Cartas para um mármore

 Quando eu vejo aquelas fotos, leio algumas coisas e sinto essa terrível sensação de ver algo partir para nunca mais voltar, lembro-me exatamente dos poucos dias em que eu tive a oportunidade de conversar com você sobre algumas besteiras da vida. Desde papos inteiramente inteligentes até papos estúpidos, de bêbados que se divertiam com qualquer coisa ou com qualquer motivação, mas sempre com um toque de "isso pode se repetir amanhã e depois. E muito depois. Pra lá de depois. Daqui um mês, dois ou três" e quando tudo perde o seu controle, eu percebo que não funciona muito bem assim.
 Na maioria das vezes, quando os passos se alavancam para uma direção completamente oposta do que se espera, os resultados sempre trarão novos dias. Novas noites e novas situações, novas pessoas. Mas no caso de tudo aquilo que conversamos, parece não fazer sentido. Quem iria dizer que isso iria acontecer? Que por um acaso, eu nem sequer te conhecia tão bem pra poder imaginar o sofrimento que você causou a pelo menos todos aqueles que eu amo e que estão próximos de mim. Sofrimento por ter partido, por deixa-los. Sentir a mesma dor que você sentiu no momento em que abraçou os seus últimos pensamentos como o pequeno suspiro e ver as imagens se passando lentamente pelos seus olhos enquanto seus lábios ainda gritavam por socorro. Quem iria garantir que tudo isso tinha realmente que acontecer? Que a sua partida não abalaria até mesmo a mim, que nem me aproximei tanto de você?
 Mas me lembro. Lembro-me como se fosse ontem. Nós conversamos muito durante algumas noites e você, com suas habilidades impecáveis, me ensinou a tocar algumas músicas e principalmente ouvi-las e me lembrar de você. Me contou a sua história ou pelo menos parte dela. Me fez rir com algumas bobagens que me contou e o mais importante de tudo: Se tornou um sorriso estampado na face daquele que eu considero como um irmão e eu juro que a dor que o tomou, é a mesma sensação que me toma enquanto lhe escrevo essas pequenas palavras.
 Eu não posso dizer muito, talvez não pudesse dizer nada, mas digo que todos estão dando os seus melhores para que você se orgulhe deles. Na verdade, você se orgulhava de todos mesmo com os defeitos mais absurdos do mundo e compartilhava dos mesmos, porque nunca vi alguém com um sorriso no rosto por tanto tempo como sempre via no seu, embora você provavelmente tivesse as suas tristezas, você não deixava de sorrir. Não deixava de acolher àqueles que muitas vezes, não eram de falar muito. Não deixava de admitir e ajudar a todos aqueles que te chamavam de amigo. Não deixava de divertir as poucas noites que tivemos, regadas a alcool e a papos estranhos. Não deixava de ser feliz.
 Com todas as pequenas palavras e uma melodia, eu ofereço a você essas pequenas frases. São meus sentimentos, sentimentos que eu talvez desconhecesse, sentimentos que senti pelos outros e sentimentos estranhos de perceber que você deixou um vazio no coração daqueles que estiveram contigo até no final.
 Espero que esteja melhor, que esteja feliz, apesar de eu não acreditar que exista um outro lado, mas espero que tenha vivido o que queria, apesar de saber que havia muito mais para que você pudesse viver, mas de qualquer forma, já foram tempos vividos que jamais serão esquecidos e que outros viverão por você, aquilo que você não pôde. Espero que os vazios se curem e não que lhe esqueçam, mas sim que não chorem mais e apenas lembrem-se de você com o mesmo sorriso de sempre e espero que os rumos se cruzem e que no final, você tenha sido mais do que sempre sonhou em ser... Essa é uma carta para um mármore.

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