Archive for abril 2013

Outono em Vênus

 Enquanto a estranha madrugada de segunda-feira se aproxima e eu tomo um café já frio, talvez do dia anterior ou sabe-se lá de quando, observo algumas grades enferrujadas que formam uma pequena estrutura na sacada. Observo como se a noite fosse se tornar dia, como se tudo fosse desaparecer em um suspiro qualquer, ou em uma piscadela que vá me fazer hibernar pelo resto do ano. Não quando setembro chegar, mas sim quando outubro chegar... Ou novembro.

 Vejo você, deitada de bruços, vestindo apenas uma calcinha branca. Você tem um sorriso malicioso, um corpo arrepiado coberto por hematomas que deixam vestígios dos acontecimentos de algumas horas atrás. Suas costas nuas, cobertas pela penumbra da lua crescente lá de fora, suas pernas esticadas pelo tapete acinzentado e seus lábios inferiores sendo vitimas de seus dentes, manchados de batom, borrados com as cores do amor. Cabelos espalhados e olhares trocados. Eu bebendo café, você fumando um cigarro e nossos rostos se encontrando em uma perfeita sintonia.
 Ouço o silêncio por todo o apartamento. Estou sentada de frente a você. Tenho as pernas encolhidas e apoio meu queixo em uma delas, enquanto um de meus braços se apoia no chão e o outro, segura firmemente a xícara branca com alguns desenhos bestas. Tenho olhos fixos nos teus. Não tenho nada a não ser todo aquele sentimento e as maçãs espalhadas, rolando por todo o apartamento, simbolizando todo o feitiço ali lançado.
 Leio seu corpo como Eros lia as delicadas e tão sensuais curvas de Psiquê. Te desejo como o mais poderoso dos guerreiros, Ares, desejava Afrodite. Te vejo rolando pelas gramas dos jardins gregos num belo outono português. Vejo o seu sorriso e lhe descrevo cenas da minha pequena e fértil mente. Mente estúpida, mente dirigida a todos os seus doces toques, símbolos daquilo que costumamos chamar de paixão. Sinto você como uma brisa quente, um verão qualquer em uma praia deserta ou em um campo minado em uma guerra no oriente.
 Depois de lhe beijar, manchar a minha roupa com batom e me despedir, percebo que há em mim a maior fraqueza de todos os seres humanos presentes no planeta terra: Paixão e desejo.
 E me calo, mais uma vez, vendo você adormecer comigo em mais uma noite estrelada vista de Vênus e de Marte.

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Ter você

 Eu tenho você.
 Eu tenho você dançando ballet no meio da sala de estar, com um blusão para dormir e as janelas abertas, deixando a penumbra da tarde invadir o seu corpo, como as arvores que cantarolavam as canções exatas, você sorrindo, seus compassos e giros, sua voz.
 Eu tenho você.
 Deitada na minha cama, abraçando o meu travesseiro. Rindo e contando piadas, de vez em quando apertando a minha mão e me encarando com os seus olhos negros que chegavam a me assustar. Você, rolando de um lado pro outro, com um sorriso e meio na boca, um copo na mão esquerda, um par de meias e suas roupas espalhadas pelo chão.
 Eu tenho você.
 Me abraçando apertado na hora de ir embora. Sussurrando verdades desfeitas em meus ouvidos, e respirando lentamente, a fim de embaçar os vidros do carro. Tenho seus dedos entrelaçados nos meus, sua apreensão, mistério, paixão e sentimento ensaiado. Três tragos de um cigarro, uma vodka quente, um conhaque argentino e você, novamente, sorrindo.
 Eu tenho você.
 Aonde não poderia ter. Tenho porque não tenho, mas gosto de pensar que tenho. Finjo ter. Finjo crer. Finjo rir para depois te ver partir. Tenho porque você quer que eu pense em ter, tenha a mim porque você quer ter a mim. Ou talvez não queira.
 Eu tenho você.
 Não porque quis, mas sim porque os caminhos sombrios me disseram que sim. Tenho você dançando ballet debaixo das lindas arvores de sakura, numa bela primavera japonesa, como eu sonho em ver, como eu quero crer. Tenho você ensaiando para um grande ato, com as pétalas rosas espalhadas pelos seus cabelos e corpo. Corpo da penumbra da madrugada, corpo do sol.
 Eu tenho você.
 Só a verdade de ser um pequeno romance ao qual me submeti.
 Eu quero ter você.

