Sobre velejar, remar e Bárbarela

 Me restaram apenas três cigarros na carteira. Três malditos cigarros para uma maldita ex-fumante que desejaria uma carteira nova de marlboro red só para variar. Os olhos devoradores dela observavam a pequena mesa de canto e com um nervosismo quase imperceptível, suas mãos se entrelaçavam enquanto suavam desesperadamente em busca de um apoio. Ela não sabia aonde iria chegar ou se chegaria a algum lugar, mas precisava fumar, precisava sair desse sufoco todo que estava tomando conta de seus dias estúpidos e calculistas. Ela, que nem sabia falar francês, decidiu então fumar um charuto cubano, não porque era cliche, mas sim porque era comunista.
 Deu dois tragos quando achou o mesmo em uma das gavetas de seu quarto, tingido em verde e com uma pressa toda, guardou o resto para mais tarde. Ela não entendia muita coisa, gostava de escrever coisas e rasura-las sem a minima importancia. Não se importava com muito, mas apenas com o suficiente e tinha pelo menos umas três manias ridiculas, que faziam-na repensar sobre as mesmas, mas ela não parava. Não tinha o porque. Ela era o que era e era assim que tinha de ser.
 No entanto, para dar um contraste, ela, com a sua monotonia e melancolia, deu de cara com a outra menina dos cabelos cacheados e sorriso marcante. Um corpo livre no espaço que flutuava sobre o mar azul que ela tanto custava para remar e que mergulhava fundo em pequenos devaneios que ela insistia em escrever sobre. Ou pelo menos tentar descobrir, mas nunca conseguira. Ela apenas enfrentou os olhos enigmáticos da outra garota que pareciam dizer tudo, mas ao mesmo tempo, nada. Nem peças eles entregavam. Eram apenas razões para remar pelos céus e pelos mares, para reclamar e viajar em uma poesia totalmente diferente das que ela costumava escrever. Dessa vez, ela seria sensível e não simularia sentimentos como sempre fez. Ela abaixaria a máscara e com um sorriso sincero, ela arrancaria da outra, um outro sorriso.
 Já que a Bárbarela não tinha muito o que tentar, ela simplesmente soltava palavras para que a outra poeta pudesse entender. Poeta nada, pseudo poeta. E a pseudo poeta coletaria todas com cuidado para analisar os pequenos detalhes da voz, da cor, da pele, do sabor, do corpo da menina dos cabelos cacheados. Ela entenderia que muitas vezes, seus contos ou crônicas não diriam muita coisa e que ela teria que se arriscar um pouco mais. Diria ela que a pequena Bárbarela, razão para todo esse seu romantismo repentino, era algo belo e pequeno que ela gostaria de cuidar. Bárbarela que tinha um sabor suave, não tão doce e nem tão salgado, tinha a dose perfeita do que procurava. Na verdade, ela nem procurava mais, Bárbarela fora algo que a tirou da sua zona de conforto e fez com que as coisas ao seu redor, se tornassem um pouco mais sinceras e com sorrisos que passavam a brotar em alguns cantos do seu quarto escuro e que nem uma pequena lanterna seria útil.
 Eu diria que ultimamente, as pseudo poesias da pseudo poeta foram escritas pra tal de Bárbarela. Parece encantador, algo bonito de se ver, algo diferente do que parece ser, algo que ela gostaria de mergulhar e escrever contos e mais contos sobre a tal morena que ela conhecera num dia qualquer e que não conseguiria imaginar os vários sentimentos que parecem estar se modificando com o passar dos dias. Algumas coisas que antes não eram vistas, agora são notadas diariamente e que a pequena Bárbarela faz parte do seu pequeno diário de bordo. Do seu navio sem fundo, do seu remo quebrado e da sua vela rasgada. Gostava de remar sozinha nas tempestades de Janeiro, mas dessa vez, gostaria de remar ao lado da pequena Bárbarela por uns dias melhores que todos os outros dos meses melancólicos anteriores.

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