Noite de frio.

 A noite estava bem fria, o céu estava coberto por nuvens que não deixavam-nos enxergar as estrelas que ali se escondiam, junto com a lua, como se fossemos crianças brincando de esconde-esconde. Procuravamos alguma direção mas elas simplesmente fugiam ou se escondiam cada vez melhor de nós. Dei um sorriso, pois não faria muita diferença se encontrar naquele instante, a luminosidade daquela fogueira um pouco mal feita me aquecia, juntamente com os pensamentos distantes que insistiam em se aventurar em minha mente, mesmo com uma noite tão gelada.
 Estava na agradavel companhia da menina dos cabelos alaranjados como um por-do-sol, daqueles que se misturam com a poeira vermelha dos solos pisoteados e marcados por histórias que ninguém se atreveu a discutir, combinavam perfeitamente com um par de olhos verdes, que me lembravam o mar e podiam fazer o contraste perfeito de um lindo por-do-sol sumindo num horizonte infinito daquele oceano tão imenso e aquela minha vontade enorme de me jogar dentro dele e mergulhar fundo, como se não tivesse volta, como se eu pudesse respirar, como se tudo pudesse mudar.
 Ela sorria, timida, segurando a garrafa de vinho em sua mão, como se fizesse alguma diferença embriagar-nos somente para nos aquecer ou nos divertir, falando besteiras, mesmo cansadas e com longas olheiras que demonstravam o quanto haviamos caminhado para chegar até alí.
 O silêncio logo fora quebrado com o barulho da rolha do vinho se desprendendo da garrafa, deixando todo seu conteúdo vulneravel, tornando-o mais atraente para que logo bebessemos de uma vez e esquecessemos tudo o que já havia passado. O fogo continuava alí, o frio era pertinente mas deixava pequenas lembranças de algumas vozes em meus cabelos, que agora estavam bagunçados, pois acompanhavam lentamente a dança que essa brisa insistia em fazer junto com algumas folhas que alí tinham.
 Não demorou muito para que bebessemos todo aquele vinho. Não precisava ser algo mais caro, mas era argentino e era delicioso. Talvez estivessemos um pouco mais quentes agora e a únia coisa que faziamos alí era sorrir, uma para a outra, como quem não quer nada, como quem tem tudo e não precisa de um refúgio, daí se me aproximo dela é porque quero ver de perto tamanha pureza e beleza que alí havia. Ela sorria e eu segurava suas mãos.
 - Está com frio?
 - Nem tanto... Você?
 - Só se você estiver.
 - Mas se também estiver...
 - Não, não, não precisa continuar.
 Tomei-a em meus braços e me calei. Procurei alguma coisa mas nada conseguiria encontrar enquanto aqueles cabelos "por-do-sol" se espalhavam pelos meus braços, lentamente e logo percebi que havia demorado demais. Acho que nunca havia notado como era especial. Uns cabelos laranjas, um par de olhos verdes, uma noite fria e um bom vinho argentino.
 Para onde vou agora?

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