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De Março a Abril

 Depois de uma longa discussão sem pedidos, decidi que iria escrever um conto de amor para você. Não precisamente sobre tudo, mas exatamente sobre o que eu tenho sentido por você, que já esta em minha vida, não porque quis, mas sim porque deveria estar.
 Você não é uma libriana atipica. Adoro a sua mania de querer estar perto de mim, de me encher de carinho e fazer com que eu me sinta especial sem nem ao menos dizer muito, apesar de eu estar sempre querendo dizer coisas e mais coisas. Você simplesmente faz com que os dias se tornem mais especiais, você me deixa constrangida e sem saber o que dizer. Você me cutuca, me envolve, me atiça, me abraça, me morde e me abre um sorriso ou dois sem nem ao menos precisar dos meus. Você é tanto que eu nem sei.
 É engraçado, porque sinto como se já não houvesse pouco tempo. Parece que tenho rolado contigo por tantos meses que pequenas palavras são desprezadas por nós. O necessário se tornou fútil e nossos sorrisos se tornaram únicos. Você se tornou a chuva dos meus dias de outono, o frio do meu inverno. Eu não diria sol, porque é clichê. Eu não preciso estar sempre quente para me sentir bem. Você é o oposto do que faz bem, mas é o oposto do que faz mal, dá pra entender?
 Vejo você como algo diferente em meus dias. Vejo você como um complemento que eu sempre precisei, embora nunca tenha buscado. Ouço a sua voz como se não precisasse de uma música ou duas para me recompor depois. Escrevo-lhe poesia como se fosse algo banal, fácil de ser feito. Faço você da minha poesia, das minhas palavras, meus textos, a alma de tudo que eu tento expressar no momento.
 A outra parte do meu Vênus. A principal causa do meu veneno, dos meus sorrisos, pensamentos bobos, coisas tolas que ensinaram-me a ser um pouco mais tolerável. As folhas abandonadas pelo vento de outono e meus olhos presos aos seus. Você que não se importa com coisas banais. Você que voa sempre de norte a sul. Você que sabe tanto e eu, que pareço não saber de nada.
 Eu não entendo muito bem das coisas que você entende. Disse que ia aprender, apenas para sentir mais do que um pouco, o suficiente dos meus passos e a vontade do meu sentimento de estar perto de você sempre que puder. Eu apenas quero dizer que quero cuidar de você. Estar ao seu lado e me esforçar para sempre ver aquele sorriso tipico que eu tanto gosto. Quero aprender, mas quero você acima disso. Quero suas mãos e seus suspiros.
 Pra que você, Bárbarela, continue completando os meus dias venusianos por muito tempo e eu, espero fazer o mesmo por você. Apenas tento e me esforço, depois a gente vê. Se a gente quiser, a gente tenta, se não, a gente inventa, assopra, da risada e tudo se acaba com belas taças de vinho e uma noite inteira só minha e sua.
 Esse, então, é mais um conto de amor precisamente sobre o que você faz comigo. Indefinido? Talvez. O suficiente.

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Retrovisor

 Com todo esse aperto e esse calor insuportável, minhas pernas cedem e os meus três segundos contínuos de uma respiração ofegante, explodem em meu peito como se fosse uma bomba. Um sufoco fora do normal, uma sensação de estar tirando os pés do chão e um sentimento intenso de algo que não parece fazer sentido... Eu cega, perdida... De novo e de novo.
 As vezes, me parece impossível querer enxergar o que não existe, pelo menos não dentro de mim, e fazendo com que tudo ao meu redor se tornasse um pouco menos confuso, aonde eu realmente pudesse crer em algo diferente, que pudesse fazer sentido, embora não faça nenhum e não haja nada que me diferencie dos outros. Apenas o fato de que gosto de estar sozinha.
 Palavras me sufocam, conversas me destroem e os fatos não perceptiveis continuam a elaborar teses e teorias dentro de uma mente tão perdida em seus pensamentos. Pensamentos estúpidos, banais, pensamentos meus, trancados a sete chaves, que parecem ser apenas devaneios de experiencias frustradas e medos incomuns que chegam a tornar cada minimo erro, algo extremamente normal. Rasuras da vida, páginas rasgadas.
 Elo quebrado. Ligações cortadas e vozes ao fim. Cada corpo em sua cama, fazendo planos que talvez nunca se realizarão antes de dormir, e acordar suspirando, imaginando e sonhando que o dia possa ser melhor. Que talvez tudo passe a fazer sentido, que as respostas existirão, mas que nada, nada mesmo, seria apenas uma hipótese de uma vida bem vivida. De argumentos bem feitos, uma vida maldita, destruída. Vida de poesias.
 Vida de partidas e chegadas, desconfianças. Sentimentos e consciência estranha. Nada que pareça tão certo que não possa ser julgado, nada que não faça chover na manhã seguinte, e presenteie a noite com belas estrelas e um conto e meio pra se chorar. Nada que não traga sol em uma tarde de outono qualquer. Nada que não seja qualquer coisa que possa ser dita. Nada que possa ser prometido.
 Então eu escrevo. Escrevo muito. Vivo essa eterna chuva de outono em cada pequeno segundo de minhas manhãs semanais. Respiro esse ar impuro, contendo veneno para me fazer repousar pela madrugada, apagando cada detalhe que esteve em minha mente numa noite anterior. Toco essa superficie sólida, que parece se desfazer quando minhas lágrimas se misturam com a tinta preta da caneta que me borra a pele.
 A tatuagem apagada, as cicatrizes aparentes, as letras marcadas. Manchas de uma vida que poderia ter sido e nunca foi. Nunca será. Nunca entenderá.
 Pele manchada de maio, chuvas e invernos sem fim... Abandonos, máscaras e bebidas... Todas por eternas noites assim... Vidas invertidas de retrovisor, cicatrizado e estilhaçado.

