Eu tive você naquele instante todinha para me dizer tudo o que eu nunca havia entendido antes. Seu olhar, seu jeito de me segurar, a lentidão com a qual se movia entre meus beijos, toques e desejos. A forma de me envolver contigo parece sempre mais gostosa quando estamos a sós, sem ninguém perceber que sumimos do mundo, ou que fomos levadas a outro planeta sem que ninguém escute nossos pequenos pensamentos.
Haveriam tempos em que eu diria que nada disso seria possível. Eu me cobriria de titânio para escapar de seus jogos de amor. Tentaria escapar pela escadaria de incêndio, que me levaria ao inferno, o inferno de viver longe ou sequer sem você. Não organizei os meus pensamentos como uma coluna de jornal, são todos aleatórios, intensos, que me trazem você de forma sutil, sem que hajam muitas expectativas, sem que possam despir você, me entregando tudo o que possui, me fazendo guardar em minha pele, o que tanto me soou fora do comum. Você-toda-para-mim.
Eu me irritaria com os seus flertes alheios, até me recordar da sua voz silenciosa cantarolando janta do lado direito do meu carro. Eu sorriria e você nem perceberia, estava encantada com as luzes da cidade para se dar conta de que eu lhe admirava. Você me olharia, me sorriria um sorriso pontual e quiçá me beijaria com a boca de hortelã, mas isso é Chico e não Bárbara-e-eu.
Depois nos entregaríamos como gostaríamos. Nós iríamos nos perder em qualquer beco da cidade para que pudéssemos ter um momento em que nossa união seria bem mais do que entre sorrisos e beijos. Nós nos entenderíamos de forma sutil, bruta, calorosa. Uma paixão desconhecida que nos transformaria em duas poetas da madrugada. Você como tem que ser, eu como sou, tanta diferença em duas metades tão iguais que nem sequer parece ser tão contraditório.
Eu, provavelmente, voltaria a dizer que adoro os seus cabelos à Caetano. Você, não sei, diria que adora as minhas manias-cheias-de-manias-aleatórias pelas quais você se interessa de forma engraçada. Eu me assusto, você se diverte. Você sente e eu tenho ciúme. Quero te possuir em um sorriso ou dois, mas tento não confessar, isso não é coisa de "escritor solitário".
Embora, há muito por vir, há muito o que entender também, eu sei, você sabe, que somos assim, partes iguais de metades diferentes. Ou eu estaria contradizendo o que disse novamente? Mas é só para nos divertirmos. Porque seriamos como gostar de Kahlo enquanto eu me apaixono por Dali, ou podemos inverter. Você pode escutar Gil e eu apreciar o Veloso, mas só de vez em quando. Você pode falar francês, inglês, enquanto eu aprendo japonês e alemão. Você vai ler um livro de política, eu um de psicologia. Você vai pedir emprestado e vamos nos apaixonar novamente a cada dia que nascer nessa pequena cidade no interior do Brasil.
Quiçá, eu sei, esse amor acabe. Mas nunca. Nunca.
Deixar de dizer é uma coisa, apagar é outra, mas o que se sente fica marcado para sempre... Você em mim, como cicatriz, eu em você, como lembrança. Aniversário de criança.
Um amor a la Bárbara-e-eu.