Eu, que um dia por acaso, decidi que iria escrever um pouco mais sobre qualquer coisa. Sobre uma carta, feita a mão, exalando um perfume muito doce e com marcas de batom. Talvez aquele mesmo batom vermelho que você usava naquela noite em que cantarolava águas de Março enquanto eu te levava pra casa, com um sorriso escondido nos olhos concentrados nas pequenas faixas amarelas que seguiam o cinza sem vida do asfalto quente daquela noite de Dezembro.
Agora está chovendo lá fora e eu começo a me questionar: aonde você está? Com quem está? Por onde andou? Tem escrito as mesmas cartas ainda? Não que eu me importe, eu definitivamente não me importo, mas gostaria de saber como você tem andado. Se ainda continua cantarolando as músicas do Tom Jobim por aí e se ainda tem aquela mania engraçada de imitar bigodes com o seu próprio cabelo.
Engraçado como falo de você. Como me lembro das coisas que nunca aconteceram entre nós e que por três segundos ou mais, eu passei a acreditar no simples fato de que estavamos falando sobre a mesma coisa, embora não estivéssemos. Você se importaria se estivéssemos? Tomaria outra Heineken comigo depois de uma sexta-feira chuvosa? Um sábado corrido e um domingo entediante? E ainda sim, pediria o meu cafuné e provavelmente daria risadas sobre algum fato engraçado que nos lembraríamos. Depois diriamos que isso não é amor ou coisa do tipo, mas só fingiriamos.
Porque eu sei, melhor do que você, que isso nunca existiu. Nem eu e nem você. Você que nem é parte de mim e que nem usou as minhas mãos para dormir, porque tinha medo de escuro. Mas só porque você nem sequer existiu mesmo.
Águas de Março

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