Uma vez já me disseram que as nuvens não eram de algodão e que o céu não era feito de estrelas, que todo aquele azul não vinha do mar e de que o sol não era de papel... O chão era de isopor, bastava um passo em falso e ele podia se quebrar em pedaços, eu era feito de vidro, vidro rachado, pronto para se despedaçar, se estilhaçar deixando suas marcas no chão de isopor branco.
Meus passos eram lentos, muitas vezes não me deixavam chegar aonde eu desejava e as nuvens de algodão continuavam a me acompanhar, mas quando estava quente demais, elas desapareciam e me deixavam exposto, suspirando por abrigo e respirando por uma eternidade que nunca chegaria, que nunca seria o suficiente.
As montanhas verdes, também de isopor, eram faceis de serem alcançadas. Quando eu não tinha defeitos, eu subi em todas elas pra gritar ao mundo o quanto eu vivo, o quanto eu era forte, o quanto meu mundo de faz-de-conta era genial! Era bom! Ele progredia cada vez mais, por mais que alí só existisse a mim.
Meus olhos, de vidro verde, continuavam a refletir aquelas nuvens passageiras que esperavam o próximo trem para seguir em frente, para ir para outro mundo de isopor... Ou talvez não. Os rios do meu mundo eram feitos de tinta azul e continuavam a seguir o seu caminho, livremente, abrindo espaço para todos que quisessem descobrir aonde terminaria aquele sonho.
Os meus pés continuavam e as borboletas passavam a me acompanhar, umas pousavam em minha cabeça e outras pousavam em minhas mãos, geladas, que servia de apoio para que pegassem uma carona para um lugar qualquer. Tentei sorrir mas nada funcionou. A noite não demorou a chegar e portanto, as borboletas fugiram para se abrigar. Sentei-me no pé de uma arvore e por alí permaneci. Rachado. Sem cura. Sem história pra contar. Um vidro quando racha jamais possui conserto. Eu não iria me regenerar, eu não iria me consertar, eu iria me sentar e ficar ali, olhando as falsas estrelas de diamantes que no céu brilhavam e tentar entender porque vidros como eu acabavam assim... Acabavam quebrados, sem esperança, sem nada... Sem ninguém.
Mundo de isopor.

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