Archive for abril 2012

Me deixa fumar, porra!

 Cigarro e cachaça. Ah, cigarro e cachaça! Muito bem dito, muito bem posto e é assim que funciona! Cigarro combina tão bem com cachaça, como o inglês combina tão bem com o seu chá, só que é chulo. Não é coisa de inglês tomar uma cachaça e fumar um cigarro. É coisa de gente chula, de gente no fim do poço, de gente que não tem mais o que fazer, de bebado num boteco que não tem expectativa nenhuma de um futuro pleno e "feliz". Quer dizer, pra sociedade não, mas pode ser que ele seja feliz bebendo a cachaça dele em paz.
 É como fumar maconha. Quem nunca fumou maconha?
 - Cria vergonha na cara, vagabundo! Coisa de sem vergonha, de hippie. - Engraçado que tudo é culpa deles, né? E dos ciganos também. Fumar maconha é coisa de hippie que não tem futuro e nem nada. Puta sociedade escrota, isso sim. - Fumar maconha é só pra gente idiota, é só pra isso e aquilo.
 Discordo. Se fosse coisa de gente idiota, Chico Buarque não fumaria maconha. Vinicius de Moraes não tomaria cachaça. Acho tão engraçado o falso moralismo dessa sociedade que julga os apreciadores da maconha, os fumantes e os cachaceiros, só porque fazem o que fazem. Qual o problema? Lhe encomoda?
 Engraçado é que para os mais "quadradões", seria bem mais facil se exterminassem todos os maconheiros, fumantes e cachaceiros do planeta terra. Talvez eles ficassem com tudo e fossem fumar maconha no quintal de casa, ou fumar cigarro escondido da esposa no banheiro e beber uma dose de ypioca no boteco alí da esquina, ainda mais se for o boteco do seu Zé, porque todo mundo gosta dele, não?
 Daí o mundo seria composto por gente que não fuma, não bebe e não faz nada de "errado", porque até aonde eu sei, fumar maconha não é errado. Nem fumar cigarro e muito menos beber cachaça. Até porque se realmente fosse errado, as pessoas não produziriam. As industrias de cigarros quebrariam, as cachaçarias fechariam (e os brasileiros morreriam de abstinencia, lógico) e os "hippies" não plantariam maconha. O próprio ser humano cria a sua "desgraça" e depois a julga como algo de "errado". Estranho. Não somos a raça tão perfeita? Tão inteligente? Com capacidade de se comunicar, de construir, de revolucionar? Uau! É de dar arrepios, não? Orgulho de ser essa raça.
 Que ao meu ver, continua sendo extremamente incompetente. Tão irônico proibir o cigarro, a maconha, a cachaça mas não as guerras, as armas, as mortes e todas as desgraças diarias que somos obrigados a assistir pela televisão. Engraçado demais como somos contraditórios e esquisitos. Como gostamos de exterminar nossa própria espécie com a nossa alienação, como gostamos de destruir tudo ao nosso redor e nos sentimos "orgulhosos" por isso.
 Que se foda o falso moralismo da sociedade escrota e que se fodam os "quadradões" também, digo isso em nomes dos hippies que concordariam comigo. Continuo bebendo cachaça, continuo achando interessante e continuo gostando de maconha, portanto, só me deixa fumar, porra.

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Estatisticas e romantismo.

 Tô nervosa. De novo, porra. Tô nervosa pra caralho.
 Últimamente eu ando assim, nervosa e nem sei porque. Não gosto muito da minha rotina e nem do que tenho presenciado, nem das pequenas mudanças estranhas que acontecem comigo e detesto admitir que fico encomodada durante a maior parte do meu dia. Sério. Não sei o que eu tenho de errado.
 Tá, tá certo, talvez eu saiba o que eu tenho de errado mas e daí? O que é que eu vou fazer? Quem sou eu pra me dizer o que eu tenho que fazer? A minha solução pra tudo era a bela tarde quente e abafada em Cuiabá, fumando um cigarro na varanda de casa e contemplando o asfalto cinza escuro e esburacado a minha frente e era assim que eu conseguia encontrar as respostas simples porque até então, eu não me questionava o impossivel... Ou talvez questionasse, sei lá. Vai entender.
 Só sei que dito isso, eu fui ao google fazer uma pesquisa. Uma pesquisa bastante curiosa sobre o porque de pessoas como eu ficarem sozinhas na maior parte do tempo. Sério. Por que?
 Cheguei a conclusão de que eu era uma pseudo-romantista, porque não acreditava em finais felizes e dava preferencia as tragédias no final das histórias. Também cheguei a conclusão de que as pessoas se assustam com a minha falta de sensibilidade durante certas ocasiões. Percebi também que elas detestam a minha mania de querer escrever demais, ler mais um pouco e contar os casos com indiferença. Acho que entendo porque também prefiro ficar sozinha.
 Não vou ter uma sindrome de adolescente não compreendida pela sociedade, embora todos já tenham passado por isso, eu não vou repetir. Acho tão clichê. Tanta coisa que eu faço e considero clichê mas continuo fazendo, impossivel não ser clichê. Ninguém compreende ninguém e é isso mesmo. Funciona assim. Nada paga nada.
 Então eu chego a simples conclusão de que eu estou repetindo todas as coisas clichês que um individuo faz quando não está no seu estado 'normal', se é que me entende. Quando começa a ficar bobo e todos os seus amigos ficam encantados porque, mesmo sendo ironico, ele está apaixonado. Quanto amor, meu Deus! De onde tiram todos esses exageros? De onde tiram as borboletas no estomago? Que pra mim, sinceramente, não parecem borboletas. Até porque nunca engoli uma. Então não sei qual é a sensação de tê-las voando dentro do seu estomago e convenhamos, pobres borboletas, não?
 Embora seja tudo um pouco irônico e eu continue irritada, o que posso fazer? É só deixar passar! Que aí as sindromes de (in)felicidade passam... São tão passageiras quanto as chuvas de verão.

