Suas mãos trêmulas alcançaram a maçaneta gelada daquela porta que já lhe era familiar de algum tempo atrás e a grande sensação de desconforto passou a tomar conta de seus ossos, que pareciam rachar por debaixo de sua pele enquanto suas mãos ainda giravam a pequena maçaneta.
A porta se abriu, rangendo suficientemente alto para que qualquer um que andasse pelo corredor ou que estivesse em outros quartos, pudessem ouvir e revelava um pequeno quarto branco, com as janelas trancadas, cortinas amarelas, cama branca com algumas toalhas sobre a mesma, um pequeno espelho no canto direito do quarto, uma outra porta que provavelmente ligaria o quarto ao banheiro e um pequeno frigobar ao lado de uma escrivaninha já um tanto velha. Um suspiro foi abandonado por seus lábios enquanto seus olhos ainda observavam lentamente aquele quarto, também familiar.
Deu apenas três passos para dentro e fechou a porta com cuidado. Observou lentamente como se houvesse outro alguém dentro do quarto que pudesse aparecer a qualquer instante e se aproximou daquela cama, que também rangeu quando se sentou na mesma. Estava se sentindo extremamente cansado devido ao longo tempo da viagem que havia feito e suas memórias já começavam a lhe perturbar outra vez. Lembrou-se do porque das semelhanças das coisas nesse quarto, lembrou-se quando já esteve aqui e engoliu em seco quando a exata imagem lhe tomou a mente.
Virou-se para trás para observar o lado direito da cama vazio e lembrou-se exatamente da menina dos cabelos negros e curtos, observando-o com olhos famintos, de quem iria devora-lo a qualquer instante. Tinha suas duas mãos juntas, no meio de suas pernas e estava apenas de lingerie. Tinha um pequeno sorriso de canto e uma expressão calma, porém mordiscava o lábio de vez em quando.
Aquele olhar egoísta e devorador que havia consumido a sua alma até o fim era tudo o que ele mais gostava naquela menina. Adorava também a forma com que suas mãos estavam sempre juntas escondidas pelas suas coxas grossas e com uma bela tatuagem em uma delas. Adorava a forma com que ela mordia os lábios ou suava quando estavam perdidos no meio dos lençóis e amava o sorriso sacana que ela sempre insistia em colocar na face quando algo estava para acontecer. Era linda, era bela, era única.
Sem perceber, já estava adormecendo do lado esquerdo da cama sem a bela menina do sorriso sacana a sua direita. Seus olhos se fecharam e como num flash, o dia amanheceu sem muitos vestígios do que poderia acontecer. O sol invadiu o quarto, as inúteis cortinas amareladas não serviam para tampar nada e o incomodo só ficava cada vez maior ao passar das horas. Seu corpo se movia lentamente e seu sapato manchava os lençóis brancos, que possuíam pequenas e quase imperceptiveis manchas de sangue, sabe-se la de quem, mas possuíam e seus braços já se esticavam, prontos para despertar.
- Mas que porra... - Grudou os olhos no relógio e se assustou. O mesmo já marcava onze horas e quarenta e cinco minutos de uma quarta-feira do mês de Abril. Ele se levantou, um pouco apressado, juntou suas coisas e logo saiu do quarto, deixando para trás a porta e a cama rangendo em coro. Tomou um último copo de conhaque e partiu, para nunca mais voltar, mas nunca soube que ao fugir do quarto, havia abandonado algo. Um pedaço de papel, que parecia ser uma fotografia da mesma garota do sorriso sacana com uma pequena data atrás da mesma. 05/09/08.
Uma pequena memória, pequenas palavras e uma parte de sua vida que nunca fora esquecida, no pequeno quarto de hotel de uma cidade que todos desconheciam. Ele, no entanto, nunca mais pôde voltar para se lembrar dela.
De volta para o 505

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