Archive for março 2014

Ironias da vida

 Sentei-me na sacada de casa, apenas para observar a poeira que cobria a cidade nessa segunda-feira tão monótona. Levei comigo uma garrafa de água com gás, já que estou em um momento aonde penso estar saudável, sem pensar em sequer nenhuma cachaça, e voltei a pensar em todas as merdas que meu cérebro tem acumulado nesses últimos tempos. Fico me perguntando quanta merda é merda o suficiente pra me deixar insana, maluca, sem saber para onde correr, para quem pedir ajuda. Merda é merda em qualquer lugar, qualquer hora, há merdas que são mais gostosas de se dizer.
 Pensei em como minha vida, não muito significativa, sendo apenas uma em sete bilhões de pessoas no mundo inteiro, não fazia muito sentido. Pensei em como a realidade era chata, em como as palavras me envolviam, me abraçavam as mágoas, as frustrações, me atiravam de um penhasco de sensações para um mar de alívio, aonde eu pudesse respirar debaixo d'água, sabendo que haveria sol no dia seguinte. Pensei em como amei essa literatura, que parece nem me pertencer mais, que parece ter sido substituída por toda babaquice diária que preciso enfrentar. Pensei muito, pensei circularmente.
 Eu deveria mesmo é me afundar nos pensamentos de Freud e fingir que sei de alguma coisa que se instala em cada inconsciente. Deveria mesmo era suspirar, recuperar a fé na humanidade e escalar o Machu Picchu com unhas e dentes, mas não vou fazer isso. Definitivamente não. Definitivamente não presto pra isso, ver a cidade com capas de poeira parece-me mais interessante, assim, toda essa poluição se instala em meu organismo imundo, o qual trabalha como um mecanismo para me manter viva dia após dia, apenas porque precisa fazer isso. Quem é que mandou? Eu não mandei. Nem me lembro de quando comecei a respirar.
 Em horas como essa, tenho vontade de menosprezar tudo ao meu redor. Tenho vontade de matar pessoas, não assistir o mesmo filme de cenas desastrosas em minha mente, não ouvir mais falar de tanta coisa que me causa tanta frustração. Como posso saber? Como posso entender? Como poderia ser uma máquina, para apagar todas essas sensações, imagens, sons, ruídos, porras e pensamentos? Como as coisas poderiam fazer sentido? Eu juro que não entendo. Juro que não sei. Embora todos digam ser simples, eu não acreditaria nisso tão bem.
 As coisas são simples para pessoas que não são como eu. Não sou especial, porra nenhuma dessa coisa e tal. Mas eu penso muito, calculo tudo, tudo é muito matemático no mundo aonde eu vivo, sentimentos existem, são calculados, possuem uma explicação, e pro que ainda não sei explicar, eu tento descobrir, buscar respostas, mas tudo é muito certo. Algumas coisas variam, as estatísticas mudam, mas a certeza é de que sempre vou chegar a algum lugar, importante ou não, por um caminho ou outro, passa a fazer sentido.
 Enfim, descobri que preciso de um psicólogo, terapia, cachaça, um desentupidor de privadas para jogar toda essa merda pela janela dos meus ouvidos. Afinal de contas, por que é que alguém teria uma pele de aço?

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Uma carta para a menina de cabelos à Caetano.