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Conto sobre uma chuva de sábado

 Tenho seus dedos entrelaçados nos meus neste momento, e me pergunto se você consegue ler exatamente o que meus olhos pensam em dizer. Se consegue saber que nesse momento distante, descrevo lentamente os seus cabelos e percebo o seu calor, junto ao meu, embaçando os vidros do carro nessa noite chuvosa de sábado. O sábado em que eu provavelmente não lhe veria, mas cá estou, pensando sobre você.
 A chuva está bem fraca do lado de fora, eu penso em loucuras e te proponho uma pequena viagem. Você aceita, e se encolhe cada vez mais por conta do frio, mesmo estando confortavel com o meu agasalho favorito. Você sorri, muda de música e a gente continua falando besteira até chegarmos em algum lugar. Eu não consigo saber muito bem, mas provavelmente estaria feliz por estar aonde estou, mesmo que me falte uma cerveja e um pouco de besteira pra poder cantarolar, junto ao violão que eu abandonei em casa nessa tarde. Para onde vamos?
 Você, enquanto ri, mexe em seus cabelos e me pergunta um pouco mais sobre tudo. Eu continuo dirigindo, ouvindo a chuva cair e a escuridão da estrada a nossa frente. Penso em tudo que poderiamos fazer, no tempo em que poderiamos gastar, atiradas em uma cama quente, com um cobertor, totalmente despidas e ofegantes, quase que acabadas. Você acendendo um cigarro e me oferecendo, a cerveja no criado suando tanto quanto eu, nós conversando sobre qualquer coisa e você, lentamente se aproximando e beijando o meu ombro, coisa que você sempre faz quando estamos juntas.
 Penso na longa estrada, em um dia quente. O carro parado no acostamento, nada ao nosso redor a não ser areia e mais areia. O sol quase se pondo e nós duas deitadas no asfalto quente daquela estrada que nós nem sabemos como chegamos. Você segurando a minha mão, eu te olhando nos olhos, um beijo em seguida, algumas promessas bobas e clichês, a noite chegando, as constelações aparecendo e nossos sonhos sendo levados por pequenas estrelas cadentes, concebendo-nos o direito de sumir do mundo quando mais precisarmos.
 Depois, enquanto ainda ouço sua linda voz sobrepondo as ameaças das gotículas geladas que caíam daquele céu tão escuro, quase que impossível de se atravessar, ignoro os trovões que insistem em iluminar parte daquele estrada, juntamente aos faróis daquele carro antigo, que eu ainda penso em dirigir mesmo sem segurança nenhuma, apenas com a certeza de que iremos chegar. A qualquer lugar e aonde você me pedir.
 Quando a madrugada se aproximou e seus olhos demonstraram cansaço, dei um sorriso de canto e logo levei uma de minhas mãos até sua perna, que estava gelada por conta do vento gelado que adentrava, e a acariciei lentamente, enquanto via você adormecer ao meu lado. Meu sorriso apenas estendeu-se e pensei três vezes antes de chegar. Não queria pensar no fato de que mais cedo ou mais tarde, você teria que ir embora e eu, não poderia fazer nada a não ser esperar o tempo passar... Apenas pra ficar mais um dia com você ou mais algumas horas, andando por aí sem pensar em nada. Não queria não sentir o seu cheiro em minhas mãos, depois de te deixar em casa por mais uma noite. Não queria trocar de música, quando você colocou "janta" pra gente se beijar. Não queria nada, nada a não ser você. Por essa noite e por outras mais.
 Gosto de te ver assim. De viajar com você pra lugar nenhum, segurar a sua mão enquanto sonha. De fugir para uma estrada que nem sequer existe, e lhe fazer rir a cada cinco minutos de viagem, apenas para ouvir e me sentir um pouco mais feliz.
 Gosto de você assim. Poesia pura, curvas e retratos, atos e defeitos, vontades e desejos... Coisas que a alma implora durante horas ao seu lado, em direção a lugar nenhum.

