Velha infancia.

 Hoje eu quis brincar de não me importar, fingir que nada me atingia e que tudo não passava de uma brincadeira. Os falsos sorrisos que dei, as palavras que proferi e a vida que vivi são fantasmas do que me restou. Tentei brincar com mascaras mas no meio do baile, meu final feliz fugiu, se acidentou e tudo acabou. Tentei brincar de amar alguém mas não sabia as regras certas, brinquei de me apaixonar, brinquei de mandar flores, brinquei de me magoar e de me iludir. Brinquei com tanta gente e acabei por deixar pra trás tudo o que eu tinha.
 Hoje eu quis brincar de voar, tentei ir tão alto e acabei por cair no chão, alguns anjos debocharam de mim e descobri que tirar meus pés do chão não seria mais uma boa idéia, portanto fui brincar de andar descalço, pois o sapato me apertava o pé e eu queria liberdade desse cantinho tão fechado que parecia me proteger. Quis brincar de te esquecer, no entanto me esqueci que não sei esquecer você e fico calada nas madrugadas de domingo a cantarolar uma canção qualquer que me lembrasse o fato de esquecer você.
 Hoje eu quis tentar sorrir, mas desaprendi o que isso realmente significava. Quis brincar de abandonar tudo e me lembrei que já estava sozinha. Quis brincar de tentar confiar mas nunca gostei desse tipo de brincadeira, pois sempre saí com o joelho ralado no final. Quis brincar de perder você mas acabei por chorar de medo antes do fim.
 Hoje eu quis brincar com você, usei uma mascara e você não, dancei sozinha no baile e você só observou, tentei sorrir mas ninguém viu, nem você. Tentei fugir mas não deixei, voltei pra te olhar e você estava tão bem e parecia ver o mesmo em mim. Tentei dançar de novo mas as lágrimas não quiseram. Tentei voltar, tentei brincar e acabei por descobrir que não era mais criança. Eu não sabia mais brincar. Brincar de amar, brincar de viver, brincar de esquecer, brincar de sentir ciumes de você. Brincar de ter você.

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