Noite parisiense.

 Era Dezembro. É, só podia ser Dezembro. Era o mês que mais me atormentava. Era o mês que Paris ficava coberta de neve e era o mês em que ela fazia aniversário... Não Paris... Ela. A outra.
 Dei um trago em meu cigarro novamente enquanto observava a cidade pela porta de vidro. A neve caía lentamente e a televisão avisava a proximidade do natal. Eu permanecia de olhos fixos naquelas luzes todas, que enfeitavam a torre eiffel de maneira que a deixasse cada vez mais deslumbrante a cada olhar e a minha mente voava para outro lugar, sem dar sinal de quando iria voltar. A fumaçava já havia se espalhado pelo ambiente e ainda não me sufocara, o apartamento ficava cada vez mais frio pela temperatura lá fora e a garrafa de vinho, abandonada ao lado do cinzeiro, já estava vazia. Tão vazia quanto meus olhos, azuis, que observavam a noite parisiense.
 Levantei-me e decidi dar uma volta. Não estava muito preocupada com o fato de estar nevando aquele tanto, eu precisava respirar um pouco, observar os carros que também procuravam seu rumo e a sua saída, a saída desse bosque que parecia ser tão lindo, tão puro que acabou por se tornar um pesadelo. Dei um longo suspiro enquanto acendia outro cigarro, continuei caminhando com a neve em meus pés, deixando-os cada vez mais gelados, assim como os meus lábios aflitos procuravam por refúgio.
 Decidi ir até a torre eiffel, talvez algo tão belo fizesse com que eu não me sentisse um lixo.
 Caminhei um tanto bom até chegar lá e quando cheguei, observei de perto aquelas luzes intensas, que chamavam a atenção de todos que passassem por alí, suspirei e resolvi me sentar, debaixo dela, com mais um cigarro barato na boca, procurando encontrar o que não queria, procurando esquecer o que deveria embora preferisse crer que as flores vermelhas de Maio fossem mais belas do que aquele enorme pesadelo que estava vivendo.
 Alguns flocos de neve me atingiam, outros seguiam seus rumos para bem longe de mim. As pessoas que andavam por alí sorriam, contemplavam tamanha beleza sem se importar com o amanhã e isso me deixava com inveja, pois era dificil acreditar que as pessoas pudessem ser tão felizes juntas, quando no momento em que nasceram, estavam sozinhas... Não entendo esse porque de se encontrar e depois se perder, não entendo essa vontade de querer ficar junto, de querer sentir todas aquelas coisas clichês se no fim, acabam por se desencontrar. As pessoas querem viver de reencontros e não de desencontros, mas eu prefiro o desencontro, ele se torna suave com o passar do tempo.
 Depois de tantos pensamentos e flocos de neve, resolvi procurar um bar qualquer. Levantei-me e fui seguindo meu caminho, rumo ao desencontro e acabei por encontrar almas tão solitárias quanto a minha. Adentrei aquele bar e logo me sentei em um dos banquinhos do balcão. Pedi o vinho mais porcaria do cardapio e passei a bebe-lo. Depois da meia noite, seria oficialmente "natal" e eu passaria embriagada com pessoas desconhecidas. Almas perdidas, almas de desencontro.
 - Uma taça de Romer du Hayot, por favor. - A voz que soou no meu ouvido, com um sotaque francês bem rispido chamou a minha atenção e quando meus olhos azuis encontraram aqueles olhos verdes, eu fiquei curiosa, mas apesar dos olhares, recebi um sorriso.
 - Boa noite.
 - Boa noite. - Apesar do sotaque ser bem rispido, a voz era tão suave quanto bossa nova. Retribuí o sorriso.
 - Me acompanha?
 - É, por que não? - Acho que havia encontrado outra alma solitária que também precisava de uma boa e longa conversa de bar, regada a alguns vinhos de Bordeaux, ruins e baratos, mas resolvi deixar que a noite me levasse, embora nada fizesse sentido, não era razão para eu me afobar... Eu preferi me afogar naqueles verdes tão intensos que me cercavam a madrugada... Que me abriam um novo mundo e que me dirigiam palavras. Secretas. Palavras secretas.

Dedicado a Mariana V.

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