Archive for agosto 2012

Apenas um conto de amor.

 Numa certa vez, conheci uma menina. Ela tinha cabelos negros que combinavam perfeitamente com seus olhos, também negros. Tinha uma pele branca, tão branca quanto as nuvens daquele dia ensolarado. Não me lembro que dia, não me lembro aonde, só sei que conheci essa garota e nem o nome dela eu quis perguntar. Tive medo. Medo de saber demais. Medo de olhar naqueles olhos que possuíam um brilho único sei lá de onde, eu só queria descobrir de onde vinha um olhar tão sincero. Solitário também, o que acabava por complementar os meus olhos cansados. Ela me olhava e me arrancava a alma, pr'eu perceber que podia dormir nas voltas de seu corpo. Corpo delicado. Podia eu parar de contemplar tamanha beleza?
 Tinha um sorriso que me contentava. Um sorriso que me fazia sorrir toda vez que ela comentava algo ou que se lembrava de alguma coisa que julgava engraçada. Não tinha uma feição comum e nem interesse por livros ou política, mas era tão bela e delicada que me fazia repensar em todas as coisas que na minha vida, nunca fizeram sentido, embora eu soubesse que fosse uma única vez, um único encontro com a garota dos olhos negros. Não precisavam ser verdes. Eram tão belos quanto.
 As vezes, quando eu estava cansada demais pra enxergar alguma coisa, ela me acolhia como uma árvore que acolhia alguns pássaros durante uma chuva de verão. Me abraçava, me envolvia pr'eu não reclamar da vida. Me contava casos, me distraía, me cutucava, me tirava as roupas e as colocava no varal, para secar e esperava comigo, no sofá da sala, o inverno chegar. Deitava sua cabeça sobre meu ombro, segurava minha mão e me sussurrava algumas coisas. Me pedia pra ficar, pra não sair na chuva, porque tinha meio de raios e eu a calava, com um beijo no calar da madrugada.
 Embora eu nem soubesse seu nome e tomasse um café com ela na manhã seguinte, para rirmos de todas as coisas como sempre fazíamos, era meio que indiferente. Ela tomava doce, eu tomava amargo, ela gostava de tango, eu gostava de bossa nova, ela era fã de Picasso e eu de Frida. Ela reclamava do quanto eu era fria, eu reclamava do quanto ela era quente, ela me envolvia e eu dormia no sofá. Ela me escrevia, eu apagava, ela lia Clarice e eu lia Machado. Sempre fomos tão assim e acho que sempre seremos assim, claro, se eu a tivesse conhecido mesmo.
 Mas foi só um conto de amor.

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Eulália Andrade.

 A vinheta na televisão apresentava um novo comercial. Ele lia o seu jornal diário, como quem não quer nada, como quem ignorava a voz grossa e rotineira que vinha daquele aparelho que lhe parecia ser tão irritante. Pernas cruzadas, como um verdadeiro gentleman, embora soubessem do seu verdadeiro "eu", que não era nenhum pouco gentleman e sim, um mesquinho, pão duro, rico. Tipico personagem Machadiano com um charuto na boca, mas diferente deles, era extremamente ignorante.
 Ao seu lado, na poltrona, uma mulher loura dos cabelos ondulados. Entediada. Bocejava enquanto tricotava alguma coisa e não desprendia seus olhos daquele aparelho irritante. Não era magrela como sua cadela que estava deitada ao seu lado e apreciava a boa culinaria francesa. Tudo o que vinha da França, para ela, era tudo de melhor! Pensamento brasileiro do século XIX, Europa é primeiro mundo. Vida européia num país cheio de negros, mestiços e indios e ela nem sabe pronunciar mademoiselle.
 Chegando em casa, está o filho. Responde ao ser chamado de Meneses. Era um pseudo intelectual que gozava da boa companhia das mulheres do final da rua. Ninguém sabe o nome delas mas elas sabiam quem era ele. Ele, que usava luvas de couro no verão, cartola preta e sapatos maiores do seus pés. Acreditava Meneses que era sua forma de poder, porém, diferente do bom homem João, não tinha os sapatos manchados.
 Agora que citei João, vos digo quem é. João era o bom homem que cuidava da casa dos Meneses. João era quem aturava a santa ignorancia de seu patrão, cujo acreditava cegamente no que o padre pregava durante as missas de sabado a noite. João não era católico não, João era negro, João fazia parte dos brasileiros daquela época mas todos ignoravam João, porque ele não era católico e nem tinha olhos azuis e claro, vivia de sapatos marrons manchados.
 Alguns vizinhos acreditavam que o Dr. Meneses, pai do Meneses luvas-de-couro, gostava de literatura. Dr Meneses talvez fosse um intelectual de seu tempo, embora não tivesse com quem conversar, porque não tinha amigos. Quer dizer, tinha sim. Tinha Andrade. Andrade era o amigo que lhe visitava aos domingos. Bebiam muito e depois riam de tudo. Andrade era político e tinha um importante papel na sociedade carioca daquele tempo. Sabia de tudo, lutava por tudo e dividia com Meneses os seus charutos cubanos. Engraçado é que se davam bem, mesmo que a filha de Andrade seja uma frequentadora assídua da clínica do Dr Meneses.
 O pior é pensar que nem o Dr Meneses, nem o Meneses luvas-de-couro e muitos menos Andrade sabiam da verdade. Que Meneses e o Dr Meneses tinham algo bem em comum: Eulália Andrade e um filho de olhos verdes. Ou devo dizer, Meneses Andrade luvas-de-couro?

