As luzes da cidade estão acesas. Elas iluminam parcialmente o meu quarto escuro, o quarto aonde me escondo e escrevo minhas bobagens, riscando palavras, textos, frases feitas e sinceridades ditas, gosto de pensar que apenas eu vou le-las e que ninguém vai compreender. Eu sei, pode estar um pouco escuro mas isso não é motivo para deixar de escrever. A escuridão me ajuda. Ela me guia, me vira, me desvira, me deixa de cabeça para baixo, me faz agarrar o silêncio e a solidão, abraça-las como um só. A minha maior miséria.
Estou sozinha. Completamente só, sem ninguém, sem nada, sem ajuda e sem respostas, a única coisa que ouço são os barulhos dos carros passando pelas avenidas, todos correndo em direções diferentes, em busca de um caminho, sim, um caminho... Aquele que eu não encontrei, aquele que eu não tenho para onde seguir. O cigarro aceso no cinzeiro, com o maço jogado pelo meio do quarto, acompanhado de um vinho barato que particularmente me deixaria embriagada eram as unicas coisas que me faziam companhia. Eu me sufocava com aquela fumaça e com aquele cheiro de alcool, cada vez mais forte pois dessa vez, talvez fosse um exagero comprar as 4 garrafas. Eu me embriagava até essa tristeza passar e mesmo assim, ela não passava e eu não precisava de ninguém. Escrevia só e a caneta continuava por si, eram palavras imendando palavras, levando-as a qualquer lugar, exatamente aquele aonde eu gostaria de chegar, embora não tivesse saída.
Desconfio tanto que desconfio até de mim mesma. Tenho tantas dúvidas em relação a mim que nunca vou saber responde-las, quem sabe se soubesse, estaria melhor, aceitaria melhor. Meus olhos fitavam aquele papel com milhares de palavras e as perseguia como um só, como um todo e me causava sensações estranhas, pois já estava alcoolizada. Fiquei insatisfeita com as besteiras e logo arranquei a folha com rapidez, atirando-a sobre uma garrafa de vinho que nem se mexeu com o impacto. Peguei meu cigarro no cinzeiro, com as mãos tremulas e o levei até minha boca, traguei. Soltei a fumaça como se fosse a coisa mais comum do mundo e logo abri outra folha de papel e desta vez passei a escrever com o cigarro, queimando cada minimo detalhe desta folha branca, que parecia refletir tudo o que eu era.
"Eu sou exatamente como um final feliz, eu sou vazio, eu sou puro, eu sou triste."
"Finais felizes não existem."
"Amei-a como se fosse a última."
"Dei-lhe meu tudo, meu todo, minha alma que acabou por se afogar."
E com rancor, acabei por atirar uma das garrafas de vinho diretamente na parede escura, ninguém ia ouvir, ninguém jamais iria se importar e com as mãos cheias de sangue, decidi.
"Vivo por viver, sou quem sou, respiro você, preciso de você."
"Você me matou, você me destruiu, você me levou ao suicidio."
"Fez com que a minha própria arma me traísse."
"Me tirou tudo o que pôde mas de mim nunca tirou o que mais precisava: O meu amor"
E amei-a como se fosse a última vez, com marcas de sangue, embriagada, num quarto de um hotel barato numa cidade qualquer... A noite, por fim, adormeceu.
Vinhos baratos e promessas de bar.

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