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Meu pianinho.

 Assim que me soar necessário, eu vou fugir. Sem ter medo. Vou fugir pra qualquer lugar e vou me calar. Vou fazer o que sempre faço: Dar aquele sorriso torto e continuar com os olhos fixos em algo que não me interesse. Vou deixar por trás das cortinas o que sempre ficou e ninguém nunca pôde ver, vou ficar em silêncio e vou esperar o dia amanhecer pra ir embora mais uma vez.

 Vou por o cigarro na boca e acende-lo, pra dar aquela impressão de que eu não tenho mais porra nenhuma na minha vida e vou, com certeza, acenar a cabeça quando me sentir inútil porque vou dar risada e tudo passa a ser como era antes. Eu volto a me sentir da mesma forma e o vento tenta bater na minha cortina de novo, mas ele não sabe como entrar pela janela. Está trancada.


 Aí eu vou sentar no piano e fazer as mesmas notas de sempre, vou comemorar o meu fracasso e a minha miséria mas vou continuar rindo, porque sou musicista e toco mal pra caralho. Vou lá inventar umas letras, escrever num papel e me irritar com tudo o que eu fiz. Vou sentir vergonha de mim mesma e depois vou pensar em dormir. Vou fechar os olhos e pensar em tudo o que eu poderia ter dito mas nunca disse e nunca direi.

 É claro que aí tu vai dizer que nunca soube o que se passava comigo. Que nunca soube o que eu queria, que nunca viu o que eu sentia e nem viu as bobagens feitas. Daí eu vou continuar rindo porque mesmo assim, eu não vou poder mudar nada, certo? Meus amigos vão dizer as mesmas coisas e obviamente eu já saberei o que fazer, porque o tempo inteiro estava com o cigarro na boca esperando uma resposta qualquer.

 Então eu acho que não tenho mais jeito, vou continuar rindo. Sentada no piano, letras jogadas no chão e alguns versos do que eu poderia ter sentido, mas nunca soube sentir. Indiferente, não? Também acho. E um pouco estranho.

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Abril.

 Os dedos no volante do carro, apreensivos, dançam de forma coreografada, fazendo um ritmo próprio, talvez algum ritmo que possa combinar com a música que tocava na rádio naquele instante. A noite estava fria lá fora e o ar estava ligado lá dentro. Os outros passavam em direções opostas, meus olhos continuavam pregados no asfalto e a velocidade continuava a mesma. Seguia uma longa avenida que daria em uma longa estrada para uma outra cidade qualquer. A respiração continua, o farol iluminando as faixas amarelas que separavam a direita da esquerda. A ida da volta e a volta da ida.
 Não pense que estou aqui porque quero. Simplesmente tenho que estar. Estou caminhando sobre quatro rodas em alta velocidade. Pareço aflita mas não estou... As afirmações não são tão sinceras. Suspiro brevemente, como se não houvessem mais respostas.
 A noite parecia estar mais escura do que o normal. Não havia lua e nem havia muitas estrelas e eu já começava a me sentir completamente perdida. O maço de cigarro no banco ao lado, as coisas jogadas no banco traseiro, meus olhos concentrados e minha cabeça longe. Talvez eu estivesse pensando em como eu gostaria de estar caminhando sozinha, com meus próprios pés por essa estrada. Sem luzes e sem nada. Numa solidão tremenda, a qual me causa efeitos alucinantes, a qual eu acenderia meu cigarro, daria um longo trago e me deitaria no meio do asfalto sujo e quente. Os cabelos espalhados, nem sinal de carros, nenhum barulho a não ser de alguns grilos na mata distante. Talvez eu gostasse de fechar os olhos e adormecer. Acordar e nada acontecer. Ainda seria noite e eu ainda estaria alí. Completamente só.
 Não sei ao certo se gosto muito disso, se tenho os pés fixos aonde quero chegar e consigo repensar mais uma vez sobre hipóteses que não fazem sentido algum para mim. Gostaria de ver o mundo, uma vez só, em camera lenta e assim, eu veria aquelas luzes distantes, se aproximando tão lentas que eu teria tempo de me esconder. Queria ver outras luzes se afastando também, como se nunca mais fossem voltar. Me deixando no escuro daquele lugar tão infinito.
 Então, talvez as estrelas pudessem surgir daí e eu seria capaz de ver todas as constelações. Me perguntaria trilhares de vezes se gostaria de passar o resto da minha vida alí, sem nada, sem luzes e sem luas. Pestanejando lentamente, como se não fosse capaz de acordar mais e veria tudo o que fiz diante de meus olhos, espalhados por cada canto daquele horizonte negro azulado, com pequenas pontinhas coloridas voando sobre os céus, então descobriria que ao invés de estrelas, quando abrisse meus olhos, estaria olhando para inumeros vagalumes que dançariam a minha volta. Voariam lentamente, livremente, como se não tivessem pressa de chegar. Eu aceitaria sua luz. Talvez até aprendesse a acreditar no que me soa absurdo.
 Eles dançariam, o meu cigarro queimaria, os meus olhos se abririam e eu estaria em casa. Numa noite qualquer de Abril, olhando pela janela e imaginando como seria se eu tivesse ido.