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Dezesseis minutos.

 Meia noite e três. Quatro. Agora são quatro minutos.
 Silêncio e muito vento. Vento forte que agredia a janela e assobiava de leve em meus ouvidos, quebrava meu silêncio e secava a ponta da minha caneta preta que agora borrava o papel.
 O café estava ao meu lado e eu precisava acordar cedo, embora os pensamentos não me deixassem dormir, eu me esforçava para esvaziar a mente de qualquer inutilidade que naquele instante, me parecia muito mais do que impertinente. Dei um suspiro enquanto via os minutos se passando no relógio. O que vou fazer?
 Paixão. É, paixão. Paixão é toda essa coisa estranha de se sentir ansioso quando menos se espera ou de perder todas as palavras na hora certa ou até mesmo o simples fato de tropeçar no seu próprio calçado por estar com a mente tão longe. Pensar em alguém que talvez não pense o mesmo, mas pensar em alguém. Em um certo alguém. Talvez em um certo cheiro, um certo momento, uma certa piada, palavra, risada, qualquer coisa que seja pequena o suficiente para ser guardada em um lugar tão grande. Sentir as fortes pontadas no peito e um coração desesperado, querendo gritar alguma coisa. Sensações estranhas e um olhar quase único ao se observar aquele alguém único e especial. Talvez seja tudo, talvez não seja nada. é paixão. Somente paixão.
 Penso que me sinto assim quando se trata de você. Saio com suas amigas, as ouço tocar em seu nome e tudo em que eu penso é no que poderia ter dito ou que deveria ter deixado de dizer. Penso em como você está, por onde anda, onde está, no que está pensando, o que quer amanhã, se vai dormir bem, se vai pensar antes de dormir. Não sei, só sei que penso demais. Penso em você, escrevo pra você e na hora de chegar, nada acontece. É uma falha no meu super sistema humano. Uma grande falha quase irreparável quando se trata de você.
 É estranho porque te vejo como se fosse meu passaporte para um lugar qualquer, aonde eu não precise sentir medo ou coisa parecida, mas tenho medo de me aproximar de ti, pois me apavoro toda vez que ouço você me chamar e tento disfarçar com as piadas estúpidas de sempre. Você ri ou simplesmente ignora e eu finjo que está tudo bem. A gente finge assim, certo? E tudo... Chega a um ponto final. Mas seria melhor se chegassemos na vírgula.
 Não sei até quando vou lhe escrever tantas cartas de quem está procurando por um refúgio em seus abraços, mas espero um dia lhe dizer, mesmo que já espere a resposta, mesmo que já saiba o que vai acontecer, espero um dia poder lhe dizer.
 Perdão, menina, mas continuo lhe achando a mais bela de todas.
 E ah, me faz um favor, rouquin? Me faz parar de pensar tanto em você como eu penso.

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Teadoro, Teodora.

"Beijo pouco, falo menos ainda.

Mas invento palavras

Que traduzem a ternura mais funda

E mais cotidiana.

Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.

Intransitivo:

Teadoro, Teodora"


Manuel Bandeira

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Terra à vista.