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Um conto sobre Camila e eu

 Hoje, eu havia tirado o dia para relaxar. Havia deixado tudo de lado e estava com uma garrafa de cerveja em minha mão direita. Estava com as pernas esticadas, deitada no sofá enquanto mudava de canal frenéticamente porque detestava assistir a televisão, mas como eu realmente não havia encontrado algo melhor para fazer, estava lá, trocando os canais, ouvindo inutilidades, tragédias e piadas prontas para divertir barrigudos numa noite de sábado.
 Sem dar muita importancia, ouvi a porta rangendo, avisando que agora eu teria companhia. Minha companhia, não era um cachorro ou coisa do tipo, tem gente que jura que por eu ser assim largada e cinica, teria apenas um cachorro latindo e defecando por todo meu apartamento, mas não, não é um cachorro. Até porque cachorros não conseguem abrir portas, pelo menos eu imagino que aqueles que moram em apartamentos não consigam.
 - Cheguei... O trânsito estava um inferno hoje e... Pera! Você está bebendo? - Ouvi os passos se aproximarem e aquela voz estridente me estourar os tímpanos.
 - Sim, hoje eu decidi pegar uma folga.
 - Uma folga?
 - É, uma folga. Quer uma cerveja?
 - Não! Eu não quero beber com você em plena terça-feira! Amanhã eu trabalho! E até onde eu sei, você também.
 Acenei com a cabeça apenas para parecer educada. Dei um sorriso de canto enquanto estendia minha garrafa em sua direção.
 - Escuta, eu acho que você deveria beber um pouco! Tá geladinha.
 - Eu já disse que não vou beber!
 - Então não beba. - Dessa vez, me ajeitei novamente no sofá e continuei a assistir algumas inutilidades, enquanto dava longas goladas naquela cerveja tão suave, mas Camila era o tipo de mulher mal humorada que odiava sua profissão. Apesar de ser bonitinha, ela sempre dava um jeito de me incomodar.
 - Ai, você não sabe! Estou tão cansada do trabalho!
 - Sei...
 - As vezes eu gostaria de matar esses clientes, sabe? Um por um!
 - Entendo...
 - Você está me ouvindo?
 - Em alto e bom tom! Até agradeceria se você pudesse falar um pouco mais baixo. - E retribui com outro sorriso, dessa vez, irônico. Camila, emputecida comigo, apressou seus passos até o sofá, atrapalhando a minha visão, pousando com sua bunda grande e gorda em frente aos meus olhos, que estranhamente, passaram a arder, talvez pelo forte odor ou pela visão extremamente desagradavel.
 - Você está muito engraçadinha pro meu gosto hoje! Pare já com isso e pare de beber! Isso faz mal!
 - Ah, agora você virou evangélica? Pensei que ainda era católica... Pelo menos não implicava com a minha cerveja.
 Vi aquele rostinho coberto por uma pele sedosa se tornar tão vermelho quanto as maçãs deixadas em cima da mesa. Camila tomou a cerveja de minha mão e atirou a garrafa na parede, enquanto se preparava para reclamar mais uma vez, de tudo e da sua vidinha de merda, a mesma vida de merda que compartilhava comigo todas as noites. Aquele sexo terrível e o cheiro de gambá que possuía, pelo menos quando baforava na minha cara de manhã.
 - EU NÃO AGUENTO MAIS VOCÊ! TUDO O QUE VOCÊ FAZ É FICAR AÍ, VAGABUNDEANDO SEM QUERER SABER DE NADA! ESTOU CANSADA DISSO! VOCÊ NÃO SE ESFORÇA MAIS POR NÓS!
 - Meu bem, quando foi que você percebeu isso?
 - Escuta! Eu não sou NENHUMA dessas vadias que você vive comendo por aí!
 - Acredite,  todas essas "vadias" cheiram melhor e dão melhor que você. - Com isso, logo senti um impulso e senti uma superficie quente atingir meu rosto, deixando uma marca e um sorriso estampado na minha face, juntamente com uma leve sensação de ardencia, que me causou certo prazer. O sorriso que Camila detestava, e consequentemente, o sorriso favorito das "vadias" que eu comia por aí, já havia tomado conta de meu rosto por inteiro, indo de orelha a orelha.
 - Camila, meu bem, eu nunca me importei. Só estava acomodada.
 - Acomodada???
 - Exato. Eu não tinha nada melhor pra fazer. Encontrei você num boteco, tão fodida quanto eu e decidi te trazer pra casa... Cê devia ser mais grata.
 - Eu não estava fodida! VOCÊ ME FODEU! E EU NUNCA VOU LHE AGRADECER POR ISSO, SUA PUTA EGOÍSTA!
 - Claro, eu te fodi de todas as maneiras possíveis... De fato, me arrependo de todas... E também gostei do elogio, obrigada!
 - Estou indo embora! Já chega.
 - Se quiser ajuda, é só pedir.
 Enquanto ela me assassinava mentalmente, eu já não tinha muitas esperanças. Quando a vi sumir pelo corredor, em direção ao quarto para arrumar suas coisas, lembrei-me da sujeira que ela havia feito ao atirar a minha bela garrafa de cerveja na parede.
 Levantei-me do sofá lentamente e fui até a região atingida, encontrando lá um bom pedaço de vidro quebrado.
 - Bom, é melhor eu tirar isso daqui...
 Um sorriso irônico era tudo o que eu vestia na minha face no momento em que aquele vidro já cortava parte da palma da minha mão. Dei um sorriso e fui andando pelo corredor até avistar o banheiro no final do mesmo, embora eu realmente tivesse muita vontade de ir até lá, virei o rosto para a direita, vendo a mesma bunda gorda de alguns minutos atrás, arrumando suas coisas com pressa, enquanto ouvia Camila fungar. Engraçado que isso fazia com que meu sorriso só se tornasse cada vez maior e com lentos passos, me aproximei dela, bem lentos e curtos, aproveitando cada milimetro em que eu pisava.
 Quando me aproximei de suas costas e seus longos cabelos castanhos, ajoelhei-me para poder observa-la melhor.
 - Camila, querida...
 E quando sussurrei tais palavras perto de seu ouvido esquerdo, aproximei uma de minhas mãos até seu pescoço e com uma leve movimentação, passei o vidro quebrado por sua garganta, lentamente, abrindo caminho para o seu interior, rasgando-a, enquanto sentia aquele liquido quente tomar conta de minhas mãos, ouvindo sons inidentificaveis que eram liberados a cada leve carícia que eu fazia sobre sua garganta.
 Sua garganta jorrava sangue, como se fosse uma bela fonte de vinho tinto, e logo vi que seu corpo, fora se debruçando sobre a cama, também manchada pelo liquido vermelho que insistia em sair de Camila. Dei apenas mais um sorriso e beijei sua linda nuca, que era a minha parte favorita de seu corpo.
 - Durma bem, meu anjo.
 Abandonando Camila adormecida em minha cama, fui em direção a cozinha com o objeto ainda nas mãos, atirei-o na pia, passei um pouco de água em minhas mãos e peguei mais uma nova cerveja, apenas esperando pela  manhã seguinte, aonde eu teria que ir trabalhar e provavelmente colocar Camila na churrasqueira para mais um final de semana contente.

