Pinturas, paredes e lembranças.

 Lagrimas escorrem por todos os lados, por todos os cantos da casa. O silêncio paira e a escuridão da madrugada me acolhe, me envolve e me cega. Nas paredes, restos de memórias. Fotos rasgadas, marcas de algo que já significou tanto e agora não parece ser mais nada. A luz vermelha, acesa em um dos quartos, ilumina parcialmente as paredes com aquelas fotos. Lembranças de você que um dia já fez parte desse lugar, lembranças de uma ilusão que eu costumava acreditar. O cigarro continua queimando no cinzeiro espalhando a fumaça pela casa inteira, que chorava aos prantos a tristeza de um crime sem perdão, a noite gritava lá fora enquanto eu continuava cega, tentando enxergar as fotos em vermelho vinho que já me fizeram sorrir como ninguém e agora me rasgam como se eu fosse uma simples folha de papel, amassado, rabiscado, sem utilidade alguma, deixado e abandonado.
 Minhas mãos, geladas, tocam as fotos enquanto a luz se apagava. O escuro tomou conta de todos os comodos daquele apartamento, deixando-o completamente vazio mas quem se importa? Estou sozinha de qualquer forma e ninguém pode me ouvir, ninguém pode me ver, ninguém precisa saber o quanto isso dói e me corrói a cada dia que passa, eu finjo tanto estar bem mas só finjo. Eu minto tão bem para mim mesma que as vezes, consigo acreditar e aí a gente brinca de fingir. O barulho do vento tentando derrubar as janelas me tira de meus pensamentos profundos e decido que é a hora certa de apagar de vez. Uma garrafa com gasolina e o isqueiro na mão, vou espalhando o liquido por todo o apartamento e quando termino, olho pela ultima vez com carinho cada lembrança que restou de nós. Coisas que você nem se importou e coisas que eu gostaria de nem ter me importado, datas bobas, coisas bobas que me faziam crer que por um instante, eu era o que você sempre quis. Acendo o isqueiro e sem mais delongas, o calor do fogo se espalha pela casa, flamejante, quente, poderoso, apagando todas as lembranças que um dia estiveram naquelas paredes e todas as fotos vão se incendiando e virando cinzas como o que restou em mim acabou por se tornar... O calor acaba por me envolver e pela ultima vez, dou adeus as cinzas de nós duas.

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