 Eu não lhe procuraria se não soubesse da verdade ou se não desconfiasse de seus atos. Eu nem me importaria, talvez eu desse apenas mais um trago pra tentar fingir, fugir, tanto faz. Eu só sei que daria mais um trago.
 Vejamos todas as evidencias, primeiro os olhares, depois os lábios, as palavras, os rostos, os cabelos, os gestos e as risadas. Vejamos também as palavras, tudo que deixamos pra trás e mais um pouco que possamos encontrar pela frente, talvez saibamos até demais, talvez eu queira até demais e você não. Sei lá, não entendo muito, só sei que escrever pra você já se tornou uma rotina, a qual eu pretendo fugir pois rotinas me entediam e cá entre nós, eu sempre acabo voltando. Olha aí. Mais um texto pra você.
 Engraçado que quando realmente fomos apresentadas, eu nem notei muito. Confesso que não foi grande coisa. Grande festa, grandes mulheres, eu acompanhada, você perdida, bebidas e mais bebidas, palavras, músicas, risadas e aquela famosa distração de quem não procura nada. Não encontrei nada alí, nunca encontrei nada antes e creio que nem chegue a encontrar o que tanto espero, que nem sei o que é, embora saiba que exista ou que não exista ou fique me contrariando o tempo inteiro, já que gosto de rodeios e sei que talvez você também goste. Sei que não nos reparamos mas depois quando bati meus olhos em você, soube o que queria, a pena toda foi que você nunca me pediu pra lhe escrever um conto de amor. Poderia eu lhe escrever um conto de amor sem ficar mal? Lhe escrever uma carta Machadiana e citar alguns versos de Miss Dollar? Talvez te conquiste ou você simplesmente me ignore. Sou uma escritora e nada mais.
 E aquele teu jeito estranho de me olhar. Ah não, não sei se é coisa da minha cabeça não, mas seu jeito estranho de me analisar ou sei lá o que você faz. Que diabos você tem com esses olhos azuis que eu não consigo entender de jeito nenhum. Não vejo sinais, não vejo fogos, não vejo brilhos, não vejo nada. Nada mesmo. Não vejo nem um pequeno gesto de ternura quando você me procura ou quando simplesmente passo a ignorar a forma com que me olha justamente para que eu não me sinta tão incapaz. Cê deveria me falar o que cê faz, pra eu entender. Pra eu conseguir correr, entende? Mas não são minhas palavras que vão me salvar dessa vez. Nem as suas. E talvez nada do que a gente espere mais tarde.
 Não, não. Não vou lhe citar Chico Buarque ou Caio Fernando Abreu ou qualquer coisa desse tipo. Acho que não preciso dizer que sua personalidade pseudo sagitariana com planetas em escorpião chega a ser assustadora quando se trata dos assuntos sentimentais. Nem devo dizer que quero tanto desvendar o que se passa dentro desse pequeno casco alaranjado que insiste tanto em me atormentar. Me encomodar, cutucar, pedir pra invasão e eu tento entrar em um acordo de paz, mas somos como gregos e troianos. Só não sei quem vai ganhar, se é que existe vencedor num "jogo" como esse, certo? Não sei mesmo.
 Só sei que não entendo de nada, que não sei de muita coisa mas que, sinceramente, quero estar presente. Quero fazer parte, quero estar contigo ou eu realmente preciso ser um estereótipo dos caras que você pega? Primeiro que sou uma garota e segundo que tenho o dom da literatura. Isso te serviria? Você deixaria de lado alguns pequenos detalhes e tentaria se deixar levar comigo em pequenas palavras que nos levam como se fossem marés? Ou você viraria as costas e fingiria que nada aconteceu? Talvez eu espere isso de ti. Vire as costas e nada aconteceu. Cê vai embora, eu fico aqui e tá tudo bem. Tá sempre tudo tão bem, não tá? Sempre.
 É, meu bem, fique na minha cabeça ou se vá. Se abra comigo e depois suma no mundo sem me avisar. Cite-me qualquer coisa e me abrace devagar, depois se a noite pedir pra ir embora, a gente deixa. Quem disse que o sol precisa chegar quando se tem os teus olhos pra enxergar?
 Terra à vista.

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Meia dose de pinga.

 Uma dose e meia de pinga e um sorriso sincero para o mundo. Para ti, toda a felicidade do universo e que para mim, seja a mesma o fruto da minha. Quem seria eu sem um copo na mão direita e um cigarro na mão esquerda pra reclamar de você?
 - Cê ainda não foi embora não?
 - Porque?
 - Porque você deveria ir embora. Já disse.
 - Só porque você não me ama mais?
 - É, você tá me atrapalhando já.
 - Cê reclama demais. - Continuou dando de ombros.
 - Reclamo nada, cê que é acomodado demais. Anda, vai embora.
 - Vou nada.
 - Vai sim.
 - Se me der um bom motivo.
 - Deixei de te amar. Não basta?
 - Não, não basta.
 - E porque?
 - Porque cê não deixou de me amar.
 - Como pode ter tanta certeza?
 - Quem deixa de amar não escreve mais. Quem deixa de amar não olha mais assim. Quem deixa de amar não resmunga mais.
 - Do que você ta falando?
 - Que ficaria mais preocupado se você nao resmungasse mais.
 - Porque?
 - Porque aí sim você deixaria de ter me amado.
 - Como pode ter tanta certeza?
 - Eu tenho. Você ainda questiona demais. Ainda me ama.
 - Amo nada.
 - Ama sim. Quer fingir que não, mas quando eu sair, você vai sofrer.
 - Vivi a vida inteira sem você, porque agora vou precisar?
 - Porque me ama.
 - Amo não.
 - Ama. Ama demais. Ama mais que eu.
 - Você é convencido demais.
 - Não. Eu sei o que sente.
 - Então o que sinto?
 - Raiva e amor. Quer estar comigo, me ama mais do que eu te amo mas seu orgulho não te permite.
 - Ah, me poupe!
 - És orgulhoso demais.
 - Nunca fui. És o mais idiota.
 - Sim, mas me ama! Me ama bem mais do que ler Machado de Assis.
 - Cale a boca e dê o fora logo. - Ele se levantou e meu coração apertou, os olhos torceram e imploraram para que ele ficasse, ele pegou a unica coisa que lhe permitia e sorriu pra mim.
 - Eu vou. Eu vou porque me pedes. Eu vou porque te amo. Eu vou porque eu sei eu vou voltar.
 - Não preciso que volte.
 - Eu volto. Volto sim. Volto aqui. - Se aproximou de mim e envolveu seus braços em minha cintura, meu corpo estremeceu como um todo e eu não pude deixar de me dar por vencido.
 - Porque faz isso?
 - Porque te amo. Te amo como me amas. Ama-me como lhe amo e tudo ficará bem.
 Depois, ele nunca mais partiu e se partiu, me levou com ele... Mas agora só tomamos sorvete juntos porque o destino nos permite o eterno, que nunca existiu.

