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Luz queimada.

 Quando escrevo, não me reconheço. É como se toda uma parte se manifestasse em um pequeno todo ao qual eu nunca tive nenhum acesso. É estranho de se tocar e é apavorante de se encontrar, é como andar de olhos vendados sobre pedras perfurantes, procurando sem saber exatamente pelo que, no meio de uma noite escura, numa praia perdida em qualquer cidade litorânea desse mundo que agora parece ser tão pequeno.

 Eu penso em pedaços de papéis, fecho os olhos para ver poucas letras se tornarem palavras diante de mim. Vejo a luz pestanejar, como se ouvisse profundamente todos os meus tão estranhos pensamentos. Vejo tudo como um nada, um cansaço como uma doença e os barulhos irritantes como um sinal de que há vida em qualquer lugar. Qualquer lugar que seja solitário.
 Vejo a luz enfraquecer, vejo-a fortalecer novamente, acho que está prestes a queimar, me deixando totalmente perdida na penumbra de uma noite quente na capital do Mato Grosso. Penso que estou sozinha, penso que meus sentidos são levados por si mesmos e que a cor tão estranhamente bizarra que essa lâmpada está adquirindo agora, não me encanta. Como tudo que me apaga.
 Procuro, então, a vida como se ela me explicasse alguns motivos dessas frases feitas de que tanto gosto. Procuro me questionar sobre aqueles que vão e aqueles que vem, qual o sentido e que a morte é a única razão certa para olhos cerrados que não enxergam o futuro. Nem o passado e nem o presente.
 A morte, amante da vida, apagou a luz de meu quarto no instante em que a cidade toda se silenciou do grande samba que tocava pelas ruas. A morte pediu um cigarro e se sentou na porta da casa do rapaz que havia saído para trabalhar. Ela esperava por ele, ela esperava por algo, ela esperava por uma cerveja.
 Ela se inclinou, lentamente, sussurrando pequenas frases compostas por melancolias de outras vidas. Outras vidas que já a acompanharam algumas milhares de vezes e ela nem sequer as perdoou quando fora o momento certo de se despedir. Ela simplesmente o fez. Como se nada houvesse.
 A vida, no entanto, é algo raro e estranho. Feita de pequenos lenços de papel, coberta por uma seda fina, vermelha e embrulhada em cartolina rosa, pronta para ser entregue na mão de alguns depois de ter sido retirada de outros. Ela é engraçada, imprevisível. Estranhamente prazerosa com tudo que lhe abre um sorriso, sensações agradáveis e até mesmo o sentimento mais procurado pelo homem: Felicidade.
 É feita como uma longa montanha russa, que em cada volta, novas pessoas entrarão para se divertir ou até mesmo, parar chorar e sofrer. É feita de decidas, de borboletas no estômago, de subidas, de despedidas, de lágrimas e de esperanças. Sonhos. Sonhos que muitas vezes, não são realizados e são apenas guardados no fundo da memória do sonhador, que não encontra outra solução a não ser chorar... Por dor ou talvez frustração.
 Somos, então, eternamente altos e baixos. Somos feitos de desejos e de egoísmo, carne, osso, sangue, gostos, desgostos, cheiros, palavras e olhares. Somos diferentes em cada quesito físico mas somos biologicamente idênticos, com sonhos e anseios parecidos. E claro, em busca de tudo o que julgamos mais importante: Felicidade.
 Embora a vida seja algo inexplicável, que não tenha respostas exatas como uma equação matemática, nós a vivemos como podemos e os desejos são realizados ao longo do duro caminho, com o suor no rosto enquanto somos apunhalados por mediocridades de outros e falsidade de alguns. Andamos com os pés descalços na areia quente da praia ao meio dia e procuramos evitar queimaduras tão fortes... Nós corremos como podemos, sabendo que no final do dia, haverá um refúgio para se aventurar.
 Triste como deve ser. Verdadeiro como deve ser. Vida cheia de passos, aços, atos, raros, ratos.
 Longe de tudo, perto de nada, ande de pés juntos se não quiser cair na areia quente.
 Pequenos dedos, digitais impressas na vida. Como aqueles que partiram e nunca voltam.

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