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Para a minha Penny.

 Cê meio que surgiu calada. Nunca quis dizer nada e nem nunca quis sentir algo a mais. Talvez algo que temesse ou coisa parecida, mas era indiferente a certas ocasiões que me pareciam convincentes, embora eu não soubesse muito bem o que fazer ou o que dizer. Até porque eu gostava de caçar borboletas e na maioria das vezes, as cores eram parecidas e não costumavam variar muito. Até as manchas, espécies identicas, gemeas, feitas de um mesmo material, seja ele a tristeza ou a alegria, mas eram iguais. De plastico, borracha e papel. Seda. Bem fina e colorida.
 Cê meio que me trouxe muita coisa. Sabe-se lá o quanto se aprende com alguém como eu aprendi contigo e uma vez na vida, eu soube me importar com alguém além de mim mesma. Eu soube o porque de tantas canções fazerem sentido e o quanto os sentimentos são confusos. Jogam algum tipo de jogo desconhecido e macabro, brincando com cada emoção de cada vez, fazendo com que perca totalmente a razão. Ainda mais eu. Que tinha razão de sobra, passou a me faltar. Cheguei a pensar que não sabia aonde pisar. Cheguei a voar alto demais. Cheguei a me perder.
 Cê meio que me desprendeu. Agora eu ando com as minhas próprias pernas e sem perder o ritmo dos meus passos lentos, sei aonde quero chegar e sei por onde caminhar. Sigo minhas pernas, a minha razão, os gestos e os olhares, sabendo que ainda posso me perder de vez em quando.
 Mas vou fazer o de sempre. Sentar-me ao pé de uma nobre arvore, encostar a cabeça no tronco e escrever, rasurar, pensar, brincar, rir, fingir. Vou me desprender e vou fingir toda vez que eu souber que eu não posso aguentar, já é meio indiferente as pequenas coisas que antes passavam a me encomodar de um tanto.
 Mas continuo rindo, rabiscando, traçando um caminho qualquer. Não espero nada, não quero nada, não preciso de nada. Estou andando com passos curtos. Sorri pra mim mesma e me lembrei de que sempre gostei de andar sozinha, mesmo que ainda sinta um pouco de medo. As vezes é bom se perder. Só de vez em quando.

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Se ela me deixasse entrar... Só se ela deixasse.

 Depois de muitos romances que não tiveram futuro, muitas lágrimas, tristezas, minhas histórias passaram a mudar de roteiro. O tempo passou, eu cresci, as coisas mudaram e tudo ao meu redor foi se movimentando lentamente de acordo com os dias que passavam. Pareciam cada vez mais velozes e inimaginaveis, como se a cada hora, fosse uma nova surpresa, uma nova forma de ampliar a minha visão que passava por longas transformações, tornando-me quem sou.
 Aos 15, tive-a. Garota cujo nome começava com a letra D. Fora uma paixão terrivelmente forte, pois estava experimentando novas faces da vida. A adolescencia começava, o coração palpitava, mesmo que não fosse o meu primeiro amor, mas digamos que tenha marcado bastante. Bem mais do que eu imaginaria.
 Quase aos 16, eu tive a maior delas. Essa eu nem preciso esconder. N. Grande N. Levou consigo tudo o que me restava e fez com que eu amadurecesse obrigatoriamente, sem nem poder sonhar muito. Cheguei a acreditar que a amava de verdade, mesmo que fosse algo terrivelmente forte.
 Foram 3 anos com a N, depois eu finalmente pude superar e seguir em frente. Como quem não quer nada, eu fui andando sozinha e acho que de todos os meus quase 18 anos, foram as paixões mais relevantes que já tive, pelo menos, as mais marcantes. Não vou dizer que não me lembro das outras, óbviamente foram especiais mas D e N são bem diferentes. Acho que devo muito a elas. Devo o que sei.
 Hoje, eu não sei ao certo. Estava caminhando sozinha mas acho que sem querer, eu tropecei no olhar daquela garota que ao meu ver, não parecia muito. Engano meu! Tola que sou! Agora não sei mais como andar sem tropeçar.
 Estranho, porque mesmo que ela nem saiba, ela já faz com que meus olhos, automaticamente, se virem para ela, como se quisesse compartilhar todos os meus segredos e vontades e faze-la se sentir extremamente especial, afinal de contas, eu sei, ela sabe, que ela é bem diferente. Tem um jeito unico e eu gosto disso.
 Se ela soubesse e se quisesse comigo caminhar, acho que não a abandonaria nunca. Numa tarde de sol, a levaria pela sombra, numa noite escura, seguraria sua mão, numa manhã de segunda, abraçaria-a e a diria o quanto não consigo esconder como me sinto quando ela está por perto.
 Mas há o medo, antes de tudo, de que ela saiba como me sinto e me rejeite. Mesmo que o faça, espero que dê uma chance para que eu possa provar a ela que posso faze-la feliz. Faze-la sorrir até nas noites de domingo. Até enquanto ela lê. Até tomando um sorvete ou numa madrugada chuvosa, cheia de relampagos.
 Já que tem medo de escuro, lhe protejo. Não durmo. Fico de guarda a sua cama para que nada possa lhe atingir, lhe tocar, nada possa nem ao menos lhe machucar. Estou aqui e sempre vou estar. É só você segurar a minha mão e sorrir para mim.