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Canudos.

 Tenho dito que não sei de nada e que hoje não vou respeitar nenhuma regra de pontuação, acentuação, como eu sempre faço. Tenho dito que fico mastigando as verdades e cuspo-as como se fossem totalmente insignificantes. Tenho dito que lhe escrevi um conto de trás pra frente. Tenho dito que... Você e... Eu que... Tudo que... Tenho dito demais.
 É o suficiente pra me fazer aprender a velejar sozinha e se a tempestade vier, que venha com força para que derrube e rasgue as minhas velas. Para que eu não precise continuar e possa apenas olhar o meu farol adiante, que no caso, é você. Que nem sabe o efeito que tem. Quiçá nem se importa com isso. São muitas turbulencias para um voo só.
 E se a neblina chegar, quem sabe eu possa me calar. Quem é que vai me ouvir? Aposto que não será você quem tentará me salvar e no final do dia, não será pelo meu sorriso que você voltaria satisfeita pra casa. Nem sabe que ele é um pouco mais significante quando é com você. Nem sabe o desconforto que me causa ouvir seu nome como se fosse um alguém qualquer. Pros outros é, pra mim não é. Sei lá, sei lá e sei lá.
 Sabe-se lá eu só precisava dizer. Meu silêncio é tudo. Você sabe que eu sei e eu sei que você sabe.
 Estranho mesmo é olhar pra você assim e não conseguir parar e imaginar se um dia você estaria com alguém como eu, que vive de palavras tolas em busca de uma compreensão quase que insignificante para muitos. Estranho mesmo é saber se você se apaixonaria por poetas. Por mim.
 E ainda me perguntam porque acho tanta graça nesse sorriso seu. Seu meio termo. Seu meio tudo.
 Seu meio eu.

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Cinco amigos, cinco almas.

 Pedi para cinco amigos me falarem as cinco palavras que lhe dessem na telha no momento da pergunta. Cada um me disse algo distinto, talvez um pouco próximo do esperado ou totalmente disperso do que eu imaginaria ouvir de cada um deles. Um citou do conhecimento ao dinheiro, enquanto o outro expressou o seu desprezo pelas responsabilidades as quais estava submetido naquele instante, desde um pequeno trabalho em casa, até a melancolia de um poema de Clarice Lispector, o que torna tudo um pouco mais interessante.

 Um dedo cortado, um apartamento quase que vazio. Um irmão mais velho e uma prima, o calor e o clima seco de Cuiabá enquanto ela colocava suas mãos debaixo daquela agua corrente, gelada. Lavava os pratos com certa cautela, embora sua mente estivesse longe de suas ações. Fazia no modo automatico. Pensava em seus pais, talvez em uma musica, em alguém, não dava pra dizer exatamente no que, mas pensava. Pensava em tudo o que tinha pra fazer, em tudo que havia dito, no dia anterior, no amanhã e nas provas do cursinho. Pensava em como seria sua vida daqui pra frente. De tantos altos e baixos, tantas palavras e ela se perdia com o barulho que fazia lá fora.
 Era assim que agia. Olhos azuis com o reflexo da agua nas mãos, cabelos presos e um cansaço quase que incontrolavel tomava conta de seu corpo. Suspirava lentamente enquanto que de longe, pensava na música Janta do Marcelo Camelo com a Mallu Magalhães. O mais engraçado é que ninguém sabe muito bem o que se passa com ela. Talvez gostasse de ouvir essa música em um jantar especial, talvez pensasse em toca-la algum dia, talvez pensasse em decifrar várias outras coisas, já que é coberta por um mistério e um orgulho fora do comum. Não muito aparente, porque não é do feitio dela atirar qualidades ou defeitos no ar pra quem quiser entender. Gostava de guardar, como se fosse uma pequena caixinha cheia de segredos. Diferentes. Algo só dela. Algo que ela só pensava quando sentia aquelas aguas correntes ou quando a agua gelada do chuveiro tocava seu rosto palido, coberto por sardas e molhava seu cilios alaranjados, como os seus cabelos. Talvez ela abrisse os olhos mais um pouco e pudesse sorrir depois e se lembrar que mesmo sendo tão quente, poderia ser melhor. Um frio aqui, dois copos alí, uma cerveja no freezer e uma história pra contar.
 Se atirou no sofá e adormeceu, como quem não esperava mais nada de ninguém.

