A neve caía lá fora, lenta e serena enquanto eu a observava da janela de meu quarto. Aquela madrugada estava gelada e a casa estava vazia. Estava perto do natal, faltavam apenas alguns dias e eu continuava ali, acompanhado do meu cigarro que queimava lentamente no cinzeiro e do meu café, já frio, que continuava exalando seu cheiro pelo quarto, dei um longo suspiro, resolvi por o cigarro na boca, coloquei uma roupa mais apropriada para aquele frio e apaguei a luz, desci as escadas e quando abri a porta da sala, senti aquele vento gelado me tocar, dei um trago no cigarro e resolvi encarar o frio que lá fora fazia.
Andei pelas principais avenidas daquela cidade coberta com aquela substancia branca e gelada, procurando alguma resposta, talvez algum boteco, talvez alguma coisa que pudesse me fazer esquecer da vida de merda que eu levava, segundo após segundo e continuei caminhando sem direção alguma.
A neve se tornou mais intensa e eu continuava andando, resolvi me sentar em um banco numa praça e observar as crianças que por ali corriam, mesmo com uma tempestade a frente, elas se divertiam, riam e os pais as observavam com atenção, enquanto conversavam ou se abraçavam. Não entendo porque o natal tem que ser tão feliz, pessoas como eu, amarguradas e frustradas, passam dias como esse assim: sozinhas. Dei um longo suspiro, me perdendo em meus pensamento até uma voz me interromper.
- Não acha que está meio tarde e meio frio para ficar aqui sentado? Parece estar a espera de alguém. - Virei meu rosto em direção a voz e logo encarei aqueles olhos verdes que me fitavam, não os conhecia de lugar algum mas eles pareciam me conhecer.
- Com licença, está falando comigo?
- Sim, estou. És o único sentado nesse banco a espera de um milagre. - E arqueou sua sobrancelha. - Não deveria estar em casa comemorando a chegada do natal com sua familia?
- Eu não tenho familia e não tenho ninguém, a propósito, por que tantas perguntas? Quem é você?
- Alguém que está observando essa sua melancolia aparente. Vai ficar aí mesmo passando frio?
- Quem se importa?
- Talvez eu me importe. - Olhei para ela, confuso. Quem era ela? De onde ela surgiu? Por que queria tanto saber de mim? Por que tantas perguntas?
- Quem é você e por que está fazendo esses joguinhos? Eu não gosto disso. - Perguntei um pouco nervoso.
- Eu sou alguém como você. - E sorriu. - Também me sento nesse banco todos os dias a esperar alguma coisa que nunca vem. - Me calei enquanto fitava-a com curiosidade, fiz uma expressão confusa.
- Certo, então por que não se senta e esperamos juntos?
- Achei que nunca fosse pedir. - Sorriu novamente, sentou-se ao meu lado e juntos passamos a madrugada inteira, debaixo daquela neve congelante a conversar, ela me dizia coisas e eu a dizia coisas mas nem sabia o nome dela, talvez fosse desnecessario. Na verdade, nunca soube o nome dela, mas me sentava naquele banco todos os dias, na mesma hora só para encontra-la por lá.
A garota da tempestade de Dezembro.

Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest