Archive for outubro 2011

Saudades.

 Acordei sentindo saudades.
 Acordei respirando você em todos os sentidos e acabo de perceber que minha cama está tão vazia quanto eu, sem você para olhar, sem você para abraçar.
 Procurei teus olhos de imediato, aquela luz distorcida que ele refletia enquanto me olhava e seus lábios aflitos se transformavam em um sorriso. Meigo. Um sorriso que nunca fora meu.
 Suas mãos me deixaram e me atiraram. Suas mãos me soltaram e a altura era tanta que eu acabei por cair no chão, com as asas quebradas, sem saber voar, sem desaprender a viver sem você, sem nada.
 O tempo anda mas nunca volta e nessa pressa toda, estou com receios de lhe acompanhar, não sei o que me aguarda, não sei se quero um futuro sem você mesmo que eu precise viver assim, ele está correndo, muito. Em alta velocidade, como um avião, pronto para decolar mas eu esqueci a minha bagagem.
 Sim, a minha bagagem. Aquelas memórias que eu fiz questão de tentar levar comigo e fui barrada na entrada.
 "Proibido dores e desamores." Que maldita companhia aérea é essa?
 Então eu lhes obedeci. Cigarro, fogo, alcool e memórias se tornaram cinzas, pensei que estaria livre.
 Talvez ainda te espere na sala de embarque... Ou de desembarque.

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30 de Outubro.

 Hoje é dia 30 de Outubro de 2011, são exatamente 01:44 da manhã e eu estou a espera de algum milagre.
Prefiro escrever do que dormir, pensar e repensar naquelas malditas manhãs de domingo que eu hei de enfrentar, talvez transtornar todo o trafego do meu corpo para uma pista de saída para outra cidade, quem dera isso fosse o suficiente para mim.
 Quantas cartas, meu bem, eu hei de escrever na sua ausencia. Perdi meus sentidos no instante em que fui capaz de te deixar ir e sem você perceber, reclamo da falta que me faz e percebo que não se importa, pois está com ela em meu lugar, o que acaba me matando porém tenho de aceitar que essa é a verdade entre eu e você. Que verdades? Não existem verdades? Talvez não. Talvez não existam.
 Sabe, você nunca vai saber a falta que me faz. Sinto falta até mesmo do seu sorriso e das suas irônias, idas e vindas que me aflingiam e tiravam meu sono durante a madrugada. Eu ainda perco o sono mas dessa vez é de saudade, até mesmo da sua voz, até mesmo de suas mentiras. Suas últimas mentiras.
 Eu amei demais, mas acho que ainda sim, hei de sentir sua falta, talvez pela proximidade de seu aniversário, quem sabe ainda tenha a coragem de lhe dar os devidos parabéns...

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1930

 Ele sabia que era hora de parar, mas quem foi que disse que conseguia? Ele não se controlava.
Era uma agonia a cada gotícula que escorria de suas mãos, era medo, era suor, era pesadelo, era descaso e não, não era sexo e nem café.
 Dor no peito. Aqueles olhos castanhos foram se enchendo de lágrimas que insistiam em vir e ele que não entendia nada de vir-ou-ir, continuava apertando aquela pequena memória em sua mão, que podiam ser borboletas azuis ou talvez vermelhas. Uma borboleta de cada vez, expelida por seu estomago rispido e rebelde, que insistia em se revirar, se revoltar e fazer uma revolução contra as políticas de seu cérebro. Era dolorido.
 Os lábios aflitos que se juntavam, eram agredidos pelas mordidas fortes, a ponto de corta-los, de separa-los e de destruir a união eterna que haviam se prometido, depois de invadirem aqueles outros lábios, tão rosados quanto suas bochechas.
 Caíram. Invadiram sua pele e suas roupas, a chama se apagou e o escuro passou a tomar conta daquele lugar, daquele ser, daquele garoto de olhos castanhos escuros que não queria chorar. A televisão anunciava outro espetáculo e sua vida não era um filme francês e por mais que fosse em branco e preto, não era 1930. Ele amargurou e refletiu seus pensamentos na escuridão. Não a queria com o outro. A queria contigo. Ele sempre a amou demais e sabia que não deixaria de amar.
 O cigarro chamou, o isqueiro iluminou e tudo se acabou com marcas vermelhas que combinavam com o seu marlboro red.

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Lenços de bar.

 Gosto de pensar no vice-versa. Vice-versa, versa-vice, gosto de pensar em maçãs, em amanhãs.
Dias como esse, talvez, refletem passo a passo dos planos malignos de minha utopia, meu plano de guerra, de invasão e destruição. Destruição em massa. Flores queimadas e talvez alguns bombons espalhados pelo quarto escuro, alguns gemidos e a famosa invasão, talvez uma vazão de sentimentos que a gente nem conheça mais, algo que também não faz o menor sentido.
 Cafés, canetas, lenços de bar com poemas feitos e frases feitas, com aquela letra assustadora e a falta de simetria entre elas, algumas rasuras, alguns borrões e nada disso importa, escreve-se alí qualquer besteira que se queira entender (ou que não precise ser entendido), como algo subentendido para alguém que esteja há dois mil quilometros de distancia. Quão longe isso poderia ser?
 Por fim, rasgaram-se os poemas e as promessas também, rasgou-se tudo o que restou e rasurou pequenos detalhes antes nunca percebidos, contudo deixa-se entender que ainda existe alguma coisa. Talvez as manchas de café borrem as palavras, talvez o tempo... Talvez o tempo leve consigo esse lenço de bar, talvez o tempo entregue até você, talvez o vento, talvez o café, talvez sua sopa de letrinhas. Talvez eu, talvez ela e eu nunca soube explicar porque. Porque era eu, porque era ela.

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