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Uma tarde de quarta-feira.

 Estava andando sem rumo pelo shopping, já que não havia muito o que se fazer, mas como de costume, estava com um livro nas mãos e o mp3 para me fazer ignorar os barulhos que tanto me encomodavam. As risadas, os sorrisos, as conversas, os términos, as tristezas, os negócios, o dinheiro e tudo parecia bem. Eu estava sozinha, mas não dei muita importancia para tal fato. Andando, andando, andando e logo encontrei uma cafeteria. Resolvi que iria tomar um capuccino, afinal, era quarta-feira, me faria um bem desgraçado tomar esse café e ler um pouco.
 Fiz o pedido e logo me sentei, não demorou muito para que a atendente me entregasse o capuccino, agradeci-lhe com um sorriso e tomei-o em minhas mãos. Estava quente, doce e não precisava de mais nada. Perfeito. Abri o livro e logo comecei a me perder nas palavras escritas e sacramentadas por Paulo Pimentel, principalmente em um de seus contos aonde contava sua passagem por São Paulo, na avenida Paulista e em algumas partes, até na Augusta, mas fora fantastico, mergulhei profundamente na minha própria imaginação tendo aquela imagem daquela avenida tão movimentada, talvez a mais famosa do Brasil inteiro. Coração do país.
 Quando menos percebi, já tinha desprendido a minha atenção e passei a observar as pessoas a minha volta. Na mesa ao lado, dois homens. Um bem mais velho, talvez com uns 40 anos enquanto o outro tinha lá os seus 30, novinho, cheio das papeladas e os dois pareciam discutir negócios importantes. Não pareciam ser reis mas estavam no caminho certo para o sucesso.
 A duas mesas a frente, uma moça sentada sozinha com o notebook aberto. Lia alguma coisa, talvez estivesse no facebook, eu não sei ao certo, mas não fazia nada de construtivo. Parecia solitária enquanto bebia uma garrafa de agua, compartilhando solidão nas redes sociais, o que chega a ser um tanto deprimente.
 Logo, na minha diagonal direita, um casal. Ele contava piadas, ela ria. Pareciam estar matando tempo ou talvez fossem amantes também, não sei ao certo. Sei que ela ria e se divertia com as coisas que ele falava e ele a cortejava de tal modo que sabia que aqueles olhos escuros que ela tinha, eram só dele.
 Não mais que de repente, um homem de uns 50 e poucos anos, se senta na mesa a minha frente. Parecia ser um empresário, estressado com o trabalho, parecia estar cansado, preocupado e não desgruadava do celular. Bebeu um café e permaneceu com os olhos perdidos em algum canto, sabe-se lá o que se passava em sua cabeça, mas eu bem que gostaria de saber o que se escondia por trás de cada mascara daquele lugar.
 Tomei meu capuccino, fechei o livro e me levantei e em um movimento quase imperceptivel, me perdi no meio das outras pessoas que possuíam sonhos tão puros ou tão impróprios que nem me dei conta da situação em que estava. Resolvi que deveria sair dalí.
 Sentei-me na escada, fora do shopping e observei as pessoas passando na rua. Alguns me olhavam torto, alguns simplesmente ignoravam a minha existencia, outros corriam ao encontro de alguma coisa, talvez de um emprego, talvez da sua amada, talvez de qualquer coisa que lhe fizesse sentido na vida.
 Eu? Eu não tinha pressa de nada e não tinha para onde ir. Apenas me sentei ali e esperei a noite chegar, como quem espera uma eternidade... Sabe-se lá pelo que, mas eu esperava. Só esperava.

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Cheers!

