Nem parnasiano e nem romantico, o rascunho de uma coisa qualquer.

 Não tenho nada pra dizer. Nada mesmo. Tenho um cigarro no cinzeiro, uma vida toda pela frente, um café esfriando na mesa e um sol intenso do lado de fora.
 Uns papéis rasurados jogados no chão pra dizer que eu tentei escrever alguma coisa e olhos fixos na parede branca. Sem nada na cabeça. Sem você e sem eu.
 Já fora dito, outras vezes, que quando o tempo passa assim, não há muito o que se fazer. Não existem maneiras de poder parar e não existem cigarros que possam me acalmar. Não existe um refúgio ou uma lei, não existe pudor ou uma direção certa. Não existe nada além do que seus próprios passos possam andar e eu realmente estou tentando mudar isso.
 Tá certo, tá certo. Eu não to falando nada com nada. Eu não quero chegar a lugar nenhum. Eu não saio do lugar. Eu só fecho as cortinas e espero pela noite que antecede o dia. Ou o dia que antecede a noite. Ou o momento que antecede a sua chegada. Um atraso no aeroporto e duas horas e meia de espera. Um tropeço no portão errado e de repente, você já estava alí. Você já estava alí e eu não sabia de nada. Eu não pensei em nada. Eu só te olhei os olhos e levantei, pra seguir de novo, pra embarcar de novo e acontece que o meu pequeno tropeço resultou em algo inimaginavel.
 Entretanto, para quem vive andando sozinho, fora um tropeço e tanto. Fora o suficiente para que eu pudesse me desplugar desse mundinho escroto e matematico que eu vivo. Formado por pura lógica e quase nada de sentimentalismo. O mundo para o qual eu voltei depois de 3 anos num sufoco que parecia não ter fim. O mundinho que eu tanto gostei porque tudo podia fazer sentido e eu acreditava estar me encontrando, embora sempre estivesse perdida.
 Não sei muito o que fazer. Não sei para onde olhar ou o que simplesmente te dizer. Não sei como agir. Não sei de nada.
 É como se todas as palavras que eu escrevesse se perdessem umas das outras e seus elos fossem cortados por um simples olhar numa manhã chuvosa de Maio. É como se todos os meus contos se tornassem rascunhos sujeitos a toda uma reforma. A todo um sentimentalismo que eu simplesmente não sei lidar. A todo um momento, a todo um abraço, a todo um beijo. A todo lugar.
 E eu simplesmente vou ficar calada.
 Mas se você se perder e pedir para eu te acompanhar, eu vou.
 Segurar a sua mão toda manhã na fila do pão e te beijar o rosto durante todas as noites de verão.
 E te cuidar para sempre ve-la sorrir.

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