Deitar no asfalto quente, sentir o vento dos carros que passam em camera lenta e observar um céu coberto de nuvens alaranjadas numa madrugada de Março. Sentir o chuvisco invadir os poros da pele quente que se une ao cinza sem vida do asfalto e marca as pequenas palavras de um homem ignorado pela sociedade que se senta do outro lado da calçada. Eu vejo isso e não vejo estrelas. Não vejo a lua, não vejo sinais de que o tempo vai melhorar, de que vai parar de chover e de que o dia vai voltar. Não vejo sinais dos carros que parecem não parar para não me atropelar, não vejo faróis, só vejo uma cidade completamente vazia e sem vida alguma. Sem oxigênio.
Ouço a música lenta ao fundo, na voz de Noel Gallagher em Champagne Supernova, ecoando pelas ruas escuras que nem sequer possuem um poste. As estradas de algum lugar que agora se tornam infinitas e eu, que não me levanto e respiro com dificuldade todo esse ar gélido, me congelando os pulmões e me transformando em algo quase sem vida. Tenho um papel na mão direita, olhos cobertos de solidão e dedos entrelaçados pela morte que me assombrava o quarto nas madrugadas anteriores. Eu que não tenho nada, a não ser um cigarro.
Quero entender, quero cantarolar, quero gritar, mas nada acontece. Nada. A minha voz começa a falhar e meu peito corresponde com pontadas poderosas a ponto de quase me matarem. Meu corpo não reage e a minha mente está perdida nas palavras proferidas com aquele sotaque britânico de sempre. O medo me toma o sangue e o dez segundos de agonia não se acabam e duram quase que uma eternidade enquanto eu ainda procuro por respostas que faça algum sentido. Meus pés não querem caminhar e o asfalto sem vida, passa a me envolver com suas linhas amarelas de advertência. Pestanejo lentamente tentando focar a cena que está diante de meus olhos.
Quem sou? Aonde estou? Para onde vou?
E a chuva, que eu pensei que um dia fosse parar, nunca deixou de cair sobre meus ombros.
Champagne Supernova

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