Querida L,
Venho através dessa carta expressar o meu descontentamento em relação as suas atitudes ultimamente, tendo em vista que muitos de seus passos parecem estar realmente embriagados e em direções completamente opostas das quais você pretendia seguir há um tempo atrás. Devo dizer que não reconheço muito de sua personalidade, já que para tal, mudastes da água para o vinho de uma forma trágica, desmoronando pontes, muralhas e o que fosse preciso pra alcançar o seu tão almejado objetivo, obviamente porque és teimosa demais pra se dar de até onde deveria ir, embora sua persistência seja algo positivo quando relacionada a outras coisas.
Vejo você de bar em bar. Bêbada. Cambaleando com medicamentos controlados na mão direita e uma garrafa de cerveja na mão esquerda. Pálida e esquálida como nunca, uma síndrome de quem perdeu toda coloração e a vontade de caminhar pelas pedras amarelas que costumavam constituir o seu caminho. Deixou na mesa a sua caneta. A caneta predileta, a caneta que tudo escrevia, a caneta dos lenços e contos, a caneta dos desabafos. Deixou no canto, vomitado e mal acompanhado, um violão quebrado e desafinado, sem saber fazer acordes, sem saber cantar tão suavemente como antes. Deixou no balcão a mochila verde, cheia de todas aquelas coisas que faziam sentido, agora parecem estúpidas e fúteis.
Que te aconteceu?
Estás embriagada demais pra ver? Pra entender?
Bastasse uma ligação, você estava lá, caminhando de pés juntos nas areias das praias nojentas e cagadas de Santos.
Que te aborreceu?
Quanto peso é esse que carrega pra tão longe desse lugar tão profundo que chegastes?
E o que diria Mars? Phobos? Deimos?
Seus sonhos?
Todas as respostas foram bombardeadas por um momento, um instinto, um abismo em que você escorregou e caiu.
Ninguém te viu, ninguém te vê, tu também não quer que te vejam.
É estranho demais querer morrer sozinho, mas é bonito de se ver.
Que nasce, fode, morre, tudo num ciclo infinito dessa grande merda que chamamos de vida.
E você, L? Vai pra onde?
Continuar vagando de bar em bar? Procurando não achar?
Procurando entender? Envelhecendo meses em dias?
Quem é que amas tanto que fumas cigarros baratos?
Uísques, noitadas?
Te perdestes no meio do caminho.
Eu também.
F. F.
Archive for novembro 2014
Embriaguez
Caixinha lilás
Da última vez que beijei teus lábios, ainda tinham o gosto amargo da cerveja da primeira noite,
A noite que começou como um desastre, mas que terminou como um filme de Hollywood. Final feliz, eu feliz, você feliz, ou mais ou menos, porém felizes.
Senti falta desse gosto todos esses dias que andei o substituindo pelo gosto amargo do calmante que me tem feito dormir. A alma de poeta se extinguiu junto com um coração partido, jorrando sangue dentro do meu peito e espalhando hematomas por todos os poros de minha pele tão pálida.
Eu me pergunto:
Onde você está?
O que está fazendo?
Sinto falta dos seus beijos.
Penso, repenso, trepenso, relembro de tudo. Suas mãos não me deixam dormir nem a base de morfina.
Os suspiros do outro lado do quarto já não fazem diferença, nem os roncos, nem os desejos guardados dentro daquela caixinha lilás que esconde a lembrança mais cruel de todas.
Sua aliança. Minha aliança.
Seu bilhete.
Todos aqueles bilhetes que você me escreveu.
Todos.
Incluindo o do pão de queijo.
Todos os bilhetes são melancólicos dentro dessa caixinha tão pequena no fundo do meu armário, me dando calafrios toda vez que suas cores insistem em chamar minha atenção.
Meu amor era violeta. O teu também. O nosso amor era violeta.
Violeta como o dia que nasce e dá o lugar para a noite, como você era meu sol e eu era a lua, precisando de ti para brilhar.
As voltas sem sentido, as lágrimas que se tornaram rotineiras, a falta que tomou conta de todo o meu espaço e substituiu o que dentro de mim havia.
Me alimento de saudade. Dia após dia.
Fome não tenho, sede também não.
Só saudade, saudade, saudade e tristeza.
É tristeza que não acaba mais.
Tanta tristeza que o mar aceitaria minhas lágrimas como colaboração para que crescesse.
Tanta tristeza que nem o mais triste dos homens seria capaz de aguentar.
A solidão que você deixou entrar pela porta que esqueceu aberta, a aliança de prata que deixou em cima da mesa, o sol que se apagou durante um inverno tenebroso em qualquer cidade russa.
Pouco uísque, pouco remédio para tanta dor, tanta tristeza...
Tanta esperança para que não hajam possibilidades.
Eu continuo a gritar, da janela do meu quarto, num dia de chuva, com os bilhetes manchados pelo sangue que escorre friamente de minhas veias ao te esperar.
Onde está você agora?
Bárbara.
Quatro passos para o sucesso do foda-se
Se você bem como eu, teve seu coração partido em pedaços tão pequenos que está parecendo quase impossível de se reerguer, vou lhes dar algumas dicas que talvez ajudem a melhorar (piorar) o processo de cura dessa grande merda que dizem se curar com o tempo, mas que se fodam.