 É a miséria que nos acompanha diariamente. Essa é a minha frase predileta. Pensei em tatua-la mas achei clichê demais, talvez me confundiriam com um daqueles hippies que andam por aí ou coisa do tipo. Não gosto deles e não gosto das coisas deles. Nem do cheiro da maconha. Não gosto de nada.
 A única coisa que eu faço é trabalhar dia e noite e noite e dia, isso supre a minha solidão, já que eu não consigo admitir que tenho uma que vive na porta ao lado. Sei lá, acho que nem é a porta ao lado, moramos no mesmo apartamento e estamos casados já faz alguns anos. Não sou feliz, ela não é feliz, mas me faz companhia. A gente gosta de sentar na sacada pra tomar um vinho de vez em quando e conversamos sobre a vida, o quanto era injusto e o quanto era bom reclamar e sonhar, já que por sua vez, a realidade insistia em me estapear toda vez que eu tentasse tirar uma soneca.
 Mas desta vez, enquanto ela vagava pela casa, eu lia um livro no sofá da sala. O abajur aceso e o barulho do transito correndo nas avenidas me lembrava o simples fato de que há muito tempo não visitava meus pais... Até mesmo os meus irmãos. Aqueles cretinos, canalhas. Tentaram me roubar dinheiro duas ou três vezes. Daí depois de várias brigas e de eu ter comido a esposa do Cássio, ele nunca mais quis saber de mim. Parece trágico, não? Mas eu me diverti bastante.
 O João até tentou me dar uma lição de moral, dizendo coisas do tipo "aonde já se viu você dormir com a esposa do seu irmão mais velho?" e todo aquele blá blá blá clichê que você ouve toda vez que comete algum erro. Dei um sorrisinho de canto e só por isso, só por um misero sorriso que eu consideraria amigavel, levei uma porrada no nariz. Sangrou bastante mas nunca pensei que todo aquele sangue escorrendo pela minha face pudesse parecer tão prazeroso.
 Chega. Não prestei atenção em nada do livro e não há muito o que se fazer. A solidão resolveu tirar um cochilo alí na cama e eu to aqui na sala, sem paciência pra televisão e tentando parar de fumar. Aí a vida parece simples quando não se tem nada, mas é assim que eu gosto. Nunca acreditei que deveria nascer pra ficar com alguém, vou morrer do mesmo jeito que nasci: sozinho. Não preciso de alguém comigo.
 Tirei os oculos finos, coloquei-os em cima do sofá e me levantei. Peguei uma taça, enchi-a de vinho e brindei a minha solidão, aos meus desejos reprimidos e a toda estupidez que me compunha. Sorri.
 - Saúde.

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Para quem não pode sonhar.

 Cansado das mesmas desgraças diárias, desliguei a televisão e resolvi dar uma volta. Quem sabe iria pro puteiro comer alguém e fugir sem pagar nada, pois eu sempre fazia isso e sempre dera certo. Não seria dessa vez que daria errado, certo? Estava puto e duro. Precisava mesmo foder. Precisava contar com a maldita "sorte" que ha muito tempo já havia me abandonado.
 Cocei o saco e levantei-me do sofá. Minha mãe acabara de chegar do trabalho e foi logo jogando as coisas pela casa, olhou pra mim com aquela cara gorda e sebosa e nada disse. Logo se sentou no sofá surrado e manchado, então, continuei meu caminho até a porta, enquanto ela resmungava.
- Vai aonde, moleque?
- Sei lá.
- Vai se meter em encrenca de novo? Some daqui. - Ignorei-a e bati a porta, enquanto ouvia os palavrões que ela gritava do outro lado, dei um sorrisinho de canto, acendi o cigarro na boca e fui descendo o morro em direção ao bar do seu Zé, grande amigo da comunidade.
- De novo, moleque?
- Ah sim, todo dia. - Sorri novamente e me aproximei. - Até porque não tem solução, né. Ninguém que nasce fodido, cresce e se dá bem.
 - A não ser que seja bom de bola, não?
 - Nem isso, seu Zé. É pura ilusão. Ilusão maldita dos merdas que dizem "nos" salvar.
 - Somos usados...
 - Sim, para foder com a vida de milhares de garotos que ainda tem sonhos. Aqueles que há muito tempo eu já perdi. - Traguei e sentei-me no banco, próximo a bancada imunda de seu Zé, enquanto ele se apoiava, me olhando. - Sabemos a nossa realidade e ninguém sabe.
 - É rapaz... Mas não tem sonhos mais não?
 - Não, seu Zé... Gente como eu não pode nem sonhar. Faz mal.
 - Por que?
 - É simples. Eu nasci pra foder e pra ser fodido. - Logo ele movimentou a cabeça em sinal positivo, provavelmente concordara com o que eu dissera. - Agora eu preciso mesmo beber. Me dê a de sempre. - Bebia a pinga mais sem vergonha do boteco do seu Zé e me contentava com isso.
 É a vidinha que eu levo. Nascer, crescer, roubar, crescer, foder, crescer, matar, crescer, morrer.
 Fim da linha e do meu cigarro.

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Quem sou eu pra negar?

