Depois de uma noite chuvosa e talvez três cigarros de maconha, alguns pontos brilhantes no céu já podiam ser observados enquanto pequenas gotículas insistiam em invadir a minha pele seca, cobrindo o meu cansaço e a vontade de me levantar daquele chão molhado que deixava o meu corpo cada vez mais frio e me trazia uma sensação de desconforto, mas eu não me importava.
Eu tinha um ar de sabe-se lá o que você procura na vida, eu tinha uma mão no rosto e outra no destino. Tava remando pra maré alta e nem sabia como voltar depois. Eu tinha um olhar de abandono toda vez que observava pequenos movimentos entre os pontinhos brilhantes no céu e me perguntava se um dia faria parte deles. Se um dia reconstruiria o meu barquinho pra navegar até Vênus e me encontrar sobre uma areia cor de rosa que mancharia a minha pele pálida e talvez enterrasse os meus súbitos sussurros que eram quase abafados por uma sensação desconhecida. Um seco na garganta e um coração gritando no peito para uma reação, qualquer que fosse, um dedo ou um fio de cabelo, mas não o obedeci e permaneci da mesma forma por quase duas horas.
Sei que cantarolava alguma coisa que me lembrava Sinatra, mas não... Não pode ser Sinatra, Sinatra é clichê demais agora... Talvez seja Armstrong com Fitzgerald trazendo uma graça e um ar de paz aquele ambiente que nem tenso estava. Com luzes apagadas e vestígios de fumaça, talvez vestígios de memórias em fotografias pelas paredes brancas que eu poderia cobrir de preto depois de mais um cigarro.
A noite parecia não se transformar em dia e uma lua que parecia estar no céu, não está mais. Eu estou navegando por ela no instante e não vejo a terra em lugar algum. Vejo Marte se aproximando e já posso sentir todo o seu calor tomar os meus poros. Vejo Urano, vejo Saturno e seu anel de fumaça aonde eu já pensei em escorregar. Vejo Júpiter e sua grandiosidade. Vejo meu destino, vejo minha morte, minha esperança e meu desespero.
Vejo um suspiro e uma péssima noite de sono, vejo-me sem nada amanhã.
Anéis de Saturno

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