Menina Clariceana e os olhos azuis.

 Nunca soube muito bem o que escrever, nem as palavras certas a escolher, mas havia algo diferente no dia em que eu me deparei de vez com a meiguice daquela garota de olhos tão azuis que chegavam a ser enigmaticos. Não era algo muito perceptivel o que ela escondia alí, eram segredos tão bem guardados que chegavam a intrigar qualquer um que ousasse tentar desvendar o que se passava, mas ela não dava o braço a torcer, nem ela e nem ninguém.
 Passava parte do seu tempo lendo Clarice e ouvindo Guns, já que toda vez que ouvia Patience, se sentia bem, como se não houvessem froneiras, como se não restassem palavras e pudesse simplesmente perder de vista as pequenas palavras das crônicas Clariceanas, como se cada frase construisse um pequeno barquinho e a levasse longe, para alto mar, se perdendo em meio tanta agua, tanto azul, tantas histórias e tantos horizontes diferentes. Ela poderia escolher o seu caminho, para onde a maré a levaria, se acharia justo ou se simplesmente sorriria por ser levada, não tinha um rumo certo a seguir, só sabia que queria ir. Ninguém sabe aonde. Mas ela queria ir.
 "All we need is just a little patience." Soava. Bem longe.
 - Já ouviu falar em marinheiros que navegam em pleno céu, de madrugada?
 - Não... O que eles fazem?
 - É bem simples. Já pensou na pequena possibilidade de não se ter muito mas ter o suficiente? Aí você rema pra lá e vai parando nos portos de cada planeta, visitando constelações...
 - Mas... Como se guia navegando pelos céus?
 - Existem muitas estrelas e cada uma delas, possui uma direção diferente. Você não precisa escolher bem o seu rumo, é só deixar que o vento invada suas velas e te guie na direção correta... Quer dizer, na que ele julgar correta.
 - E se estiver errado?
 - Raramente ele se engana. Quando sopra, é porque sabe o que acontece. Muitas vozes são levadas junto com ele, muitas lágrimas, muitas cartas, palavras também... O vento traz memórias que ninguém pode enxergar, apenas aqueles que já ouviram-o soprar, entendem o que se passa.
 - Nunca prestei atenção.
 - Não precisa. Fique de olhos bem abertos.
 - Para quê?
 - Pegar a próxima embarcação, para que possa se perder por aí... Como tanto quer, ouvindo suas melodias com vozes que talvez lhe digam muito do que já sabe.
 E ela sorriu. Um sorriso sincero, porém aliviado, sabia que não precisava de muito mas que estaria preparada para as direções certas... Talvez errada, isso vai depender dela. Mas se ela soubesse que está no caminho certo, provavelmente teria certeza e não teria medo, nem de sorrir e nem de chorar. Diga-me um pouco mais sobre seus cabelos ruivos jogados ao vento.

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