 É que eu nunca sei o que dizer, consequentemente também não sei o que pensar. Toda a situação faz com que eu não consiga me conformar, diante de tudo, diante das minhas fraquezas. Eu disse mesmo que nunca seria capaz de tirar os pés do chão mas quem sou eu pra dizer algo? Quem sou eu pra negar? Quem sou eu pra querer continuar com isso? Eu não sei, não me reconheço mais. A possibilidade dela enfraquecer os meus sentidos me deixa afobada, porque meus olhos já se acostumaram com o escuro do meu quarto e não sei se posso ver a luz do dia novamente.
 - Café sem açucar, por favor.
 Aí volto aos meus pensamentos e não sei o que fazer. Eu não sei se quero ou se devo, sei lá, tentar? Tentar parece tão... Arriscado. Não sei se quero ter a oportunidade de te ver ir embora como os outros fizeram das outras vezes. Não sei se quero me sentir feliz contigo e depois me sentir miseravel por te perder. Não sei se quero sentir tudo aquilo, embora eu não possa evitar, porque já aconteceu e já está acontecendo. Não tenho certeza se quero sujar os meus sapatos de lama pra depois tirar tudo e usa-lo novamente como se nada tivesse acontecido. Não sei de nada.
 - Aqui está.
 - Obrigada.
 Passo a mão entre meus cabelos, bagunço-os com uma expressão confusa, mordisco o lábio inferior e fecho os olhos. O cheiro do café quente me traz uma sensação de calmaria, enquanto o seu calor aquece o meu rosto. Abro os olhos novamente, lentamente e me pergunto se tudo o que estou vivendo é apenas fruto da minha imaginação, se sou capaz de fazer isso tudo novamente.
 Dou uma longa golada, queimo os lábios mas não me importo.
 E enquanto ao frio? Que se dane. Aí volto a sussurrar.
 Quem sou eu pra negar?

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Clichê.

 Eu não tinha nada, porque não gostava de ter, porque detestava perder, porque qualquer oportunidade me parecia um inferno. Eu fugia. De tudo e de todos. Também porque gosto de ficar sozinha e prefiro não ser encomodada enquanto trago o meu marlboro red. Era o meu favorito em ocasiões que eu julgava serem 'especiais', até porque não sabia muito bem o sentido disso tudo que eu andava vendo de uns dias pra cá.
 De uns meses pra cá, algumas coisas foram mudando. Não vou dizer que é certo e nem que é reciproco porque a minha lógica sempre será a mesma, mas algo foi mudando. Eu aprendi a escrever com palavras felizes e talvez tenha até aprendido a ver o mundo de uma forma totalmente contraria a que eu via antes, pois dizem por aí que ninguém quer ficar sozinho, mas no meu caso, eu quero. Tenho algo de errado? Não, nada. Só prefiro assim.
 Entretanto, um sorriso combinado com um par de olhos quentes, passaram a me causar sensações estranhas. Algo que há muito tempo eu nem sabia que poderia sentir, algo que há muito tempo eu havia trocado pelas decisões certas de ficar bebendo num quarto escuro, batendo as pontas do dedo na madeira da escrivaninha de forma ritmada, com os olhos fixos em meus movimentos lentos enquanto pink floyd soava de fundo a minha estranha forma de viver.
 Tudo parecia tão estranho. O gosto do alcool já havia saído de meus lábios e toda a fumaça de cigarro já havia sido levada, não sei pra onde e não sei por onde, mas já havia desaparecido diante de meus olhos impressionados. Eu continuava sozinha, continuava infeliz, mas o sorriso dela... Por um dia todo ou por uma noite toda, faz com que eu me esqueça de tudo e continue vivendo, feliz, por cada minuto ao lado dela.

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Pneumotórax.

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

                                                                                                                            Manuel Bandeira.

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Shoushin.



          O vento soprava forte lá fora. As pequenas chouchins, penduradas próximas a porta, se moviam de acordo com a direção que ele soprava. Se moviam devagar, lentamente, mas com um ar de liberdade, como se fossem capazes de se desprender e seguir o seu rumo, sós, sem nada que fosse capaz de impedi-las.
 As vozes logo cessaram e o silêncio tomara conta daquele corredor, aonde durante um dia todo, as mais variadas pessoas se esbarravam, se olhavam, seguiam adiando a possibilidade de encontrar algo que realmente lhes interessasse. O vento passara a ser a voz que proferia algumas palavras quase impossiveis de serem interpretadas. Batia nas portas, nas janelas e apagava o resto da iluminação que ainda estava por alí.
 Meu cigarro estava quase no fim, o copo de saquê em cima da mesa demonstrava a minha fraqueza. Um velho homem, logo atrás de mim, resmungava algumas coisas com outro homem que fazia sua ultima refeição. Dei meu ultimo suspiro e continuei a observar o corredor, que agora estava totalmente escuro. Eu não mais o que fazer por alí, então resolvi beber meu saquê e ir embora.
 Levantei-me sem dizer nada e saí. Abri a porta lentamente e decidi encarar. Andei lentamente por aquele corredor escuro, sentindo aquele cheiro terrível de alguma coisa podre. Dei de ombros e permaneci seguindo meu rumo. Não era muito tarde mas a cidade estava vazia, pois o céu deixava a entender que uma tempestade viria visitar a cidade de Tóquio, então, acendi outro cigarro e passei a andar pelas ruas vazias que já estavam sendo tomadas por gotículas quase inofensivas, invandindo o chão e levando consigo as pequenas magoas ou talvez lágrimas deixadas por aquelas ruas hoje mais cedo. Nenhum carro andava por alí também e eu sabia que estava completamente só.
 A chuva caiu. A cidade inteira se preparou para o carnaval que estava por vir. Todas as chouchins se apagaram e as gotas geladas me abraçaram. Fechei os olhos, joguei fora o cigarro e sorri. Aprendi a sorrir e me senti vivo. Outra vez, pelas ruas de Tóquio.

