Os dias se passaram e a gente continuava a se encontrar alí, sei lá, ela não sabia meu nome e eu não sabia o dela, mas conversavamos. Pareciamos nos conhecer há tempos e até a noite de natal, que sempre fora um inferno para mim, eu passei com ela, sentado naquele banco e justamente no dia em que havia criado coragem para chama-la para ir tomar um vinho, ela não apareceu. Esperei dias no mesmo lugar e nada dela, ela havia sumido e eu não sabia para onde aquela garota dos olhos verdes havia ido, não sabia aonde ela se encontrava e não sabia como procura-la, afinal, nem sabia seu nome.
Meses e meses foram passando, Maio já estava próximo e meu aniversário estava chegando, eu continuava a ir todas as noites para aquele mesmo lugar para ver se a encontrava novamente e nada dela, sumira por meses e quando decidia procura-la, eu não fazia idéia de como encontra-la pois não sabia nem seu nome e meus dias infelizes pareciam voltar, sem a companhia dela, sem os olhos dela.
- Boa noite. - Ouvi uma voz grossa ao meu lado enquanto estava sentado, outra noite, a espera dela.
- Boa noite...
- Está esperando alguém? Vejo você aqui todos os dias e... Fico me perguntando se está a procura daquela garota de olhos verdes que sempre vinha por aqui.
- Sim, sim! Eu queria saber por ela, mas nunca mais a vi e nem o nome dela eu sei. - Abaixei a cabeça enquanto observava a grama verde daquela praça.
- Eu sei quem ela é e ela já me falou de você. - Olhei para o lado e observei, era um cara magrelo, com cabelos meio bagunçados e olhos verdes como os dela.
- Co-como assim? - Perguntei já bastante confuso.
- Era a minha irmã. O nome dela é Sophie.
- So-Sophie? E o que aconteceu com ela? Por que ela sumiu? Ela... Ela vinha aqui todos os dias e agora... Eu nunca mais a vi e eu... Queria saber por ela. - Disse engasgando as palavras.
- Imaginei que você fosse dizer isso. - Ele suspirou profundamente, fechou os olhos e logo se lamentou. - Minha irmã faleceu há alguns meses em um acidente, vindo para cá e como ela havia falado de você, eu achei que deveria procurar quem era o cara que fazia com que ela sorrisse de um jeito muito especial, embora ela nem soubesse seu nome também e pelo visto, ela causa o mesmo efeito em você. - Senti meu mundo desabar. A menina do banco, a menina de Dezembro, a menina do natal, a menina do sorriso, a menina dos olhos mais lindos desse mundo havia ido embora como todos os outros fazem, dei um longo suspiro e não pude conter. Eu não precisava saber seu nome para descobrir que a amava, eu simplesmente soube que era ela desde o momento em que eu a vi, que eu bati meus olhos naqueles verdes cor-de-mar que me deixaram perdido. Eu não sabia o que dizer, eu não sabia o que fazer e as lagrimas fugiram.
Voltei para minha casa, acendi meu cigarro e dei longas tragadas. Estava sozinho novamente. Estava sem Sophie, estava sem nada, estava perdido e estava infeliz. Tomei meu café assistindo a minha própria miséria, enquanto fumava meu último cigarro. Meus olhos avermelhados de tanto chorar não correspondiam a mais nada, não piscavam e não demonstravam expressão, talvez tenha sido tarde demais. Talvez eu devesse ter convidado Sophie para um café muito antes disso acontecer. Talvez eu tenha perdido tempo demais e talvez eu estivesse perdido sem saber me encontrar. Traguei meu cigarro novamente e me perdi em pensamentos.
Assim que acordei, na manhã seguinte, subi para meu quarto pois havia adormecido no sofá e me sentei na cama, eram por volta das sete horas da manhã e eu não precisaria ir trabalhar hoje, era a minha folga. Olhei para as paredes de meu quarto e resolvi escrever coisas nelas e em menos de algumas horas, as paredes estavam cobertas por frases, desenhos e mais trilhares de coisas que eu havia colocado nelas, a dor era tanta que eu decidira continuar.
Desci até a cozinha para tomar uma agua e quando dei o primeiro gole, senti aquele ódio enorme. Era saudades, era a vontade de voltar atrás e refazer a besteira que havia feito, atirei o copo contra a parede e com os estilhaços que restaram, apertei-os em minha mão, cortando-a inteira e sem me importar com os ferimentos, voltei para meu quarto e procurei por uma das frases, aquela que dizia que eu havia amado sophie como nunca havia amado ninguém, era meu inverno, meu Dezembro, meu natal e meus olhos cor-de-mar. Passei a mão ferida por cima das palavras e destaquei a parte em que eu dizia que a amava.
"Sophie, de todos os olhos cor-de-mar que eu já encontrei, o teu era o mais lindo, de toda a neve que encontrei, a tua era mais bela, de todos os natais que já passei, contigo era mais quente, em todos os Dezembros que morri, o teu fora o que eu sobrevivera, de todos os pensamentos que eu tinha, o teu era o mais lindo, de todas as vozes que ouvira, a tua era a mais musical, de todas as músicas que conhecia, a tua era a mais melodiosa, de todos os amores que tive, fora o unico que realmente amei. Desculpe se demorei para te chamar para um café, para uma noite de amor, para uma noite de poesia, de almas que se encontravam, tive tanto medo que deixei com que ele me levasse para longe, longe de você, do seu abraço, do seu amor e só pude saber quem eu era agora que você se foi. Quero te encontrar. Sophie... Minha querida Sophie numa tempestade de neve no dia 21 de Dezembro de 2006."
O sangue escorria de minhas mãos e pingavam no chão de meu quarto, colorindo-o com a cor da morte. Dei um suspiro, peguei meu cigarro e fui atrás de qualquer coisa, mas não voltei para casa... Eu fui me encontrar com Sophie em algum lugar... Não sei aonde, mas sei que nunca mais voltei...
A garota da tempestade de Dezembro. II

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