secar e aquela sensação terrível de que alguma coisa poderia acontecer no instante em que ela pudesse...
 - Alô? - Atender essa merda e interromper bruscamente os meus pensamentos.
 - Olá! Tudo bom? - Tentei manter a calma mas acho que engasguei um pouco com as palavras.
 - Oi! Não esperava que você ligasse. - Aquela voz... Ah, aquela voz.
 - Eu também não esperava que eu ligasse... - É nessas horas que eu sinto raiva de mim mesmo, mas a risada do outro lado da linha, fez com que eu me acalmasse um pouco.
 - Que bom que ligou.
 - Sério?
 - Sim... Eu estava mesmo esperando que você ligasse... Talvez eu não soubesse muito o que dizer na noite passada, talvez a gente pudesse conversar agora... Estava muito barulhento, não acha? - E riu mais uma vez, senti uma sensação extremamente agradavel, embora ainda fosse encomoda.
 - Ah, realmente... Mas a banda estava boa, não acha? Digo... Eu me diverti... E você?
- Também, bastante! Eu não esperava aquilo deles, na verdade.
 - Pra ser sincero, nem eu...
 - Pois é... - E a falta de assunto. Talvez eu devesse falar algo útil pra quebrar o gelo?
 - Você estava linda com aquele chapéu.
 - Ah, obrigada! Gostou mesmo?
 - Sim, fica ótimo em você, assim como qualquer coisa, érr... - Gaguejei.
 - Está sendo fofo, apenas.
 - Não, estou sendo sincero, pequena.
 - Larga disso, eu não fico bem assim.
 - Fica sim, você ficaria linda até de pijama, chinelo e com os cabelos bagunçados. - Senti meu coração apertar. Eu não estava mentindo. Ao meu ver, ela ficaria linda de qualquer jeito.
 - Porque está sendo tão fofo?
 - É que eu não esperava que tudo aquilo acontecesse. Eu queria que acontecesse de novo, sabe? Eu queria tentar.
 - Quer? Porque?
 - Porque é o que há, oras. Eu adoraria lhe acompanhar, seja na praia, seja na maré, seja no vento, seja em qualquer lugar. Eu ficaria feliz em segurar a sua mão e dizer que o sorriso estampado na minha cara era por sua causa. Eu ficaria feliz de estar ao seu lado sempre que você precisasse. Eu fico feliz perto de você.
 - E pra que tantas palavras?
 - Pra dizer que, pequena, se acontecer do amor existir pra nós, a gente é quem vai saber e não ninguém. Só a gente. Então me entrega esse jornal, senta comigo no café de manhã e vamos falar bobagens, depois eu te levo a pé pra casa, a gente vai cansar, mas no final, estaremos rindo, porque estariamos juntos e acho que já valeria a pena.
 - Talvez nem tudo valha a pena.
 - Mas vale a pena quando a gente quer, pequena. Se você quiser, a gente pode tentar fazer o mundo.
 - Pode dar errado.
 - E que dê! Quem se importa? Tá aí pra dar errado mesmo, pode ficar pior do que já está? - E a ouvi rindo novamente.
 - Não mesmo.
 - Então façamos o mundo da nossa forma e que os ventos soprem para nós. Deixe o resto pra lá. Vamos sair essa noite e a gente se entende.
 - As oito?
 - As oito.
 - Sem hora pra voltar?
 - Sem hora pra voltar. Te acompanho.
 - Certo. E se o vento soprar errado?
 - A gente luta para ir contra, oras. O importante é lhe acompanhar. - Sorri.
 - Te vejo a noite.
 E ela desligou. Não sei o que foi que deu em mim, não sei muito bem o que foi que aconteceu, eu só sei que eu gostaria de tentar e acho que ela, tanto quanto eu, também gostaria e se o vento soprar a favor, que venham as folhas de outono, as friagens do inverno, o sol do verão e as flores da primavera. Estaremos eu e a minha pequena e nada mais importa.

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Velas e caravelas em Santos.