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Três quartos

 O relógio marcava três horas da manhã. O sono, que antes habitava o ambiente, já havia sido trocado por uma longa insônia e gotas de suor que escorriam de sua face. Seus olhos pestanejavam lentamente tentando ajustar o foco de sua visão, que fitava um canto qualquer de seu quarto escuro. A janela estava aberta, o vento entrava lentamente enquanto o Rio de Janeiro parecia estar em silêncio.
 Seu olhar fora de encontro com o céu escuro lá fora, enquanto seus dentes mordiscavam o seu lábio inferior, demonstrando uma certa apreensão. Suas mãos, agora apoiadas no colchão e seus pés que tocavam o chão gelado, faziam com que sua pele quente e suada, voltassem a sua temperatura normal. Não havia muito o que se fazer, apenas pensar no pesadelo da noite anterior.
 Do outro lado da cama, não havia nada a não ser um travesseiro e uma parte arrumada dos lençóis que, por parte dele, já estavam bagunçados. Não havia nada a não ser a lembrança daquela menina numa noite de verão em que fumava o seu último cigarro. Conversavam sobre coisas banais, até mesmo sobre a estupidez da vida e trocaram sorrisos sinceros. Ela, que não tinha nada a perder e ele, que tinha toda uma vida para foder. Tudo se desfez, tudo se recompôs e num piscar de olhos, eles já estavam debaixo dos lençóis, ofegantes e sem respirar nada a não ser a transpiração um do outro, que assim continuou durante muitos e muitos meses.
 Ele fazia o tipo seco, detestava admitir que sentia falta dela. A única coisa que passava diante de seus olhos agora era o simples fato do tempo estar voando, suas tatuagens estarem sumindo, suas cervejas terem se acabado e seus cigarros, há muito tempo, queimado o seu carpete da sala. Ele nem se preocupava em comprar um novo ou se recompor, ele apenas respirava os segundos que a vida insistia em lhe entregar... E nada funcionava.
 De barba rala no espelho do banheiro, as quatro horas da manhã de uma maldita segunda-feira, estava ele com a expressão sonolenta de quem não se preocupava com o trabalho na manhã seguinte, e enxergava, com as pequenas mãos arranhando o seu peito, o mesmo olhar no espelho de cinco meses anteriores aquele e se perguntava, silenciosamente, se um dia seria capaz de trazer isso de volta.
 Numa certa euforia, colocou o rosto para fora da janela para ver se conseguia respirar novamente, um ar diferente daquele que estava com o cheiro de seu suor, de sua nicotina. Olhou e observou, bem de longe, as ruas iluminadas e a beleza daquela cidade que ele tanto gostava, se não fossem por ocasiões como essa, afinal de contas, ele não tinha o porque de se sentir europeu, mas gostava do Rio.
 Fechou as cortinas e voltou seu corpo para a cama umida que o aguardava. Deu três suspiros e com uma chama invisivel, mais um cigarro para apagar. A noite continuou, o dia logo amanheceu e o barulho da porta amorteceu o silêncio. Por horas, suas pernas não se moveram.
 Mais um cigarro abandonado no cinzeiro preto de plástico que estava na pia do banheiro.

