Archive for dezembro 2012

Devaneios em Tocantins.

 Há muito tempo que não escrevo nada que me convém... Há muito tempo que não me encontro nas palavras de alguém e sei que não falta muito para que eu possa, de uma vez só, parar toda essa turbulência que me carrega até o fim dos meus planos secretos, que não parecem fazer mais sentido quando se trata dessa enorme estrada, a qual eu olho da janela e não sei aonde vai chegar... Se eu soubesse, eu viveria assim... Sempre a toa.
 Já está escurecendo e nós continuamos seguindo por esse asfalto cinza com faixas amarelas que há muito tempo, precisavam de uma reforma. Raramente vejo carros vindo na direção oposta e muito menos procuro remover meus óculos escuros para enxergar quem está a minha frente ou até mesmo ao meu lado... Alguns dormem, eu me perco, eu escrevo com um pequeno feixe de luz em direção a cada mínima palavra por mim descrita... Sinto saudade, mas não sei do que.
 Todo esse cansaço em meus olhos me fazem pensar, deixar a caneta de lado e talvez observar, mais uma vez, toda a paisagem lá fora e dessa vez, sem sucesso. A noite caiu como um raio num tempestade de verão e eu nem pude perceber que no final do dia, eu estava sozinha novamente, sem me preocupar com o que havia de errado ou com o que poderia acontecer no final de tudo isso... Ainda sim, queria descobrir do que sinto falta. Não é de ninguém. Há tempos não tenho amores e nem desamores, há tempos não sei o que significam as músicas que de vez em quando, ainda tocam na rádio da estrada, há tempos estou perdida em algo que nem existe e um tanto despreocupada com quem anda ao meu lado... Não sei se foi o que eu trouxe do Mato Grosso ou se fui contagiada com a melancolia de Curitiba, que eu nem conheço, mas talvez tenha sido todos aqueles poemas recitados em paredes durante uma longa viagem à São Paulo... Aonde estou agora?
 Não são dicionários e nem guias que me salvarão, nem as palavras e nem as alegrias... Talvez possa ser um pouco menos do que foi um dia e muito mais do que poderia ter sido durante pequenos segundos de devaneios... Eu não sei se entendo, não sei se vou chegar, mas vou... Vou sim. Vou porque não tenho porque não ir, afinal, eu só tenho 24 anos e uma miséria inteira pela frente... Suspiros atrás de suspiro, o feixe de luz se apagou e meus olhos se fecharam como se encontrassem a paz... E eu... Eu sigo em frente pelas estradas do Tocantins, sem saber se um dia eu vou chegar.

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Viva la revolución!

 Põe esse teu charuto na boca e te calas que já não quero ouvir mais nada. São meras palavras de um revolucionário que fuma cigarro de palha, bebe cachaça e discute política, se não sou o mesmo "marginal" que pixa seu muro em busca de uma revolução. Toma um charuto, patrão! Sinta-se em casa.
 Temo que seja tudo o que eu tenha dito. Temo que talvez não sobreviva ao amanhã, buscando palavras e teorias para um novo dia que nunca chegará, para uma madrugada que parece não ter... Um sol forte sobre a cabeça de quem precisa de um misero pedaço de papel que lhe daria uma barriga cheia e um conforto de três horas pra menos, um copo de água, um sorriso da esposa e talvez dos três filhos. Tijolos em uma obra em construção, cimento por tijolo, suor por arroz, cansaço por feijão.
 Três copos e meio de pinga e a coragem para continuar. Risadas e casos de família, casos ocultos, vida que ninguém que moraria alí poderia conhecer, histórias que as paredes não poderiam contar e um mundo totalmente distinto de seus patrões, formados com uma blusa social branca, sem nenhuma mancha, sem nenhum cheiro forte de esforço árduo para viver insignificantemente.
 Em meio a todos esses casos, estou eu com um marlboro red na mão e um bafo de uísque na boca. Sinto cheiro de fumaça, sinto cheiro de alcool, sinto cheiro de vômito, sinto cheiro da podridão e vejo meus olhos sedentos por uma revolução quase que utópica em minha mente. Sinto cheiro de revolução. Sinto cheiro de boteco, sinto cheiro de poder, sinto cheiro da derrota, sinto cheiro de suor, sinto cheiros e cheiros enquanto as cadeiras vão se movendo sozinhas e vozes começam a ficar mais altas... Eu não sei nem pra onde estou indo.
 Abri os olhos e soube, não era só eu. Era o rapaz dos tijolos. Sim, sim, o rapaz dos tijolos está do meu lado! Gritamos por um novo dia, lutamos por uma nova fase, morremos por um novo amanhecer. Não temos pátria, não acreditamos em promessas, não somos partes de um juramento, não queremos ficar calados, não queremos sofrer sem sentir como poderia ter sido, não queremos mais um dia! Queremos uma chance, queremos um agora e uma utopia que todos compartilhamos através de nossos olhares ao sol do meio dia. Queremos as mulheres tomando conta do poder, queremos gritar com elas e sentir a liberdade correndo em nossas veias como seres humanos iguais que somos, queremos a educação, a responsabilidade de cuidar de nossos filhos para que sejam brilhantes no futuro, queremos a inserção da cultura para todos, queremos mudar a estupida letra do hino nacional, queremos um hino nosso, nossa garra, nosso povo, nossa luta, queremos uma saúde decente, queremos um atendimento melhor, queremos respeito, queremos carinho, queremos igualdade, queremos professores, queremos mais amores, queremos dividí-los, queremos uma sociedade aonde todos tem o poder, queremos algo nosso e não do governo.
 Queremos uma revolução! Uma maldita revolução! Queremos gritar e nos deliciar com os prazeres de se ter uma vida confortável e tranquila. Queremos o fim do governo.
 A minha utopia, no entanto, se tornou um tesão e um ecstasy dentro de mim que nunca mais se apagou... Um jovem revolucionário com um cigarro na boca e um uísque pra esquecer que as lutas nunca funcionam se o povo não gritar seus desejos e ideias...
 Mas que revolução... Que revolução.

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