A cidade das pedras só tinha pedras. Pedras com símbolos, letras e coisas insignificantes gravadas em cada uma delas. Uma pedra pra cá, outra pra lá, rua de pedras, casas de pedras, postes de pedras, pessoas de pedra, tudo, absolutamente tudo era de pedra.
Eu era uma das moradoras típicas da cidade de pedra e morava na pedreira norte, um bairro distante do centro histórico das pedras aonde os fundadores deixaram os seus escritos. Eu escrevia pra um jornal de pedra sobre modas. As roupas pedrianas que todos usavam e que eram a última moda e um coração de pedra que toda mulher sonhava em ter. Corações de pedra que nem nós, habitantes da cidade de pedra, poderiamos ter, mesmo que quiséssemos.
Na cidade de pedra, haviam em torno de cinquenta mil habitantes. Somos a capital do estado de diamantes e moramos no país do bronze. Comemos o famoso macarrão de pedra ao molho argento, que é a nossa especialidade, apesar do molho ter vindo da cidade de argenta. Temos uma história em pedras e órgãos de pedras que caracterizam o nosso povo. Somos acinzentados, não usamos cores e não conhecemos outra coisa a não ser o cinza. Aqui o sol é cinza, o céu é de pedra e as nuvens são rochosas e de vez em quando, chove magma só pra deixar nossa terra um pouco mais consistente.
Por aqui, chamam-me de Pedriana Pedrescurb, descendente de cobrianos que há muito tempo ajudaram a fundar a nossa tão almejada cidade. Aqui, gostamos de dizer que somos inflexíveis, porque não nos curvamos e muito menos nos movemos, somos pesados demais para isso, mas gostamos de viver em nossa pacata cidade aonde não existe nada além de pedras e mais pedras.
As crianças, andam de Pedriciclo, algo parecido com aquela tal bicicleta que eu já vi na cidade de Cuprum, mas tenho que admitir que o nosso chega a ser um pouco mais atraente. Conheço gente de vários lugares e nunca vi tanta gente flexível e amarela. Menos os Argentos, eles brilham que chegam a doer nossos olhos, mas são simpáticos e educados, também costumam ser muito atraentes.
Embora vivamos em uma cidade sem shopping, sem botecos e sem cerveja, vivemos bem. Aqui paramos no tempo. Cada um faz o que tem que fazer em casa e o tempo é curto demais para os nossos longos passos, rolamos rio abaixo para encontrar mais razões para continuarmos respirando. Somos pequenas pedras, numa cidade de pedras, num país de bronze e num lugar qualquer, que ainda sim, chove pedras.
Cidade das pedras

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