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Ventos e maçãs

 A insônia me consome. As responsabilidades despencam sobre meus ombros enquanto meus olhos continuam abertos. As vozes são músicas para a minha mente, enquanto que as memórias passam lentamente como um filme sendo rodado em camêra lenta. Eu não consigo adormecer. Eu não consigo parar de pensar em maçãs. Eu não consigo, por um momento sequer, tentar não pensar em maçãs. Tudo sobre as maçãs. Doces, pequenas maçãs doces cortadas ao meio, divididas por uma faca antiga. Divididas por uma dose qualquer de tristeza.
 Eu digo maçãs porque maçãs são belas. Possuem um sabor suave, lento, neutro. São belas de se admirar, boas de se cuidar, deliciosas para se devorar. Penso em você como uma pequena maçã enfeitando as minhas tardes de outono. Penso em você como uma maçã que eu possa saborear lentamente, que não precise de tempo, que deixe o relógio desandar enquanto nos apreciamos lentamente. Penso em manhãs delicadas, frutas delicadas, sentimentos delicados, sua pele delicada e seu cheiro tão gostoso quanto uma brisa de primavera.
 Então, como penso, lembro-me de uma determinada noite de sábado. A sua voz do outro lado do celular, eu pensando em tanto pra dizer, fingindo esconder, você cavando os meus segredos e me fazendo rir depois de um longo dia. Pensava em como gostaria de lhe encontrar, como faço algumas vezes quando posso tê-la em minha mente. Queria por um motivo ou dois, reivindicar as minhas palavras, as minhas fraquezas e admitir por inteiro o quanto você consegue me deixar sem nem ao menos o que dizer, limpando a minha mente de qualquer coisa racional que eu pudesse dizer, você compondo as minhas bobagens e eu, melódicamente, cantando-as no seu ouvido. Você e sua voz.
 Aí então, vejo novamente por alguns segundos, aquele seu famoso sorriso libriano que eu tanto gosto. Aquela maneira engraçada que você tem de me olhar as vezes, como se pudesse me despir e desmoronar todos os meus muros, minhas proteções, e me afagar os cabelos como quem não precisava ter medo de se aventurar. E você se aventurava, se afobava junto a mim. Nós riamos e nos calavamos em seguida. Eu te queria e você, se deitava nos meus pensamentos enquanto fumava um cigarro e passava os olhos por mais um dos meus contos bobos pra você. Você sorria e eu, também.
 Olhos intensos. Eu percebia e te olhava como se não pudesse encontrar um fim para aquele olhar tão sincero que você me lançava nas noites de sábado. Olhar que me prendia a alma e me calava as palavras secas, depois me torturava lentamente como se soubesse o que queria. Depois, vinha acompanhado de um imenso sorriso. Esse sorriso que eu tanto gosto! Essa pele quente que eu tanto quero e esses lábios tão belos quando tocam os meus. Quero você por inteira. Por uma noite ou três, por quantas noites você quiser.
 Quero sua voz, o seu corpo, suas curvas, suas mãos e seus abraços. Seus beijos, principalmente aqueles adocicados com Stella. Quero você como uma maçã. Doce e forte. Para lhe devorar os detalhes, sentir a sua textura e lhe cravar marcas de uma noite quase inesquecível. Eu quero tanto.
 Inclusive, quero seus papos. Suas risadas harmonicamente com as minhas e suas mãos para beijar e lhe sorrir um novo dia. Quero ser o seu refúgio e me aventurar ao seu lado enquanto a tempestade nos leva para um lugar qualquer, e depois, quem sabe, a gente se preocupa em voltar para algum lugar.
 Eu quero velejar ao seu lado, Bárbarela, lentamente como as vozes do vento cantam as canções da noite.

