Nunca disse que era pra rimar

 Xícara no fim, café de porcelana.
Vinho de sangue, taça de papel.
Cartuchos usados, cordas arrebentadas.
Finais programados, vida manipulada.
Respiração ofegante, olhos vendados.
Lábios dormentes, pernas cansadas.
Passos lentos, peito congestionado.
Trânsito parado, orquestra de buzinas.
Rodas de papelão, vidros de plástico.
Nuvens de algodão, céu de gás.
Oxigênio pastoso, poluição aquosa.
Tijolos de calçados, sapatos de cabelo.
Pontes mal feitas, obra inacabada.
Pincéis de roda gigante, sol de papel machê.
Esquinas de prédios, poesias rasuradas.
Canetas azuis, papel tingido em preto.
Globo terrestre, países e terremotos.
Desastres e enchentes, paixões e depressões.
Noite de Saturno, dia de Urano.
Estrelas de Marte, lua de Vênus.
Mentiras inadequadas, verdades infinitas.
Estradas de poeira, hotéis de lençóis.
Sentimentos calculistas, cabelos castanhos.
Nação de mentiras, alienação constante.
E eu continuo a repetir:
Vida narrada, vida programada.

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