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10 minutos

 O trato fora o seguinte: 10 míseros minutos para que nós pudéssemos nos aproveitar. 10 minutos para qualquer coisa. 10 minutos para conversar ou dar uma volta de carro. Você no seu lado da cama, eu no meu, olhos fixos, encadeados por uma série de arrepios que tomam conta de nossa pele... Deveria dizer que éramos pura seda naquele momento? Ou apenas reflexo de vários pensamentos em uma materialização única?

 Um minuto... Já se passou um minuto. Você me deu um sorriso largo, eu gosto desse sorriso. A iluminação lá de fora, ainda invade um pouco de nossa privacidade. Sua pele, um pouco bronzeada, recebe uma cor um pouco alaranjada. Eu poderia dizer que faltam uns quinze minutos para as seis da manhã. Seu corpo está completamente nu, e é composto por lençóis azuis que tomam conta da maior parte da sua pele. Seus movimentos são lentos, são únicos. Eles movem o lençol, apagando o som dos pássaros que começam a cantar lá fora. Você, tão indiferente, pestaneja como se o tempo fosse parar.
 Dois minutos... O mundo está a nosso favor, eu acho. A manhã já chegou, você tem uma de suas mãos em meus cabelos e me acaricia devagar. Seus lábios estão ocupados, preenchidos pelos meus, que parecem famintos, implorando por uma leve mordiscada vindo de você. Sinto o seu corpo se contrair. Seu arrepio voltar, conforme os meus toques passam a se espalhar pelo mesmo. A seda de sua pele parece se desfazer debaixo de meus dedos. Sua voz me anuncia que outro dia está para começar.
 Três minutos... Você já me tem em suas mãos. Tenho olhos fixos nos seus, enquanto parte de seus cabelos cobrem o seu rosto. Suas pernas cobrem as minhas, a multidão lá fora parecer seu ignorada. Você sente picadas em seu pescoço, dedos espalhados pelas suas costas, marcas de um passado que nós nem sequer pensamos em contar. Você, que está em silêncio, se movendo lentamente pelo ambiente quente que nos rodeia. Eu, que escrevo, mais uma vez, qualquer coisa sobre nós.
 Quatro minutos... Seu corpo está molhado. Há gotas em tudo o que vemos, sentimos e cheiramos. Há intensidade, energia espalhada pelo ar. Lábios são preenchidos com pedaços de carne, sedas são rasgadas com cuidado para não haver barulho. As suspeitas são todas jogadas foras. Seus seios acompanham o ritmo da batida do seu coração, o sangue pulsando firme em minhas veias, anunciando uma série de eventos que nunca haviam acontecido antes. Todos liberando energia suficiente para que nada se apague. Nem o sol. Nem a noite.
 Cinco minutos... Existem movimentações. Várias delas. O mar parece estar bravo. Manhã fria, noite de carnaval, tarde de passeatas em um desfile qualquer. Trens que vão e voltam, ondas que vão e voltam, buzinas que chamam a atenção nas cidades, pessoas que conversam em um bar. Uísque, da pior qualidade, repousando sobre a mesa acinzentada no canto do seu quarto de dormir. Janela entreaberta, portas rangendo. Corpos criando formas diferentes.
 Seis minutos... Sim, é exatamente isso. Seus cabelos se movem com o vento, as buzinas abafam os sons que são escutados bem a minha frente. Não poderia dizer que é a televisão, eu mentiria. Poderia saber, entender, compreender que são salivas colando sedas. São arrepios sobre arrepios, lábios sobre lábios, sussurros e conversas de noites de boteco. As coisas se tornam mais intensas. Mais trens vão e voltam. Ondas. Você.
 Sete minutos... Oito minutos... Nove minutos...
 Tudo muito rápido, tudo se tornou impossível de ser contado. Nada será narrado.
 Dez minutos... Suor na pele, tatuagens espalhadas pelo corpo, respirações ofegantes, cabelos espalhados pela cama... Uma você, deitada sobre os lençóis azuis. Eu, sobre os travesseiros, escrevendo coisas para que você possa ler depois. Tudo tão depressa, a beleza toda em uma fresta de escuridão que insiste em invadir todo o nosso momento de exatidão. As escolhas, impressas na língua, sensibilizada, a mente que vaga loucamente por momentos de ecstasy puro e são contidas com a breve realidade...
 Mas o dia chegou, a carta você leu... E outra noite assim, passamos somente... Como você e eu.

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