 Meu bem,

 Não vou iniciar esta carta chamando-lhe de leãozinho. Vou iniciar esta carta descrevendo sobre um evento que ocorreu no ano passado. Um evento que já comemorará o seu um ano de existência, de peculiaridade em nossas vidas, não sei enquanto a sua, mas a minha, que passou por uma mudança drástica desde que você, com tanto carinho, calor, paixão e intensidade, invadiu o meu coração de poeta triste, de Pierrot abandonado, maquiado pelo destino com cicatrizes que deveriam ser esquecidas.
 Tem muito tempo que não lhe escrevo nada. Tem muito tempo que não sei mais como reconhecer todas as coisas pequenas (ou gigantescas) que você causa em meu ser, que tornou-se um escravo de sua ternura e presença. Tem muito tempo que essas sensações se tornaram rotineiras, novas, únicas, se renovando ou dando lugar a coisas novas todos os dias, toda essa turbulência de saber amar ou desamar alguém que está de mãos atadas, juntamente com as minhas, com dedos entrelaçados enquanto esperamos pelo futuro que nos aguarda, ansiosas. Há quem diga que não faz sentido, que não sei mais dedilhar modinhas pra te impressionar, que não penso em lhe escrever milhares de cartas de amor, que não me lembro daquela noite em que nossos olhos se uniram, se encontrando em apenas um desejo irracional que tomou conta de nossos corpos, mas foram contidos pelas circunstâncias da vida. Circunstâncias que depois aproximaram um eu, de um você, de um nós, que agora é quase tudo, ou pelo menos tudo... Tudo pra mim.
 Seus cabelos à Caetano não mudaram em nada. Agora só estão mais claros. Suas mãos continuam leves, mas dessa vez, um pouco mais cuidadosas. Seus lábios estão mais doces, seu corpo está mais quente, seus braços são mais envolventes do que eram quando começaram a me sacudir pra dentro de um mundo desconhecido. Você, que ainda é você, agora é Marisa Monte com cabelos à Caetano e mãos de Frida. É uma coisa única da minha poesia, que ainda continua sendo a melancolia de uma mente que não separa sentimentos. É como se Frida pintasse as palavras que escrevo, Marisa as cantasse, Caetano as compusesse e você se deitasse na melodia doce que posso dizer que é parte do nosso amor. A mesma melodia que construímos aos poucos, melodia em que escorregamos tão bem quanto Rita Lee gostaria de roubar os anéis de Saturno, para fazer o mesmo que nós.
 Antes de me emaranhar em seus cachos tão belos, costumava navegar também pela imensidão escura que chamo de mar de estrelas. Gostava de remar sem rumo, de saber que poderia tirar férias em Júpiter, roubar diamantes em Netuno, presenciar chuvas de meteoro diretamente de Marte, sentir calor em Vênus, desembarcar no porto da Lua, aonde eu me encontraria com toda a minha tristeza e solidão. Agora, arrisco remar cada vez mais alto em alto mar ou em alto céu. Gosto do vento que sopra as minhas velas, que me guiam para o mesmo farol que me acolhe todas as noites. Gosto de desembarcar no seu porto, encontrar seu rosto, desejar o seu beijo, me envolver em seus cabelos, me amarrar em seus braços e desaparecer pelo continente sem pensar em nada. Gosto de me envolver com você, me tornar uma, uma só parte de ti, que queiras levar pelo resto de sua vida. Gosto de pensar nessa possibilidade. Possibilidade de ser seu desejo, de estar sempre ao seu lado.
 Apesar de lhe fazer adormecer nas melodias da vida, nas palavras que gosto tanto de escrever para ti, nada substitui os sons que adoro quando sinto todo o seu calor em minhas mãos, quando seus cachos deslizam, pesados pelo suor, envolvidos em sua ternura, em sua intensidade, em seu sorriso e sua paixão. Paixão que não se apaga, apenas se afaga, e que implora pelo meu eterno calor e sentimento obscuro que nos envolve apenas quando estamos nos entrelaçando. Quando entrelaço você em meus seios, quando guardo você em meu coração, quando abocanho seus seios na madrugada tão quente que sempre faz durante os verões. Quando tens a minha alma, junto a sua, unidas em algo único. Algo nosso. Algo só nosso.
 A saudade é uma parte nossa que constrói aquilo tudo que gostamos de chamar de intensidade. A vulnerabilidade de nossos seres são complexas, mas são fraquezas belas que fazem com que nossos lábios se prendam, juntos se sufocam, almejam por amor, por tudo aquilo que não conseguimos descrever, por toda melancolia que desaparece quando você, menina de cabelos à Caetano, me aparece sorrindo, com reflexos nos olhos, braços abertos, cílios longos e amor transbordando. É quando se deita em mim, fecha teus olhos, me acaricia com teus cílios, limpando o meu peito de toda melancolia que existe dentro de minha própria prisão. Teus beijos que marcam o meu corpo, preparando-o para toda a invasão de sentimentos desconhecidos que me tornam algo frágil, algo que desconheço, algo que pertence somente a você. Aos seus cílios e lábios.
 Temo que seja assim. Temo que suas mãos façam mais, que me afaguem, me afoguem dentro de ti, como vítima de uma cena perfeita. Cena composta por todos os elementos, cores, músicas, letras, palavras, vozes que fazem parte de quem somos e de quem queremos ser. Quero estar sempre navegando por dentro de suas veias, sempre chegando ao porto de seu coração, para transportar todo o meu amor que sofre um acréscimo a cada dia. Quero navegar bem fundo em tua alma, para me afogar em suas podres delícias, seu lado obscuro, os seus limites mais belos e maravilhosos. Quero me prender em teus olhos para todo o sempre. Quero lhe acompanhar para onde quiser ir.
 E não vou citar "último romance", pois não fará muito sentido.
 Vou dizer que é como se as pequenas coisas soubessem, que se há poesia a ser dita, há amor para ser cantado. Há rima que se complemente com outras para que eu não precise dizer que o vento irá nos levar para qualquer rumo, mas vou sim afirmar que um farol não se apaga. Vou dizer que o universo é nosso, que nessa imensidão, sabemos para onde ir, e se não soubermos, naturalmente seremos levadas aonde precisaremos ir. Como um universo que conspire a nosso favor, há sempre um paralelo que nos levará aonde quisermos ir, então diga-me o que fazer, que faremos o que quiser, quando quiser, aonde quiser. Nada nos impedirá de viver o que temos de viver, o que temos de amar e compartilhar, e toda essa felicidade que tratei a você como todas as chuvas de diamantes de Urano. Que eu te leve para navegar para outro sistema, bem longe daqui.
 Infelizmente, acho que sou uma poeta que perdeu o jeito, mas não o amor.
 O amor por ti, que é a minha maior poesia, meu maior conto, minha maior crônica, meu maior livro, minha maior aventura e a minha maior parte.
 Dedico a você, então, a minha musa, todas as palavras de amor que possam existir nesse mundo.

 Do seu eterno,
   Floco de Neve.

 Ah, pra nós, todo o amor do mundo.
 Que ainda é pouco pra gente se aventurar.

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