Um pequeno espelho com uma moldura branca em minhas mãos. Meus olhos observavam os outros olhos que alí estavam e todos os pequenos movimentos que eu fazia com a boca, eram imitados por aquele objeto tão sem graça. De vez em quando, nos botecos da vida, eu costumava observar um objeto parecido com esse e encontrar um rosto embriagado com um olhar tristonho que parecia mergulhar em alguns estilhaços que a alma possuía ainda, mas agora, vejo um par de olhos vazios. Sem nada. Elas não tem absolutamente nada e suas cores são tão irrelevantes que também pareciam desaparecer. A cena não tinha cores, o reflexo era imóvel e o ambiente não tinha vida... Nenhum sinal de vida...
As paredes, brancas, as sombras, negras, caminhavam lentamente e pintavam-se como tintas que escorriam por uma pequena tela de um artista frustrado. Pés estavam descalços e o chão gelado trazia uma certa sensação de calafrio, se é que poderia ser chamado assim. Embora imóvel e com uma pequena máscara de papel nas mãos, o reflexo daquele corpo continuava a exalar um certo calor. Um certo medo e a intenção de estar perdido em meio a tantos estilhaços pelo chão. Engolia em seco cada palavra que poderia dizer, mas não existia uma força sequer que lhe ajudasse a entreabrir os lábios e exalar um suspiro gélido que não era capaz de apagar as visões que pareciam cegar aqueles olhos.
Era uma madrugada sem cor. Madrugadas não tinham cor nesse mundo. Madrugadas eram geladas, tristes e repletas de lâminas que lhe partiam a alma. Se sentia como um Pierrô mas nunca havia conhecido a sua Colombina e passava a acreditar que isso era apenas parte de um desejo inexistente do tão sonhado sentimento que todos os homens almejam e ele, no entanto, não o almejava.
Moveu seu braço lentamente até seu rosto e com um pequeno gesto, colocou a máscara. Na máscara, havia um sorriso, uns olhos cheios de cores e um mundo que parecia ser azul. Um mundo coberto por árvores e maçãs avermelhadas, doces como nunca e que em seu real mundo, nunca existiram. Andou pela grama molhada e outros seres máscarados passaram a aparecer diante de seus olhos. O sorriso nunca saiu de seu rosto, mas toda vez que a máscara era retirada, seus olhos eram obrigados a encontrar aqueles olhos imóveis que de vez em quando, nem os reconheciam mais.
Máscaras e espelhos

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