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Rotineiramente...

 Saudade é algo bobo de se sentir quando nem ao menos sabe o que se passa? Sentes minha falta também ou é apenas vontade de lembrar-me que ainda estás tão perto, mesmo tão longe?
 Não sei ao certo, pequena, o que houve de errado e aonde foi que eu coloquei a simples possibilidade de lhe escrever coisas bobas e inocentes, como se fosse fazer sentido ou como se você fosse entender. Como se você simplesmente se sentisse bem ao ler tudo que escrevo, embora nem saiba que escrevo para que saiba o que se passa. Cada minima palavra é uma forma de te dizer o quanto queria você por perto, pra gente dar uma volta aqui ou alí, rir das coisas bobas que levam nossos dias, sentar sobre as nuvens e talvez tirar um cochilo por alí, caso o sol não atrapalhe... Não sei bem ao certo, mas gostaria.
 E me lamento, rotineiramente, por não poder te ter tão perto como gostaria e apenas sentir aquela vontade imensa de lhe abraçar e te conduzir a uma dança, com milhares de vagalumes invadindo o nosso espaço. Seu sorriso seria o mais sincero e o meu olhar, o mais feliz, de poder contemplar toda a beleza que existe em você. Ah, como eu gostaria! Como eu gostaria de estar nos livros que você lê e depois transformar as letrinhas em palavras que te guiassem até a reposta que, talvez, você queira saber. Queria estar em todas as partes para que você note que eu posso te fazer feliz. Sei que posso. Mesmo que não seja o que você tanto quer.
 Embora existam outras rosas, a mais bela de todas é a tua. A que segurou no dia em que resolveu sorrir para mim e então... Ah... Então eu me perdi.
 Aí já não sei mais me encontrar e perdi toda a direção... Me guie de volta?

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Se fosse pra fazer sentido...

- Mais alto! Não consigo ouvir.
 ...
 - Por favor, mais alto!
...
 - Não consigo ouvir, por favor! Diga alguma coisa! Não me deixe aqui.
...
 - Eu... Preciso... Ouvir... Diga... Algo...
...
 As tentativas eram inúteis e os ruídos diminuíam a cada palavra por ele proferida. A agonia de estar alí sozinho já tomava conta e seu corpo, tremia, como se fosse um terremoto, totalmente fora de controle, algo que pudesse devastar qualquer vestigio urbano que alí por perto existia. Ele não sabia o que fazer, os olhos não paravam de chorar e a voz começara a falhar. Não conseguia mais gritar, não conseguia suplicar, não conseguia pedir nada além de ajuda. Desta vez, sussurrava para quem pudesse ouvir, mas era incapaz de qualquer movimento que o tirasse dalí. Talvez fosse tarde demais.
 - Se me ouvir agora... Se me ouvir... Por favor... Me ou-ça... Me... Di... - E fora bruscamente interrompido por um ruído vindo de longe, deu o seu último suspiro e sorriu satisfeito. - Eu sabia que poderia lhe ouvir... Que... Estaria... Aqui... Que... Ficaria... Bem...
 Gaguejou e se calou, no meio da noite fria. Ninguém soube o que aconteceu, porque ele pedia ajuda, o que acontecia... Ninguém sabia. Mas existem respostas que não precisam ser encontradas. Na verdade, existem vestigios que nunca são encontrados. Nada precisa de um porquê quando se tem versos.

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Cerdas.

 Escovo os dentes, mas essa não é uma simples escovação. É a primeira depois de muito tempo sem uma boa escova, sem uma pasta de dente e todos aqueles rituais cotidianos para cuidar dos dentes que ainda me restavam. Não eram muitos, mas eram o suficiente para mastigar qualquer coisa que me fosse possivel comer, afinal, eu comia de tudo, não tinha rejeições, o que viesse, eu topava, não tinha tempo pra dizer 'não'.
 O momento em que aquelas cerdas tocaram minha gengiva, podre, com poucos dentes que fediam a carniça, um mar de sangue passou a tomar conta da minha boca, mas eu estava tão anestesiado daquela dor que sentia, que continuei esfregando as pequenas cerdas na minha gengiva, fazendo com que a quantidade de sangue redobrasse.
 Já não precisava mais de saliva, havia sangue o suficiente para limpar todos os meus dentes. Esfregava, passava, fazia os movimentos, doía, lágrimas escorriam e no final desse pequeno e trágico ritual, dei um sorriso, satisfeito.
 - É que depois de muito tempo perdido, quando finalmente consegue se encontrar, o gosto de sangue na boca nunca fora tão prazeroso.
 Daí o porque de toda vez, eu meter as cerdas na gengiva, para sangrar, para sorrir, para, finalmente, me sentir um ser humano.

