Anônimo.

 É que eu resolvi escrever pra ela hoje. Não sei porque, mas eu quis escrever pra ela. Sim, pra ela. Pra ela que eu nem sei quem é, nem sei como ela se parece, mas sei que ela está por aí, em algum lugar, talvez pensando no mesmo que eu. Talvez ela esteja sentada num banquinho agora, tomando um sorvete ou talvez esteja andando entre milhares de pessoas a fim de resolver algum de seus compromissos ou talvez esteja sentada na sala de aula, com a mão erguida, esperando a sua vez para tirar aquela dúvida que tanto a aflingia, talvez ela esteja por aí... Talvez ela nem exista.
 Talvez seja apenas um fruto da minha imaginação, uma fotografia velha em um tom amarelado, colada em algum canto da sala aonde a iluminação externa não possa atingir. Nem a interna. E com um cigarro na boca eu continuo observando aquela imagem abstrata, um retrato de 'nada', um retrato inexistente entre minhas poucas e longas tragadas. Longos suspiros.
 Queria saber. Queria muito. Embora não soubesse o suficiente, embora eu nem saiba o nome dela ou de onde ela veio, aonde ela mora, em que lugar ela gostaria de viver, se gosta de tirar um cochilo sobre as nuvens de algodão, durante a madrugada. Nem sei se ela tem olhos castanhos. Nem sei se ela fuma ou se ela gosta de política e lê livros de romance. Nem sei se ela sabe sorrir e nem sei se ela vai me querer de volta.
 Talvez ela esteja escrevendo pra mim também o que eu gostaria de ouvir, ou não. Talvez estivesse dirigindo o seu carro, dentre os milhares que acompanham o dia lá fora e pensando se um dia vai encontrar alguém que a queira. Porque quando se é acostumada a viver como eu, tudo se torna mais facil e superficial. Não sei muito de tudo e sei tudo de nada.
 É remando sozinha que eu aprendi que as coisas são mais faceis quando não há nada a se perder, embora seja melhor ter algo para abraçar, quando quiser se afogar.

Bookmark the permalink. RSS feed for this post.

Leave a Reply