Em alto mar.


A cidade estava escura. Iluminava-se apenas com os faróis dos carros que corriam em direção ao seu próprio destino e com os postes abandonados que ali permaneciam, sem pestanejar e sem bocejar. Eu dirigia pelas avenidas largas daquela cidade, rumo a alguma coisa que me fizesse crer no simples fato de que tudo dera errado de que era culpa minha, mesmo que não fosse. Eram exatamente cinco horas da manhã e o sol não havia dado nem o seu primeiro sinal.
 Há algumas horas antes, eu estava com você. Sim, eu estava com você. Não entendi muito bem o que foi que realmente aconteceu, porque no fim você acabou por me evitar, mas você me olhava sem emoção alguma, seus olhos estavam tão escuros que eram apenas iluminados pelas pequenas luminárias em volta da piscina. Sua expressão era mutua e seus lábios, não se moviam. Meus olhos, que viam os seus, se mascaravam por mais que tentassem brilhar demais e tudo parecia não fazer sentido naquele instante.
- Então foi assim?
- É, é, bem assim.
- Mas não tem exatamente com o que se preocupar... Não há nada relacionado a você.
- É, mas de qualquer forma, está ao meu redor.
 Fui longe demais. Fim. Era tudo o que vinha em minha cabeça naquele instante. Fui longe demais! Eu não pude e nem consegui controlar o que havia acontecido, mas alguma coisa mudou no instante em que você me arrastou para o seu mundinho tão novo. Tão diferente mas ao mesmo tempo tão idêntico a todos os outros que eu já havia conhecido. Teus olhos não diziam nada, eu não dizia nada e minhas mãos se afobavam ao pelo menos tocar em você. A noite escura contava-me histórias sobre pessoas perdidas mas há muito tempo já me contavam histórias daqueles que acabavam indo longe demais e eu continuo me fazendo a mesma pergunta todos os dias: O que houve? Não sei. Não sei bem lá o que houve, o que você fez, pra onde eu remei, pra onde me levei... Mas sei que aconteceu. Sei que mudou. Sei que te quero mas continuo dirigindo sem rumo por aqui, tentando me lembrar aonde eu poderia chegar. Dei um longo suspiro como quem não quer mais nada e procurei o rumo de casa. Talvez eu soubesse agora, melhor do que nunca, que chegou a hora de parar. Mais uma vez.

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