 Já em outro canto da cidade, temos uma garota de cabelos negros cacheados, longos, que combinavam com o tom de sua pele e com seus oculos que eram um pouco vintage. Ela acabara de ler um texto qualquer e dentro de seu ser, que parecia tão calmo naquele instante, idéias vinham a mil por hora. Pensava em poetas, sentimentos, melancolia e como todos eles eram feitos para o sofrimento. Como os poetas amavam diferente e amavam com uma grande tendencia a decepção e a dor. Colocando suas palavras imendadas em folhas de papéis amareladas ou manchadas, brancas ou cheias de rabiscos de algo que já existiu por alí. Sombreados de outros sentimentos e palavras e ela colocava sua mente desenhada nesse mesmo rascunho.
 Como se fosse um livro, folheava sua mente em busca de respostas, de sentimentos que não pareciam ter razão alguma. Ia atrás do irracional querendo acreditar no racional e não encontrava motivos. Não encontrava nada. Nada além de uma grande definição vazia de um dicionario que tentava explicar o sentimento "amor". Dicionarios são calculistas. Dicionarios são estupidos. Dicionarios não entendem de nada. Dicionarios não são como ela. Menina movida a sentimentos quase que impossiveis de se entender. Menina diferente ou indiferente, menina que aos olhos de alguns, era muito mais do que incrivel. Menina que talvez pensasse em alguem agora. Menina que ia dormir depois do jantar. Menina de olhos castanhos como a noite seca que fazia lá fora. Menina sentimental.

 Enquanto isso, voltando da faculdade tarde da noite, tinhamos um garoto de cabelos cacheados e louros. Era alto, magro, uma expressão bem timida na face para quem não o conhecia e um coração maior do que se imagina. Ele andava com passos lentos, resmungando de alguma coisa que havia acontecido e ao mesmo tempo, pensando em como seria bom deixar de lado todo esse estresse rotineiro para poder esquecer de tudo que lhe acontecia no momento. Pensava em uma massagem, talvez em algum show que pudesse lhe fazer beber quantas doses de tequila ele pudesse, para ficar embriagado e aproveitar por alguns segundos, uma felicidade quase que instantanea, que lhe deixaria com uma dor de cabeça terrivel no dia seguinte, mas seria apenas consequencia de uma noite bem aproveitada.
 A rua escura, os fones de ouvido e uma música boa. Provavelmente ouvia Oasis. Era bem a cara dele e continuava caminhando enquanto cantarolava algumas parte de uma das músicas mais famosas da banda, que se chamava wonderwall. Chutava pedras e sonhos. Tentava encontrar algo que não sabia muito bem o que era. Chafarizes em uma tarde de sol, no meio de uma praça, agua gelada, fonte de pureza, fonte de paz, aonde pudesse deitar no colo de uma pessoa especial e pudesse relaxar. Como se não existisse hora pra acabar, como se o mundo fosse parar e seus desejos, ficariam alí. Seu mundo seria aquilo e nada mais.
 Infelizmente, quando abriu a porta de casa, sentiu o calor novamente e todos os seus sonhos, foram pra cama, dormir para esperar um dia melhor.

 Pra lá pro outro lado da cidade, estava mais uma garota perdida em pensamentos. Em conversas no facebook, risadas altas e coisas do tipo. Conversava com alguém, não me recordo quem no momento, mas conversava algo sobre a paixão, sobre fidelidade e sobre amizade acima de tudo. Ela não pensava em muita coisa não, sempre fora daquelas que preferia deixar acontecer do que se encucar com coisas que talvez nunca valessem a pena. Ficava tranquila enquanto suspirava ou fumava um cigarro na varanda de casa, contando as horas pra poder dormir ou varava noites pensando em como o amanhã poderia ser pior. Em todo o conhecimento que tinha, em todas as pequenas coisas que possuía, os amigos, a faculdade, o emprego. Ela tinha uma vida normal como qualquer um no auge de seus 20 anos de idade. Realizações e frustrações, como sempre.
 Deitou-se na cama e pensou em como seria sua vida depois de formada. Não pensou se iria ou não se casar, isso era o de menos pra ela. Pensou no salário e riu. Pensou nos amigos, nas festas, nos shows e em tudo que poderia fazer. Nas responsabilidades principalmente e lembrou-se que sempre vivera bem, tranquilamente bem, embora pudesse ter alguns pequenos problemas aqui ou alí, mas isso era normal. Ria dos momentos no show do The Pretty Reckless em São Paulo e sussurrava alguns pequenos sonhos antes de adormecer realmente. Ela chegaria a algum lugar, não escolhia aonde iria querer parar, mas ela sabia que chegaria alí. Cedo ou tarde.

