Era final de tarde, o transito estava infernal e a chuva começara a cair naquela cidade, acinzentando os céus e escurecendo o que ainda restava para enxergar. Os carros buzinavam e tudo que se podia ver eram os faróis acesos em busca de alguma resposta, de alguma alternativa, de alguma saída, no entanto, todos estavamos presos naquele inferno das 18 horas da tarde e num daqueles carros, estava eu, ansioso para voltar para casa sabe-se lá pelo que, talvez pelo dia ruim que havia tido nessa sexta feira... Embora fosse sexta feira.
Minutos foram se passando e eu decidi ligar o radio para ouvir alguma musiquinha que me animasse, eu estava um pouco tranquilo porque gostava da chuva. Sempre gostei da chuva. Sempre gostei da forma com que ela caía do céu, parecia uma bomba explodindo no chão e derramando suas desgraças por todo o solo em que pisavamos e continuavamos caminhando sob a mesma desgraçada diaria, sobre a rotina maldita que tinhamos e eu continuava distraido enquanto mudava de radio.
- Hm, isso fica um porre a essa hora do dia... Como eu mesmo me esqueço disso? - E encostei a testa no volante, esperando alguma solução.
Os carros foram saindo, as avenidas foram se esvaziando e eu finalmente cheguei em casa. A noite já havia chegado e a chuva continuava forte lá fora, entrei na garagem, estacionei meu carro e subi pelo elevador. Eu morava em um dos ultimos andares daquela apartamento. Exatamente no oitavo andar. Abri a porta e entrei pela casa, estava escura, do jeito que eu a havia deixado hoje cedo. Acendi as luzes da sala e olhei pela porta de vidro a chuva cobrindo a cidade inteira, estava cada vez mais intensa enquanto alguns carros ainda tentavam escapar por algumas ruas estreitas e eu a observava.
O tempo foi passando e a saudade daqueles olhos castanhos foram batendo novamente. Eu assistia televisão mas não me concentrava em nada do que diziam, eu só pensava naquele par de tatuagens, naquele cabelo vermelho que ela tinha e naqueles lábios doces e lindos, fortes como ela. Naquele seu corpo macio e convidativo que sempre me deixava louco e lembrava de todas as promessas que haviamos feitos, de todos os beijos, os carinhos e os dias que passamos juntos. Aquilo me torturava e me matava aos poucos, eu sentia aquela dor imensa tomando conta de mim e não podia fazer nada para conte-la. Ela estava com outro alguém. Estava mais feliz. Ela amava esse outro alguém. Era alguém certo pra ela pois eu nunca fora a pessoa certa, eu era o oposto que ela não queria, eu não era nada do que ela queria, definitivamente isso... Eu só tinha todo o amor que ela queria.
Suspirei e resolvi sair. Sabia que se ficasse em casa aquilo podia piorar e então eu resolvi que se tinha que piorar, teria que ser de outra forma. Levantei e saí. Fui pela chuva procurando alguma coisa e encontrei um clube noturno de strip tease, por que não? Talvez eu precisasse de algumas mulheres bem vadias se esfregando em mim para que eu me sentisse um pouco melhor. Segui a placa e entrei, o lugar era abandonado, mais parecia um depósito preto, minusculo, com uma luz verde na frente, o lugar cheirava a urina e a vomito e apenas aquela luz iluminava aquele lugar, a rua era toda escura e as luzes dos postes pareciam estar queimadas, sei lá, nem me importei muito com isso. Adentrei e não demorou muito para que uma vadia loira viesse se esfregar em mim. Dizia milhares de coisas mas eu resolvi dispensa-la para me sentar em uma mesa e encher a cara, quem sabe assim eu criaria coragem para me divertir com isso.
Pedi o whisky mais barato do cardapio, bebi tão rapido que nem pude perceber que já estava no quinto copo e já estava me sentindo um pouco embriagado. Acendi um cigarro e comecei a tragar rapidamente enquanto bebia aquele whisky horrivel. Observei melhor o clube e percebi que aquela merda realmente estava deprimente. Os homens ao meu redor encoxavam as vadias como se fossem garanhões, como se não precisassem pagar por isso, pagar pra se sentir O melhor e eu nunca precisei disso. Outros já estava quase comendo as vadias em cima da mesa e outros bebiam e reclamavam de suas mulheres. Talvez eu fosse o único alí que estivesse sofrendo por causa de uma mulher qualquer, eu sentia que já estava perdendo os sentidos e não estava me importando muito com isso. Terminei o meu whisky e fui até o banheiro. Alí haviam alguns homens pagando boquete para outros enquanto eu observava minha cara embriagada no espelho. Meus olhos estavam tão avermelhados que chegavam a me assustar e eu estava fedendo a whisky, estava fedendo a tristeza, a melancolia e a depressão, estava fedendo a saudade e isso me irritava. Saí do banheiro um pouco nervoso e voltei a beber. Bebi tanto que perdi a noção e logo quando estava saindo do bar, a mesma loira vadia me puxou, disse que agora eu não escaparia de suas garras, empurrei-a e resolvi seguir o meu caminho, não estava me importando com sexo e nem nada, eu só queria a minha ruivinha de volta.
Entrei em meu carro e decidi voltar pra casa, a chuva estava mais intensa ainda e eu não faço idéia de como consegui voltar dirigindo, pois eu estava muito bebado. Cheguei em casa e quando abri a porta, resolvi tomar outro copo de whisky mas dessa vez, o meu favorito. Bebi a garrafa inteira enquanto observava a chuva lá fora. O cigarro continuava queimando no cinzeiro e eu ainda tragava as ultimas lembranças daquele 15 de dezembro de 2010... Atirei a garrafa vazia na parede e apertei todos os seus estilhaços na mão, cortando-me sem me importar, eu gritava de dor, eu sofria de desespero e pedia para que isso acabasse logo, pois eu já não aguentava mais... Percebi que não sabia viver sem a minha ruivinha, sem aquela menina que me fazia tão bem mas que ao mesmo tempo, me fazia ver o inferno de tão mal que já havia feito, no entanto, eu não sabia esquece-la.
- Eu sei que você não vai voltar, mas a porta está aberta! Volte quando precisar de mim, volte quando sentir saudades, volte quando quiser o meu abraço protetor novamente, volte para mim quando achar que finalmente está me amando de volta, volte e acabe com essa solidão... Volte antes que seja tarde demais.
E as palavras se apagaram num triste brando sem fim... Aonde nem a chuva conseguiu acalmar aquelas mãos perdidas, cobertas de sangue que esperavam uma solução... Talvez a solução final de todos os sentidos ou sentimentos... Sen-ti... Mentos.
Sexta-feira.

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