 De vez em quando, nas minhas noites em Santos, eu gostava de ir pra janela do apartamento e acender um cigarro. Aproveitar que uma vez ou outra, eu saía daquela minha vida urbana e conseguia um pouco de paz observando o mar que parecia ser tão infinito naquele instante. Os navios lá longe, esperando pelo sinal para entrar no porto, suas luzes me guiavam os olhos enquanto que a areia estava completamente nua e iluminada, diferentemente de meu apartamento que estava todo escuro.
 Gostava de fazê-lo sozinha. Fumava um, fumava dois, fumava vários, mas digamos que nesse dia, eu não estava completamente só. Todos já haviam adormecido e lá estava eu, com o famoso cigarrinho vermelho entre os dedos. Suspirando, pensando, tragando e com uma vontade tremenda de por meus pés descalços naquela areia que parecia um tanto limpa naquela madrugada.
 - Tá acordada ainda? - Ouvi uma voz bem familiar, mas não me dei o trabalho de me virar para ver quem se aproximava.
 - É. Tô meio que sem sono.
 - Vamos dar um rolê na praia então?
 - Pode ser. Vamos sim.
 Apaguei o cigarro no cinzeiro e logo coloquei os meus calçados. Fomos até a praia calmamente, sem dizer nada, apenas calados enquanto observavamos o quão vazia estava aquela avenida naquele instante. O cheiro do mar nos acalmava e aquela brisa gelada bagunçava um pouco de meus cabelos um tanto despenteados e por isso, dei de ombros.
 Nos sentamos alí, não muito longe do mar mas também não muito longe do calçadão e como de costume, acendi mais um cigarro.
 - Aceita um?
 - Dessa vez vou aceitar.
 Dei-lhe um cigarro e acendi o mesmo, enquanto tragavamos e pensavamos em coisas distintas... Ou não.
 - Sabe... É sempre uma boa vir aqui de madrugada, não acha?
 - Sim. Me transmite uma sensação muito boa.
 - É, a mim também.
 - Engraçado... Até as idéias, sabe?
 - Entendo. Pensa demais, não?
 - É, em todas as coisas, todos os tipos de coisas. Não sei ao certo.
 - Se estiver pensando no mesmo que eu...
 - Depende. O que é?
 - Em como as pessoas lhe abandonam.
 Quando disse isso, ouvi com atenção e realmente, era algo a se pensar.
 - Em que sentido?
 - Em todos. Muitas vezes você é um louco apaixonado por alguém ou simplesmente está apoiando alguém e no instante em que você se descuida, plaft! Você caiu de um abismo. Todo mundo te empurra.
 - É verdade. Ninguém está lá pra você. Ninguém sobe em lugar nenhum por você.
 - É, mais ou menos isso. Não importa o quê. Mesmo que você tenha milhares de amigos, sempre haverá algum que vai te deixar cair. Ninguém é forte o suficiente para segurar o outro, afinal, nascemos sozinhos e não para ficarmos juntos o resto da vida, se é que me entende.
 - Não, não! Eu concordo.
 - A sensação de ficar sozinho a vida inteira é um pouco estranha, ao ver de alguns, mas ao meu ver, é interessante, pois chega uma hora que todos passam a ir embora e no final das contas, não há mais nada a se dizer, a se fazer a não ser abrir a porta e ir embora também, pegar um táxi e o primeiro avião que você achar. Pra algum lugar. Ou se preferir pode ir de trem, carro, qualquer coisa... Mas é algo natural da vida. Colocar as malas no porta-malas e seguir em frente, entende? As fotos ficam pra depois.
 - Mas... Porque está dizendo isso assim?
 - É que quando você é abandonado várias e várias vezes, você acaba aprendendo que mudar é um ciclo natural. Nada é pra sempre, ninguém dura pra sempre, sentimentos não são pra sempre. Nada dura mais do que um determinado tempo e ainda assim, as coisas tomam um rumo diferente. Não adianta, as pessoas acabam se desencontrando, pois nenhuma vida fora feita para se enganchar na outra e com isso, viver assim. As pessoas tentam fazer isso, mas não é bem assim que funciona, elas tentam fazer isso funcionar, entende?
 - É, realmente. Correntes, não?
 - Enferrujadas. Prontas pra quebrar a qualquer instante. Tudo é muito frágil visto assim.
 - É, eu concordo. - Dei um longo trago enquanto assimilava suas idéias.
 - As vezes eu queria entender como as coisas funcionam do outro lado...
 - Como assim?
 - Aquela velha história de remar e ser deixado levar pelas marés.
 - O que tem?
 - Faz sentido, não? Você nunca sabe onde vai parar, em que porto vai procurar abrigo... Nunca sabe quando uma tempestade vai chegar, quando um dia ensolarado vai brilhar, você nunca sabe das coisas que podem acabar acontecendo. Você só vive, só respira, só controla a vela do seu barco para que ela não rasgue, mas caso isso aconteça, você rema.
 - E se não tiver remos e a vela rasgar?
 - Aí você se deixa levar. Com certeza a algum lugar você vai chegar.
 - Sabe exatamente aonde?
 - Ninguém nunca sabe.
 - E se não for a algum lugar bom?
 - De volta ao mar! O bom de se viver é isso, você pode ter escolhas, na verdade, você pode tentar. Não importa em quantos portos você pare, você sempre chegará a algum lugar, seja ele bom ou ruim.
 - Mas e os amores? Desamores?
 - Faz parte. São cicatrizes de lutas, sobrevivencia, sorrisos e lágrimas. É a saudade de casa.
 - Então quem navega não tem casa?
 - Tem sim! A imensidão do mar. Olha só aqueles navios lá longe... Provavelmente alí haverão alguns loucos para voltar para casa mas com certeza alí existem vários deles que sabem que o oceano é a sua casa. As ondas, a maré, a brisa, tudo. Principalmente os portos, aonde estão seus amores.
 - E pra que tantos rodeios?
 - Porque quando se trata de paixões, não existem paixões entregues e as conquistadas, são as que mais valem a pena.
 - Acha mesmo?
 - Acho. Um esforço em um projeto incompleto vale bem mais do que um projeto pronto. Você imagina seus amores?
 - Não, não faço nem idéia.
 - Então olhe melhor ao seu redor, não precisa encontrar, mas se você acreditar, ha de surgir.
 - E quem não acredita?
 - Faz como eu. Rema, veleja que tem onda. Hoje o mar tá bom, o dia ta ensolarado e se amanhã chover, temos a certeza de que o dia vai voltar a brilhar.
 Sorri com sua última frase e me calei. Tinha razão e não precisei de mais nada, apenas terminar aquele cigarro e me deitar na areia enquanto via sua sombra se afastar de mim. Acho que era a hora. Apaguei o cigarro e fechei meus olhos. Era hora de dormir.