 Próximo dalí, havia uma alma que pedia por ajuda. Escondia-se entre sorrisos e pequenas palavras que resumiam tudo o que sentia naquele instante. Estava com um pouco de dor de garganta, nada demais, talvez o inicio de um resfriado ou coisa parecida. Estava cansada também, o dia havia sido complicado e a saudade que sentia de seu amor era quase impossivel de se conter. Escrevia-lhe cartas e mais cartas de amor, querendo derrubar a distancia que parecia ser quase que infinita e isso a deixava assustada. Medo de perder. Coisa comum quando se ama alguém, quando se está com alguem e não se pode estar sempre presente. Engoliu em seco e deixou passar, ficando apenas confusa com toda a situação que estava ocorrendo ao seu redor. Talvez seja o cansaço.
 Atirou seu tenis para longe e apoiou a cabeça no encosto do sofá. Assistiu um pouco sobre as tragédias ocorridas durante o dia e logo adormeceu sem nem perceber. Torcia para que o dia amanhã acordasse um pouco mais quente do que o de hoje, afinal, por mais seco que esteja, nem todo dia é ensolarado pra todo mundo. O medo é um eclipse que toma conta do céu daqueles que podem perder o que ama.

 E eu? Eu só sou uma poeta escrevendo sobre cinco almas diferentes. Quem são eles? Eles sabem. Ninguém precisa saber.

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Sobre poesias e poetas.

 Existem teorias que dizem que os poetas nasceram pra sofrer. Nasceram pra se apaixonar, amar intensamente, pensar na morte várias e várias vezes e passar pro papel toda aquela angustia de ser rejeitado pela pessoa amada. Dizem que a alma do poeta é naturalmente melancólica, jamais é corrompida. O poeta nasceu pra escrever, pra sentir dor, pra sentir o gosto amargo em sua boca, sem nenhum grão de açucar, sem momentos bons e vende sua tristeza em paginas, em palavras, em livros e em jornais. Vende sua tristeza para outras almas tristes que procuram arrego, procuram alguém que se sinta justamente como eles e se identificam com as sinceras palavras daquele poeta apaixonado, com alma de Pierrot. Alma de dor.
 Poetas não precisam ser inteligentes, eles não precisam ouvir Chico Buarque pra poder encontrar palavras requintadas e encher o seu texto com várias banalidades, dando rodeios e mais rodeios sem chegar a lugar algum. Poetas não precisam saber de nada, poetas só precisam sentir. Poetas nem sempre são emocionais, existem os racionais, como eu, mas em sua maioria, são emocionais e costumam  expressar melhor do que qualquer um que seja racional. O amor é algo impossivel de ser racionalizado, de ser calculado e eu nem sei porque insisto em arrumar uma regra basica para ele. Aplicar nele uma equação de segundo grau, pra chegar a resultados positivos e negativos sem saber pra que utiliza-los depois. Coisas inexplicaveis que acabam por acontecer.
 Sinto saudades da época em que eu estava perdidamente apaixonada, aonde eu me inspirava em coisas quase que inuteis para descrever um texto tão tragico quanto a minha vida inutil. Gostava da dor, do gosto da cachaça na boca, do cigarro ao lado, das tosses, das lagrimas, do rancor, do cansaço e do suor que me cobria os poros do rosto. O cabelo bagunçado, os olhos vermelhos e perdidos, concentrados em palavras imendando palavras e me levando a uma eterna Pasárgada, num estado de transe perfeito, aonde nada precisasse fazer sentido, aonde eu me enrolava em papéis e o fogo ao fundo, queimava minhas angustias, uma por uma e eu, finalmente, conseguia entender a razão de tudo ser como era.
 Hoje, continuo sendo uma poeta que vive entre duvidas e insegurança. Sou uma poeta tentando desvendar outro mistério, uma poeta procurando palavras bonitas para conquistar mais um amor que talvez, seja impossivel. Sou, mais uma vez, uma poeta na beira de um precipicio, esperando a grande hora para cair e flutuar sobre as nuvens não existentes de um mundo quase irreal para mim. Sou uma poeta afogada na angustia de viver dezoito anos e não saber de muita coisa ainda. Sou uma poeta movida a curiosidade. Sou uma poeta melancólica, com uma paixão quase que incomum para todos os tipos de tragédias existentes, porque elas me rodeiam, elas fazem parte de mim e sou o que sou por conta de todas as lagrimas que já derrubei um dia.
 Sou poeta, sou literatura, sou um nada e sou razão. Emoção. Tudo. Não importa, só sou poeta. Pseudo poeta.

