Histórias de bar.

 Era sabado. Tipico dia de sair com os amigos para comemorar qualquer banalidade, ou melhor, uma desculpa para encher a cara, se divertir e sair beijando todo mundo... Afinal, era para ser divertido, não? Não estou lembrado da parte em que fazer todas essas coisas não fosse divertido.
 A noite logo chegou e com bebidas indo e vindo, não demorou muito para que eu começasse a me sentir tonto. Alegre demais, feliz demais, emoções demais com o alcool que adentrava meu corpo naquele instante, era perceptivel o que eu escondia, mas quem é que se importa? Nessa altura, as pessoas já não estão preocupadas com o que as encomodam. Elas bebem, se deprimem e vomitam no dia seguinte. Exatamente como eu fiz e não demorou muito, depois de péssimas noticias naquela madrugada, resolvi embarcar em um barzinho fedido e acabado, que tinha uns letreiros azuis, uns já nem acendiam mais. Bar da motota, sei lá, algo assim. Entrei e logo me deparei com aquela sujeira que ninguém parecia se importar. Alguns sentados no balcão bebendo suas bebidas e contando suas histórias, outros jogavam sinuca, outros beijavam mulheres e outros contavam vantagem com suas putas que mais pareciam travestis. Sentei-me em um dos bancos do balcão e comecei pedindo o whisky mais porcaria que eles tinham, bebi aquela merda como se fosse remédio e assim fui repetindo as doses, da mesma forma da primeira.
 Assim que fiquei bebado, fui em direção ao banheiro. Havia um espelho rachado, me olhei nele e pude ver aqueles meus olhos cor de mel avermelhados, cansados, infelizes e meus cabelos escuros, bagunçados, barba mal feita, camiseta mal abotoada e suado. Saí de lá rapidamente e voltei para minhas bebidas, bebi um vinho barato e passei a observar os homens e as suas histórias. Muitos eram caminhoneiros e contavam das mulheres que conheceram em cada capital e eu, que não conhecia varias delas, amava uma só, que acabava com tudo o que me restava. Acendi um cigarro, um marlboro red, forte, traguei e continuei assim. Alguns já estavam caindo de bebados e vinham perguntar o que diabos eu fazia naquele lugar, quem era eu, o que eu queria, por que estava me sentindo assim... Eram tantas perguntas, tantos por ques que pra mim já não fazia mais diferença, eu não me importava comigo mesmo há dias.
 Acordei na segunda com uma dor de cabeça desgraçada, ressaca, vomitando muito e com aquele mal estar dos infernos, resolvi dar de ombros e assim que o sol se foi, parti para o mesmo bar e meus dias foram assim até na quarta feira. Aquele sertanejo horrivel ainda me encomodava e aquele cheiro de vomito, de sujeira ainda estava empregnado em meus nariz, contudo eu não me importava.
 Um velho caminhoneiro sentou ao meu lado na quarta feira e...
- O que um rapaz como você faz num lugar desses? - Quis dar de ombros e fingir que não tinha ouvido nada, de que interessava a ele?
 - Tá sofrendo, meu garoto? Sei como se sente. Quem é ela? - Continuei calado, dando longas goladas em meu copo de whisky, sujo.
- Existia uma mulher na minha vida... O nome dela era Mariana. Mar e ana. - E sorriu ao lembrar-se de sua própria história, continuei da mesma forma, por mais que estivesse interessado em sua história.
- Mariana era uma linda garota que conheci quando viajava para Goiania. Eu tinha tanta carga para entregar naquele raio de cidade e ela me apareceu. Na estrada. Mariana era de todos os homens que por ali passavam e estivessem dispostos a ter o prazer de lhe conhecer. Era linda. Alta, cabelos negros, longos, olhos verdes flamejantes e envolventes. Eu tive que parar quando bati o farol naqueles olhos e ela simplesmente sorriu. Me acariciou e me amou a noite inteira. Fui um homem de verdade e descobri que a amava. Fui atrás de Mariana tantas vezes mas nunca consegui encontra-la... Soube então que havia falecido num acidente perto dali, fora vitima de seus próprios pecados, do seu próprio pudor e eu nunca pude ter a chance de pedi-la em casamento. Ela me contou sua história e deixou que eu lhe contasse a minha. Ela me ouviu. Ela me ouviu com tanta atenção que nas noites de verão, eu sinto saudades e toco minha gaita pensando nela. Todas as vezes que passo por aquela estrada, eu ainda vejo aqueles olhos verdes, parados, esperando por algum sinal, por mais alguma vitima de seus prazeres intensos. Vitima do seu amor, vitima dela. Vitima de mar e ana. - Não pude deixar de sorrir e via que seus olhos se encheram de lágrimas e logo pensei que talvez fosse assim que as coisas acabavam por ser... Ele tinha Mariana, eu tinha Nayara que nunca me amou... Quantas noites embriagado eu passei por esse bar de letreiros azuis que me lembrava a minha maior derrota... A minha maior perda. O meu triste fim.

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