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Menina Clariceana e os olhos azuis.

 Nunca soube muito bem o que escrever, nem as palavras certas a escolher, mas havia algo diferente no dia em que eu me deparei de vez com a meiguice daquela garota de olhos tão azuis que chegavam a ser enigmaticos. Não era algo muito perceptivel o que ela escondia alí, eram segredos tão bem guardados que chegavam a intrigar qualquer um que ousasse tentar desvendar o que se passava, mas ela não dava o braço a torcer, nem ela e nem ninguém.
 Passava parte do seu tempo lendo Clarice e ouvindo Guns, já que toda vez que ouvia Patience, se sentia bem, como se não houvessem froneiras, como se não restassem palavras e pudesse simplesmente perder de vista as pequenas palavras das crônicas Clariceanas, como se cada frase construisse um pequeno barquinho e a levasse longe, para alto mar, se perdendo em meio tanta agua, tanto azul, tantas histórias e tantos horizontes diferentes. Ela poderia escolher o seu caminho, para onde a maré a levaria, se acharia justo ou se simplesmente sorriria por ser levada, não tinha um rumo certo a seguir, só sabia que queria ir. Ninguém sabe aonde. Mas ela queria ir.
 "All we need is just a little patience." Soava. Bem longe.
 - Já ouviu falar em marinheiros que navegam em pleno céu, de madrugada?
 - Não... O que eles fazem?
 - É bem simples. Já pensou na pequena possibilidade de não se ter muito mas ter o suficiente? Aí você rema pra lá e vai parando nos portos de cada planeta, visitando constelações...
 - Mas... Como se guia navegando pelos céus?
 - Existem muitas estrelas e cada uma delas, possui uma direção diferente. Você não precisa escolher bem o seu rumo, é só deixar que o vento invada suas velas e te guie na direção correta... Quer dizer, na que ele julgar correta.
 - E se estiver errado?
 - Raramente ele se engana. Quando sopra, é porque sabe o que acontece. Muitas vozes são levadas junto com ele, muitas lágrimas, muitas cartas, palavras também... O vento traz memórias que ninguém pode enxergar, apenas aqueles que já ouviram-o soprar, entendem o que se passa.
 - Nunca prestei atenção.
 - Não precisa. Fique de olhos bem abertos.
 - Para quê?
 - Pegar a próxima embarcação, para que possa se perder por aí... Como tanto quer, ouvindo suas melodias com vozes que talvez lhe digam muito do que já sabe.
 E ela sorriu. Um sorriso sincero, porém aliviado, sabia que não precisava de muito mas que estaria preparada para as direções certas... Talvez errada, isso vai depender dela. Mas se ela soubesse que está no caminho certo, provavelmente teria certeza e não teria medo, nem de sorrir e nem de chorar. Diga-me um pouco mais sobre seus cabelos ruivos jogados ao vento.

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Para variar um pouco a minha segunda-feira...

Inspiração da crônica passada. (:

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Essa pequena (ao meu ver).

 Ele voltou pro teus braços, moça? Correu, como se não houvesse um abrigo para a chuva e se escondeu em ti? No que ele chama de abrigo, no que eu chamo de lar, no que você chama de 'abraço'? Poderia ser apenas um refúgio para dias chuvosos mas gosto de me deitar e contemplar os desenhos que fazem no céu durante a madrugada, sem muita vontade de sair, sem muita vontade de querer e nem de ter. Talvez só de você.
 Que bela harmonia, não? Diria eu, se olhasse para um par não tão colorido que está em meus olhos, que dança tango argentino, porque não sabem sambar, talvez porque se amem, mas dançam e no seu vejo um carnaval de flores retalhadas com um sorriso sincero de quem tem medo, de quem se recolhe e se protege numa casca dura, sem se afetar com as tantas invasões que ainda hão de vir.
 Deixe-me te dizer que não pretendo lhe levar muitas flores ou chocolates, nem muitos poemas de amor, nem frases feitas, escritas ou rasuradas. Deixe-me te dizer que fará parte do meu livro, da minha crônica e temo que não possa ser longa ou talvez nem tenha tinta para que possa esceve-la, junto de ti, se quiseres.
 Sem rodeios, sem perguntas, sem muito o que dizer, apenas três palavras. Eu te quero. Quero muito. Se me quiser, te dou muitos sorrisos e talvez algumas lágrimas, mas lhe dou sorrisos, sensações bobas e clichês. Lhe faço um cafuné e lhe deito no sofá da sala para tirar um cochilo durante a tarde, enquanto as cores de seus cabelos parecem se misturar com as cores do céu, deixando um crepusculo para que possamos contemplar quando quiser abrir teus olhos tão azuis.
 Me diga se preciso de muito ou se não preciso de nada. Preciso do teu cabelo cor de abóbora e dos teus olhos azuis.

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