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Devaneios de domingo

 Domingo a noite, véspera de feriado e a casa completamente vazia. A fumaça já se espalhava pela sala enquanto que com as luzes apagadas, pouco enxergo das paredes esverdeadas que me rodeiam e os quadros antigos, pintados e manchados com uma dose extra de sangue e dor. Paisagens fictícias de alguma cidade do interior da Irlanda, daquelas que nevam e possuem um nome quase impronunciável. Daquelas que eu gostaria de tomar um conhaque e me atirar na neve, congelar até parar de respirar e imaginar um céu de outono tomando-me as pequenas dores da vida.
 As minhas únicas companhias são as pequenas garrafas de Stella, várias delas espalhadas pela casa e alguns maços de cigarro. O cheiro forte me asfixia enquanto a cidade começa a se silenciar. Tenho consciência de estar com os olhos abertos, embora quisesse escrever poemas clichês por todas as paredes e usar a minha pele tão seca como rascunho, para que as palavras ficassem cravadas em meus pequenos poros e eu nunca mais pudesse esquece-las. Como se fossem um juramento a mim mesma. As coisas mudam, o tempo passa, a noite se torna dia, mas a inconstância dos atos são as mesmas.
 Enquanto o meu corpo se movia em cima do tapete cinza e empoeirado, a minha mente voava para longe e acendia as velas que estavam guardadas há muito tempo. Acendiam a chama que queimaria todos os meus profundos devaneios, sem nem deixar cinzas, sem nem deixar vestígios, e me afagaria os cabelos, os dedos e tudo que ainda me resta para suspirar. Eu estaria sem vida, embora não percebesse nada.
 Levantei-me então. Apressei os passos até a cozinha, aonde eu procuraria por mais uma garrafa de cerveja e me deparo com a lâmpada quase queimada que, com um esforço grande, piscava lentamente, como em um filme de terror. Não iluminava quase nada, apenas piscava. Piscava como os segundos que se passavam, piscava compassadamente como bailarinos que dançavam em uma noite inteira, piscava como os meus olhos que a fitavam intensamente, piscava como no meu peito, haviam batimentos e eu, perdida em pensamentos, apenas pensava em piscar.
 Reluzia, cintilava, piscava, eu pestanejava, tudo se perdia, eu me encontrava, nada fazia sentido, as cervejas sumiam, as garrafas se quebravam, os cigarros se apagavam, o tapete entrava em chamas, os quadros caíam e as noites não pareciam ir embora.
 Eu. Abri os olhos. Abri os olhos. Eu. Não encontrei. Nem você. Nem as garrafas. Nem o cigarro. Nem o tapete. Nem a mim mesma.

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Tarde chuvosa

 E mais uma vez estou aqui, sucumbida, perdida no guia dos meus pensamentos estranhos e nadando entre as misturas aleatórias de rostos e faces que insistem me assustar. Persigo os seus olhos como quem tem cautela de viver, enxergo a noite como se fosse uma miragem e o dia, se põe novamente sobre esse imenso céu de veludo que cobre a cidade inteira com suas lágrimas de dor. Eu vejo muita, mas muita chuva caindo do outro lado da janela e o calor tão envolvente que parecia fazer evaporar todas as pequenas gotículas que repousavam sobre o vidro.
 Eu ouço a vida me chamar. Ouço o eco das palavras repetidas por ela e apenas a ignoro, enquanto cada pequena esfera de luz da cidade se apaga. Os sinais ficam vermelho, as ruas se movem e os ratos invadem os mármores abandonados por todos aqueles que um dia já puderam respirar.
 As flores são engolidas, o cheiro se torna podre. Tudo parece um caos, movido a uma pequena bateria de sentimentos inúteis que insistem em contradizer todos os pensamentos plenamente calculistas e arranjados. A vida se torna um software e os usuários a programam como bem desejam. As coisas clichês são cada vez mais reais e o mundo se perde em uma luz quase inexistente que se esconde apenas atrás de Plutão.
 Quero voar, quero sair, quero tudo e ao mesmo tempo não quero nada. Procuro saídas de emergência, sinto o cheiro da fumaça e me asfixio com todos os seus componentes. Ela, no entanto, destrói os meus pequenos pulmões e transforma-os em duas esponjas podres, cheirando a esgosto e recheados de baratas. Ela me causa desejos alucinantes, vontades podres e perdidas. Sede de sangue, destruição em massa e todos os grandes estragos que parecem ser sutis ao meu ver. Eu sinto tanto e não enxergo nada, eu não sinto nada mas calculo tudo e é assim que acaba por funcionar.
 Tenho uma vontade imensa, engulo cordas de aço como se fossem alimentos e meu sangue se torna cada vez mais escuro. Ouço a música e a parte sombria de seus desejos impossíveis de se entender algo ou a alguém e sinto a minha pele cada vez mais gelada, adormecer lentamente sobre a janela branca daquele apartamento com grades.
 De vez em quando, eu ainda tentava abrir os olhos pra ver se o sol chegava, mas acreditar que a chuva caía sobre os meus ombros todos os dias, era pensar que em uma vida toda, se há chuva o suficiente, mas nunca houvera sol. Nem por três segundos sequer.