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Um domingo no meu apartamento.

 Desistir de você talvez tenha sido a coisa mais sabia que eu já tenha feito. Desistir de tudo, de planos e de todos os momentos que eu imaginei ter com você e que se tornaram um pesadelo quando me aproximei e tentei pegar sua mão, por uma ultima vez e descobrir que depois daquilo, depois daquele aperto no peito, as coisas nunca mais seriam as mesmas. Soltar sua mão pra cair ao inferno de novo e voltar a bagunça que minha vida sempre fora. Dois dias e meio, talvez mais alguns meses tentando apagar todos os seus rabiscos pelas paredes do meu quarto e eu que nunca soube esconder, agora escondia as cicatrizes de todas as palavras que você ja me disse um dia.
 Hoje sou eu novamente. Menina estabanada dos cabelos bagunçados e dos oculos estranhos. Sentada no chão com a cabeça encostada na parede, escrevendo rascunhos e pensando em tudo que poderia ter sido, mas nunca foi. Em tudo que eu poderia ter dito, mas nunca disse e não me arrependo. Eu continuaria calada o tempo inteiro, porque no final, as palavras sempre iriam contrariar os meus pensamentos e tudo voltaria ao normal, como sempre.
 Embora eu tenha organizado a minha vida, me surgiu algo inesperado que acabou por bagunça-la mais uma vez e cá estou novamente perdida em devaneios, bagunças, livros, cds, discos, uma porrada de papéis rasgados, canetas e lapis, todos sem ponta, todos desgastados e um olhar sedento por um momento especial com a garota do verão passado. Mãos suadas, marcando pedaços do papel com uma expressão quase indiferente. Não consigo me ver agora, não consigo entender o que se passa, porque tanta espera, porque não pode ser dessa vez. Porque não consigo dizer nada. Porque é tudo tão bobo e estupido ao lado dela.
 Eu suspiro e olho ao redor. Tudo escuro. Janelas fechadas, cortinas fechadas, luzes apagadas, poeira e mais poeira. Panos brancos, conversas aleatórias, risadas, choros, gritos, cadeiras, carros, momentos, raiva. É tanta coisa em um espaço tão pequeno que eu nunca saberia diferenciar o porque. O porque de tudo ser assim, de tudo ter que acontecer da forma que é. De não dormir de madrugada e não sonhar contigo ou pensar nos olhos dela durante uma noite inteira até o relógio despertar e eu ter que voltar para a minha vida tão estupida e banal. A minha bagunça diaria. Os meus sapatos no chão, as minhas roupas, o meu violão no meio da confusão e um bando de histórias sem nexo algum.
 Não sei mais o que fazer. Só suspiro e te escrevo com um dia a esperança de criar a coragem para lhe dizer tudo o que eu sempre quis dizer. Fico me perguntando se você iria gostar de saber ou se simplesmente, iria embora pra deixar minha vida bagunçada e eu, sozinha... Se bem que nunca esteve por aqui. Quem me dera você estivesse aqui. Quem me dera eu pudesse lhe fazer feliz. Ouvir beatles e te por pra dormir. Quem me dera você fosse minha. Só minha.

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Central Park

 Era verão. 1932. Nova Iorque.
 Eu caminhava pelo Central Park procurando uma solução. Via casais, via crianças, ouvia risadas e observava uma Nova Iorque toda em branco e preto, sem respostas e sem alternativas para um ser perdido como eu. Eu estava no auge dos meus 23 anos e enquanto não trabalhava para a mafia Nova Iorquina, caminhava no Central Park para fumar o meu querido Marlboro Red e pensar sobre todas as mortes cruéis que já havia participado. Sempre na cena do crime, nunca procurado pela policia e sempre fugindo dos outros mafiosos. Sempre com uma arma no bolso e os olhos azuis atentos para o que poderia acontecer.
 Embora eu fosse um filho da puta assassino, eu gostava de observar casais com crianças, porque toda aquela pureza que eu nunca pude ter, eu via naqueles pequenos seres que um dia, provavelmente, estariam no mesmo lugar que eu ou levando uma vida completamente normal. Teriam pais para visitar nos feriados, esposas pra amar e respeitar, crianças pra contar história enquanto o desfecho das minhas, sempre aconteciam em tragédias. Uma sequencia de tragédias durante a minha guerra civil. O país se recuperava da crise de 29 ainda e eu aqui, matando e roubando para satisfazer o meu patrão.

