Três pedidos.

 Pequenos olhos escuros observavam o céu escuro numa noite de sexta-feira. Uma brisa calma tocava os cabelos também escuros daquela pequena garota que sentava no degrau de sua casa, abraçando suas pernas e olhando fixamente para uma esfera gigante, branca e que iluminava um pouco as pequenas árvores que alí estavam a descansar. Ela se encolhia devido ao frio e fácilmente se encantava com o doce cheiro da cerejeira que ficava justo ao lado de sua pequena casa e com um sorriso sincero, fitava a enorme esfera com uma certa esperança.
 Tinha lá por volta dos seus sete anos. Seu pai era ausente e sua mãe havia falecido quando ainda era muito pequena. Morava com seu avô em uma pequena casa de madeira, sobre uma montanha qualquer no interior de uma cidade do Japão. Desconhecia qualquer outro sentimento que não fosse a saudade e possuía, em seus pequenos olhos de gueixa, uma tristeza quase incalculavel, que se tornara imperceptivel com o passar do tempo, já que a pequena garota sabia melhor do que ninguém esconder suas lágrimas.
 - A princesa Kaguya... Como eu queria... Como eu sei que a mamãe está com você... Eu queria tanto estar com vocês... Fico me perguntando se vocês são amigas e como são os coelhos que vivem na lua, mamãe. Queria que você pudesse ouvir a cidade em cantoria e que pudesse dizer ao vovô que por mais que ele seja desajeitado, é um excelente avô e que está cuidando direitinho de mim. - A pequena garota disse em sussurros quando observava agora algumas estrelas cadentes que enfeitavam aquele cenário escuro de um céu que parecia ser tão infinito quanto tudo o que ela já havia visto antes e ela se sentia tão só, tão insignificante diante de tanta imensidão.
 - Sabe mamãe... Aprendi hoje na escola várias coisas legais. Hoje eu já aprendi até mesmo algumas formas alternativas de escrever o meu nome! E nunca pensei que outro kanji, além do meu, poderia ser tão dificil! Mas eu gosto, gosto muito e também tenho treinado muito para isso... Acho que até te contei! Estou treinando arco e flecha agora. Vovô disse que eu tenho muito talento e que um dia eu ainda poderia me tornar uma excelente arqueira! Você acha que eu me saíria bem? - A pequena Natsumi tinha suas inseguranças como qualquer outra garota, embora fosse um pouco mais madura pois o cotidiano a obrigou a crescer e sem muito o que reclamar, ela se calou e assumiu as responsabilidades da vida que acabaram se tornando comuns e presentes, principalmente a ausência de seu pai.
 - Tenho certeza que você fora a única pessoa que realmente me amou... Papai me abandonou e quase nunca me traz presentes e depois me leva para tirar várias fotos com ele. Sei que ele tem os seus problemas, mas ele parece nem se importar pois não se dá o trabalho nem de me ligar para perguntar como estão indo as coisas... Eu sinto, mamãe, que estarei eternamente sozinha, mas não deixo de me importar embora eu esteja sendo muito forte... Eu não tenho amigos e só tenho o vovô, mas eu sei que ele não vai ficar aqui pra sempre... - Um pequeno suspiro e algumas lágrimas já eram fortes o suficiente para tocar a terra e deixar alí um pequeno vestígio de algo que poderia ter sido feito, mas nunca fora... Não havia muito o que ela pudesse fazer a não ser...
 - Três pedidos, mamãe. Um deles é que eu quero ser muito forte, o segundo é que eu quero encontrar alguém muito especial e o terceiro é que um dia eu possa estar com você novamente. - E um sorriso tomou conta de sua expressão triste quando uma outra estrela cadente, dessa vez avermelhada, cortou o céu como se fosse uma resposta de sua mãe.
 A pequena garota, já com seus quinze anos de idade abriu os olhos e com um pequeno sorriso, a mesma noite, a mesma sexta-feira e um olhar pela janela trouxe lembranças de uma sexta-feira há anos e anos atrás, aonde ela se sentava no degrau de madeira e fazia sempre os mesmos três pedidos e que até hoje, continua a esperar pela sua nova estrela cadente.

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