É a miséria que nos acompanha diariamente. Essa é a minha frase predileta. Pensei em tatua-la mas achei clichê demais, talvez me confundiriam com um daqueles hippies que andam por aí ou coisa do tipo. Não gosto deles e não gosto das coisas deles. Nem do cheiro da maconha. Não gosto de nada.
A única coisa que eu faço é trabalhar dia e noite e noite e dia, isso supre a minha solidão, já que eu não consigo admitir que tenho uma que vive na porta ao lado. Sei lá, acho que nem é a porta ao lado, moramos no mesmo apartamento e estamos casados já faz alguns anos. Não sou feliz, ela não é feliz, mas me faz companhia. A gente gosta de sentar na sacada pra tomar um vinho de vez em quando e conversamos sobre a vida, o quanto era injusto e o quanto era bom reclamar e sonhar, já que por sua vez, a realidade insistia em me estapear toda vez que eu tentasse tirar uma soneca.
Mas desta vez, enquanto ela vagava pela casa, eu lia um livro no sofá da sala. O abajur aceso e o barulho do transito correndo nas avenidas me lembrava o simples fato de que há muito tempo não visitava meus pais... Até mesmo os meus irmãos. Aqueles cretinos, canalhas. Tentaram me roubar dinheiro duas ou três vezes. Daí depois de várias brigas e de eu ter comido a esposa do Cássio, ele nunca mais quis saber de mim. Parece trágico, não? Mas eu me diverti bastante.
O João até tentou me dar uma lição de moral, dizendo coisas do tipo "aonde já se viu você dormir com a esposa do seu irmão mais velho?" e todo aquele blá blá blá clichê que você ouve toda vez que comete algum erro. Dei um sorrisinho de canto e só por isso, só por um misero sorriso que eu consideraria amigavel, levei uma porrada no nariz. Sangrou bastante mas nunca pensei que todo aquele sangue escorrendo pela minha face pudesse parecer tão prazeroso.
Chega. Não prestei atenção em nada do livro e não há muito o que se fazer. A solidão resolveu tirar um cochilo alí na cama e eu to aqui na sala, sem paciência pra televisão e tentando parar de fumar. Aí a vida parece simples quando não se tem nada, mas é assim que eu gosto. Nunca acreditei que deveria nascer pra ficar com alguém, vou morrer do mesmo jeito que nasci: sozinho. Não preciso de alguém comigo.
Tirei os oculos finos, coloquei-os em cima do sofá e me levantei. Peguei uma taça, enchi-a de vinho e brindei a minha solidão, aos meus desejos reprimidos e a toda estupidez que me compunha. Sorri.
- Saúde.
Cheers!

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