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Um telefonema e a banda de samba.

 - Mais um, por favor?
 - Mais um?
 - Sim. Mais um.
 E me entregou o objeto azul que estava em suas mãos, com um olhar desconfiado.
 - Não acha que está exagerando hoje?
 - Não. É o suficiente.
 - Vai ligar?
 - Vou tentar. Devo?
 - É, eu acho que deve sim. Eu não ligaria.
 - Você nunca liga.
 - É que eu sei que se eu não ligar, ela não vai ligar de volta.
 - Então! Deveria ter ligado.
 - Acho que não.
 - Tudo bem. Vou ligar.
 Os bipes compassados do outro lado da linha me assustavam um pouco. Meu coração batia conforme o tom daquele momento tão confuso e atormentador. Parece até simples, mas é dificil quando se trata de...
 - Alô. - Ah que merda, eu não tava planejando isso.
 - Alô! Érr... Com quem falo por favor? - Eu reconheci a voz, mas fingi que não.
 - Sou eu... - E disse seu nome, que eu já sabia de cor.
 - Ah, oi! Sou eu... E eu gostaria de saber como você tá? - Idiota?
 - Olá! Eu estou ótima e você?
 - Estou bem, que bom! Então, eu gostaria de saber se você vai estar em casa esse final de semana.
 - Acho que sim, por que?
 - Queria te chamar pra sair. - Senti minhas espinhas congelarem.
 - Claro. Aonde quer ir? - Ela aceitou?
 - Qualquer lugar que você queira! Tem alguma idéia?
 - Por enquanto não, mas vou pensar.
 - Tudo bem, passo pra te buscar as nove?
 - Tudo certo. Te vejo lá.
 - Okay, até mais.
 Desliguei.
 Suspirei novamente e olhei a minha volta.
 - E aí? Como foi?
 - Ela aceitou!
 - Como vai ser?
 - Eu não sei, só sei que vai ser.
 E peguei minha jaqueta jeans pra pular na cidade. A banda estava passando, o samba estava tocando e eu fui a procura dela junto com a música.

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Espetáculo.

