Assim que me soar
necessário, eu vou fugir. Sem ter medo. Vou fugir pra qualquer lugar e vou me
calar. Vou fazer o que sempre faço: Dar aquele sorriso torto e continuar com os
olhos fixos em algo que não me interesse. Vou deixar por trás das cortinas o
que sempre ficou e ninguém nunca pôde ver, vou ficar em silêncio e vou esperar
o dia amanhecer pra ir embora mais uma vez.
Vou por o cigarro na
boca e acende-lo, pra dar aquela impressão de que eu não tenho mais porra
nenhuma na minha vida e vou, com certeza, acenar a cabeça quando me sentir
inútil porque vou dar risada e tudo passa a ser como era antes. Eu volto a me
sentir da mesma forma e o vento tenta bater na minha cortina de novo, mas ele
não sabe como entrar pela janela. Está trancada.
Aí eu vou sentar no piano e fazer as mesmas notas de sempre, vou comemorar o meu fracasso e a minha miséria mas vou continuar rindo, porque sou musicista e toco mal pra caralho. Vou lá inventar umas letras, escrever num papel e me irritar com tudo o que eu fiz. Vou sentir vergonha de mim mesma e depois vou pensar em dormir. Vou fechar os olhos e pensar em tudo o que eu poderia ter dito mas nunca disse e nunca direi.
É claro que aí tu vai dizer que nunca soube o que se passava comigo. Que nunca soube o que eu queria, que nunca viu o que eu sentia e nem viu as bobagens feitas. Daí eu vou continuar rindo porque mesmo assim, eu não vou poder mudar nada, certo? Meus amigos vão dizer as mesmas coisas e obviamente eu já saberei o que fazer, porque o tempo inteiro estava com o cigarro na boca esperando uma resposta qualquer.
Então eu acho que não tenho mais jeito, vou continuar rindo. Sentada no piano, letras jogadas no chão e alguns versos do que eu poderia ter sentido, mas nunca soube sentir. Indiferente, não? Também acho. E um pouco estranho.