Archive for setembro 2013

Um amor meu, seu, só

 Eu tive você naquele instante todinha para me dizer tudo o que eu nunca havia entendido antes. Seu olhar, seu jeito de me segurar, a lentidão com a qual se movia entre meus beijos, toques e desejos. A forma de me envolver contigo parece sempre mais gostosa quando estamos a sós, sem ninguém perceber que sumimos do mundo, ou que fomos levadas a outro planeta sem que ninguém escute nossos pequenos pensamentos.

 Haveriam tempos em que eu diria que nada disso seria possível. Eu me cobriria de titânio para escapar de seus jogos de amor. Tentaria escapar pela escadaria de incêndio, que me levaria ao inferno, o inferno de viver longe ou sequer sem você. Não organizei os meus pensamentos como uma coluna de jornal, são todos aleatórios, intensos, que me trazem você de forma sutil, sem que hajam muitas expectativas, sem que possam despir você, me entregando tudo o que possui, me fazendo guardar em minha pele, o que tanto me soou fora do comum. Você-toda-para-mim.
 Eu me irritaria com os seus flertes alheios, até me recordar da sua voz silenciosa cantarolando janta do lado direito do meu carro. Eu sorriria e você nem perceberia, estava encantada com as luzes da cidade para se dar conta de que eu lhe admirava. Você me olharia, me sorriria um sorriso pontual e quiçá me beijaria com a boca de hortelã, mas isso é Chico e não Bárbara-e-eu.
 Depois nos entregaríamos como gostaríamos. Nós iríamos nos perder em qualquer beco da cidade para que pudéssemos ter um momento em que nossa união seria bem mais do que entre sorrisos e beijos. Nós nos entenderíamos de forma sutil, bruta, calorosa. Uma paixão desconhecida que nos transformaria em duas poetas da madrugada. Você como tem que ser, eu como sou, tanta diferença em duas metades tão iguais que nem sequer parece ser tão contraditório.
 Eu, provavelmente, voltaria a dizer que adoro os seus cabelos à Caetano. Você, não sei, diria que adora as minhas manias-cheias-de-manias-aleatórias pelas quais você se interessa de forma engraçada. Eu me assusto, você se diverte. Você sente e eu tenho ciúme. Quero te possuir em um sorriso ou dois, mas tento não confessar, isso não é coisa de "escritor solitário".
 Embora, há muito por vir, há muito o que entender também, eu sei, você sabe, que somos assim, partes iguais de metades diferentes. Ou eu estaria contradizendo o que disse novamente? Mas é só para nos divertirmos. Porque seriamos como gostar de Kahlo enquanto eu me apaixono por Dali, ou podemos inverter. Você pode escutar Gil e eu apreciar o Veloso, mas só de vez em quando. Você pode falar francês, inglês, enquanto eu aprendo japonês e alemão. Você vai ler um livro de política, eu um de psicologia. Você vai pedir emprestado e vamos nos apaixonar novamente a cada dia que nascer nessa pequena cidade no interior do Brasil.
 Quiçá, eu sei, esse amor acabe. Mas nunca. Nunca.
 Deixar de dizer é uma coisa, apagar é outra, mas o que se sente fica marcado para sempre... Você em mim, como cicatriz, eu em você, como lembrança. Aniversário de criança.
 Um amor a la Bárbara-e-eu.

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Super herói

 Quem nunca quis ser de titânio?

 Ter a pele toda revestida por um material quase indestrutível, resistente a corrosões, colado no lugar da sua pele, protegendo o seu interior de qualquer pessoa, qualquer situação, qualquer ameaça que lhe sirva de medo.
 Ter os órgãos de papel, amassados por um tempo de vida indeterminado. Alguns já poderiam estar rasgados, como por exemplo, aquele que lhe poupa toda a energia necessária para que se possa sentir alguma coisa, ou alguma compaixão por alguém, o que não atrairia ninguém, porque compaixão é clichê. É coisa de gente sentimental demais.
 Ter a capacidade de proteger os que ama. Evitar todo os perigos da vida. As aventuras seriam como nos gibis, um super herói salvando a sua cidade novamente. Tendo o carinho de todos que por ali vivem e acreditam em seu trabalho. Dormem em paz por saber que vão acordar no dia seguinte porque você esteve lá, em cima da torre mais alta da cidade, observando com atenção a movimentação de carros, de aviões, trens, e uma carta que você nem sequer soube escrever.
 Voar pelos céus e combater os seus inimigos. Ser o mocinho ou a mocinha, encontrar alguém especial que realmente queira estar contigo pelo resto de suas inúteis e inocentes vidas. Ter olhos atentos na hora de fazer amor, sair na calada da noite pois o perigo se aproxima, evitar todo aquele romance que antes lhe parecia sólido para proteger quem ama... Quem nunca sonhou em ser um super herói?
 Mas, infelizmente, não somos de titânio. Não temos super poderes que combateriam todo o mal. Não temos nem sequer um bom caráter, quiçá a vontade de proteger aqueles que nem sequer conhecemos. É tudo muito utópico vindo desse mundo, sendo que na realidade, temos vontade de destruir tudo, e migrar para outro planeta bem longe de nosso sofrimentos. Vivendo a triste realidade a qual somos submetidos todos os malditos dias. Uma história e três violas para nos alegrar nos finais de semana, e a vontade de ser super herói, guardada na dispensa dos fundos.
 Somos tão frágeis quanto um papel amassado, prestes a rasgar. Somos feitos de cicatrizes, escritos antigos, somos como livros de um sebo esquecido na rua mais escura da cidade. Temos um passado que é impossível de ser apagado, temos histórias, contamos-nas para os outros. Possuímos sonhos, um universo paralelo só nosso aonde podemos ser quem gostaríamos de ser. Vontades pequenas, desejos bobos que constituem cada um como deve ser. Somos partes de nossos livros, somos escritores natos que narram seus fatos a partir de tudo aquilo que já lhe surgiu a mente. Somos egoístas, mentirosos, mesquinhos, esnobes, manipuladores... Sadomasoquistas.
 Somos o que nos ditam para ser e, infelizmente, para nos salvar, não há um herói. Não dessa vez.
 Nem para todo o sempre.

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