 A noite chegou. Eu estava no bar do Moretti, meu grande chefe, enquanto tomava algumas doses de whisky e ouvia a bela voz de Louis Armstrong soando na radio. Eu era apaixonado por Louis Armstrong e suas musicas me acalmavam. Eu costumava ouvi-las antes de arrumar mais um trabalho sujo, como da ultima vez em que assassinei uma linda garota enquanto aquela voz tão aspera soava pelos comodos da casa da menina do Brooklyn. Suspirei e acordei quando meus colegas me chamaram para ouvir o plano da noite. O grande assassinato seria hoje, a grande hora. Preparei meus dedos para puxar aquele gatilho pela última vez e nunca mais sentir tanta dor como sinto quando estou prestes a fazer isso.
 Debrucei sobre a mesa ensanguentada a minha frente. Lagrimas escorriam do meu rosto enquanto via aquele ser tão inocente sangrar sua alma em frente a mim. Suspirei como se não houvesse outra alternativa e tentei me acalmar. Eu já não aguentava mais. O unico problema é que sair da mafia, me causaria muitos problemas, eu não sobreviveria. Moretti não me deixaria andar um quarteirão sem saber com quem estava ou aonde iria. Eu nunca poderia me casar e nem ter meus filhos, criar alguém para compartilhar comigo todas as minhas frustrações. Criar um amor eterno e um laço de esperança de dar uma vida bem mais feliz a esse filho meu.
 A arma jogada no chão, os olhos azuis manchados pela luz e um tiro no ar. Quem sabe agora eu finalmente possa me debruçar sobre as arvores do Central Park e dormir como quem descansa num pique nique com a namorada. Tarde demais pra sonhar quando se tem balas na pistola.

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De segunda a segunda.

 O bom da vida é foder e nunca ser fodido. O bom da vida é você olhar fundo nos olhos da pessoa e dizer o quanto ela é insignificante pra você. O bom da vida é você foder com tudo e no final, sair por um fio. O bom da vida é você acreditar nas promessas que os outros tem a lhe oferecer, com um pseudo sentimentalismo assustador. O bom da vida é você crer que você é capaz de qualquer coisa.
 Pessimismo é o meu primeiro nome, vamos dizer assim que sou realista, embora julguem isso como um pessimismo. Eu gosto de foder, gosto de correr, gosto de fugir, gosto de estragar, gosto do que não me convem e gosto da sensação de estar sempre largada e abandonada, porque é assim que se vive. Largada, abandonada e fodida com cheiro de cachaça, no final das contas, ninguém tá nem aí pra porra nenhuma e eu concordo que se importar, não leva ninguém a nada.
 Então, como eu não tenho lá tudo de lindo e maravilhoso, eu tento investir no que mais me convem: a inteligencia. Consigo uma pseudo inteligencia fora do comum, aonde as pessoas insistem em dizer que sou 'culta' e o caralho a quatro. Não sou porra nenhuma, sou um monte de lixo ocupando lugar no espaço, de braços cruzados e esperando por algo melhor, que nunca vai acontecer.
 Sou aquela menina fumando um cigarro no ponto de onibus, esperando para ir pro trabalho e torcendo para que no final do dia, as coisas melhorem. Sou aquela desgraça invisivel na cafeteria as 7 da manhã, tomando um café e de olhos pregados no jornal pra ver se o caos diario estaria prestes a mudar em poucos segundos. Não sou nada. Nada além de mais um ser humano nessa porra de confusão que eles chamam de mundo.
 Claro, claro, sou aquela que tem que combinar com os padrões! Os quais eu estou pouco me fodendo para eles, sinceramente, foda-se. Eu estou andando no meio de vinte milhões de pessoas e nenhuma delas me olha, ou se olham é porque eu sou estranha demais, daquelas que eles pensam "nossa, que gracinha de adolescente revoltada que tem estilo próprio." e eu sinceramente desejo que vocês vão a merda.
 Vou sair do trabalho depois das 21 horas e lembrar que minha vida é uma merda. Vou me lembrar de todas as coisas que me aguardam em casa ou de todos os olhares na manhã seguinte. Vou me lembrar que isso nunca vai mudar, mesmo que um bando de filhos da puta me digam que eu preciso me animar. Foda-se vocês. Não são vocês que estão sendo fodidos todos os dias. Não são vocês. E o pior é que dizem entender. Vocês não entendem porra nenhuma a não ser um palmo do seu maldito nariz de perfeito descendente europeu. Vá a merda, sinceramente.
 De que adianta pensar, tentar e crer em algo quando se passa a vida inteira fodido? É assim que funciona. As regras nunca se aplicam a todos, apenas a uma minoria que diz entender o que os outros passam. Apenas a uma minoria que diz 'acredite nos seus sonhos'. Vão a merda, sonhos não levam ninguém a nada. A realidade é outra e você vai se foder de qualquer jeito.
 Sinceramente, a única coisa que ainda me mantem viva são as palavras que eu ainda posso proferir e fingir que tudo vai passar, quando no fim, se repete dia após dia. E que se foda. Sempre.

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