 Era assim, vagava pela cidade sem rumo de madrugada. Tomava uma cerveja, pagava a conta, ia embora e sempre estava com um olhar bem distante. Já havia deixado a mania de procurar botecos para ouvir os homens e suas histórias, afinal, estava tentando não contar a sua também.
 Andava e não se importava com mais nada. Não encontrava sentido nas pequenas coisas que antes pareciam ser ótimas e que lhe arrancavam um sorriso do rosto, sorriso sincero que há muito tempo já não era o mesmo do espelho de manhã, que também já não era mais o mesmo depois de ouvir uma boa piada ou coisa parecida, mas ninguém sabia para onde tinha ido esse sorriso, pois as cortinas estavam fechadas para o espetaculo. Espetaculo sem público, sem final, sem sentido. Sem enredo.
 Trabalhava todos os dias e já não pensava mais no amanhã. Era meio que automatico e as falas, muitas vezes, nunca eram pensadas. Nunca foram escritas e seus olhos seguiam concentrados em algo que não lhe parecia familiar, mas que era, até por demais. Era a única coisa que sabia fazer bem e no entanto, já não se importava mais. Assim como deixou de amar alguns amores, deixou de amar o que melhor fazia e vivia sem saber aonde chegar.
 Subia no palco algumas noites, tocava algumas notas, cantava e não ouvia ninguém. Se ouvisse sua própria voz, já seria interessante, mas o teatro estava vazio e não parecia emitir som algum. Era como se não houvesse música, era como se não houvesse nada. Era como se fosse um eterno vacuo, sem resposta, sem eco e sem porta de entrada, mas já era costume de sua rotina viver disso. Já não se importava mais. Seus olhos acompanhavam aquela imensidão e não chegavam a lugar nenhum.
 Deitava no sofá da sala, lia jornal, bocejava e tomava café nos domingos pela manhã. Passava os olhos pelas pequenas letras como quem lia com interesse, embora tudo alí não fizesse o menor sentido. Olhava pros lados e todos os atores do espetaculo, haviam ido embora. Os oculos sujos, as roupas jogadas, as fantasias que um dia já foram coloridas até demais e aquela vontade imensa de abrir a cortina para que tudo se inicie outra vez, mas sem a música macabra e talvez com um público que ame tanto essa peça quanto o próprio artista.
 Colocou sua máscara e amou, mais uma vez, todas as palavras e todos os passos a serem seguidos naquele pedaço de papel amarelo e rasgado. Os olhos brilharam ao fundo e em três segundos, já possuía uma garrafa cheia em sua mão esquerda enquanto que observava as cortinas vermelhas que lhe atrapalhavam a visão. Chutou-as, sentiu ódio, sentiu tanta coisa mas que se acabaram no momento em que retirou a máscara e tudo o que lhe estava a frente, desapareceu novamente.
 Eu não sei muito bem o que era ou do que se tratava, mas no final das contas, esse tempo todo, esse ator era eu.

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Péssimo texto numa manhã de domingo.

 Noite mal dormida com pensamentos antigos. Coisas que já me cansaram um dia e que hoje parecem fazer sentido novamente. Idéias ruins para um pensamentos diferente enquanto as palavras saem quase que travadas, uma a uma, como uma corrente enferrujada, pronta para se soltar a qualquer instante e quando isso acontecer, as palavras se soltam e tudo passa a não fazer sentido novamente. Não mais. São só palavras, mas não pra mim.
 Decidi hoje, sem querer, que novamente vou lhe escrever alguma coisa. Só pra tentar apagar essa sensação estranha que sinto toda vez que acordo pensando em você, essa sensação de um vazio sem fim que deixaria de ser tão triste se houvesse mais alguém, que no caso, seria você. Você e suas mãos, seus abraços, seu sorriso e principalmente o seu olhar, que tem alguma coisa diferente dos outros, mas é fantastico e faz com que eu me perca em meio as linhas que tento retalhar para logo me aproximar de ti e lhe fazer sorrir.
 Eu não tenho lá o melhor jeito de agir com as pessoas, na verdade, eu não levo jeito com nada. Tudo o que eu faço é apenas alguma coisa para ficar ao teu lado ou pelo menos lhe chamar a atenção e eu sei que muitas vezes não é lá uma forma muito agradavel mas juro que não faço por mal. Eu só não sei como agir. Eu nunca soube e então, acabo um tanto perdida enquanto espero alguma resposta que muitas vezes, pode não ser algo muito incentivador, mas eu espero. Eu espero muito. Eu espero porque eu sei que vale a pena.
 Reme nas minhas palavras. Ou melhor, deixe-as te levarem na maré mais calma possível e se elas forem boas o suficiente, te trarão até mim, mas lógico, só se você quiser e deixar que as correntes se soltem, no final das contas, eu posso lhe proporcionar muitas coisas boas, creio eu. Não tenho tudo, mas acho que tenho o suficiente para lhe trazer bons sorrisos e bons momentos, pois ver-te feliz é o melhor presente que posso ganhar durante um dia todo. Ou o seu sorriso. Ou você.
 Eu sei. É tudo muito pouco embora sejam muitas palavras. Mas eu sei, talvez você saiba que o que vale a pena é o que se sente. O clichê de tudo. Não precisamos de flores ou chocolates, é apenas um agrado a mais. A única coisa que lhe peço é que se quiser tentar, estou aqui. Estarei aqui. Calada, mas estarei. Esperando por você.
 Agora se me permitir, vou apagar isso.

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