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Yuki

 O balanço dos pequenos guizos pendurados em suas vestes. Seus cabelos, presos, num segredo que nem os seus suspiros mais obscuros poderiam contar. Olhos brilhavam quando os pequenos flocos de neve gelada passaram a tocar seu rosto, pálido pela maquiagem, belo pelo inverno, assustado pelo destino.
 Suas mãos, movimentavam-se lentamente acompanhando o ritmo do vento, os guizos compunham uma canção e seu kimono balançava com os pequenos desenhos que a neve passava a se formar sobre o tecido. Seus lábios revelavam um sorriso, um sorriso tão frio que parecia se fundir com toda aquela agua condensada diante de seu pequeno e delicado nariz. Um sorriso de neve, um sorriso de batom vermelho.
 Getas deixavam pegadas, um caminho longo traçado por ela em direção aquela árvore de sempre, mas que desta vez, não possuía nada além de longos galhos cobertos de algodão que abrigavam suas pequenas memórias em cada longa ponta. Ela não tinha muito, apenas uma aparência, uma máscara, um silêncio que já lhe era comum. Uns olhos sabe-se lá de que, mas que combinavam tanto com o cenário tão sem vida em que ela se encontrava. Ela esteve sempre alí e por um segundo sequer, pensou em se mover.
 Os laços, presos aos cabelos negros como a escuridão da madrugada anterior, eram vermelhos ferrugem e possuíam algumas pequenas flores brancas perfeitamente desenhadas em cada espaço que alí se abria. De vez em quando, esses mesmos laços costumavam a acompanhar os guizos e os pequenos penduricalhos, também junto ao seus pequenos laços, dançavam com seus leques em uma harmonia infinita, roubando todos os olhares que por alí passavam. Seus detalhes, suas cores, seus instintos e seu corpo.
 Quando a madrugada chegava e sua delicada pele se unia ao doce kimono negro, tudo parecia fazer sentido. Os movimentos lentos dos leques com kanjis espalhados, aqueles mesmos que compunham o nome das outras mulheres, se tornavam reais e como em uma mágica, feita especialmente para crianças, as palavras eram desenhadas no ar. Os contos eram formados a partir dos seus pés e seus pequenos braços sutis, que escondiam parte de seu rosto em algo que resolveu chamar de amor. Amor ou paixão. No caso dela, paixão e amor.
 Depois, tudo se explicava. O sorriso nunca aparecia, toda noite era uma outra noite, seus amores e mistérios jamais desvendados, sua aparência tão melancólica e elegante, seu corpo jamais tocado, sua seda jamais arrebentada e sua carne composta de cicatrizes de um passado que ela mesma desconhecia.
 Seu nome, ainda sim, era neve.

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Verdades, poesias e melancolias

 Essa sou eu em uma terça-feira a noite. Reclamando e resmungando sobre a noite mal dormida e sobre as situações cotidianas que insistem em me incomodar. Sinto o cheiro do cigarro lá fora e não posso fumar, não consigo fumar. Sinto o perfume de pétalas negras e não consigo acordar. O dia é o mesmo e a noite é só um devaneio.
 Hoje eu penso em tudo. O cansaço não me impede e as palavras se constroem automaticamente na minha pequena e alegre canção. Hoje tenho um violão pra poder cantar e finjo estar um pouco mais feliz. Eu tento acreditar, mas me parece impossível de se ver. Poderia ser simples, como passos bêbados em uma rua deserta em plena madrugada, ou poderia ser dificil, como acreditar em finais felizes que sempre fizeram um cego continuar a caminhar pelo túnel vazio. Era tão fácil de se escrever sobre, mas como eu poderia dizer?
 Aí paro pra pensar que de um romance, a gente encontra outros e que meu lado sentimental sinceramente prefere não entender como isso funciona. Na maioria das vezes, quando penso em calcular o meu rumo, eu vejo que faz parte se perder assim, só que nem sempre. Nem sempre é tão bom. Eu não gosto de me perder, eu gosto de remar, mas não gosto de chegar. Nada entendo, nada descubro, nada consigo enxergar. Sou outra cega procurando por um refúgio.
 Eu tenho meus inocentes e inconsequentes dezoito anos, pouco sei sobre a vida, pouco vivi para entender a visão que o mundo tem sobre ele mesmo. Sou apenas um passo perdido no meio dos bêbados da madrugada e entendo que não acredito em muito do que se deveria acreditar. Sou tola, rainha de mim mesma, razão e questionamento do fracasso e das ondas dos mares. Fracasso da chuva e do outono inexistente nessa minha terra.
 A voz trêmula que canta as minhas palavras lentamente e desafina toda vez que chega perto do fim. Eu tenho um violão, eu tenho um remo, uma vela pra velejar, um navio pra afundar e outros trezentos para sentir ou tentar sentir. Eu tenho uma monotonia, uma melancolia jamais vista. Eu tenho alma de pseudo poeta e olhos de um artista frustrado... Eu não tenho nada.
 Nem arte, nem música, nem poesia e nem uma verdade sequer.

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