Teus olhos, teus abraços e uma taça de vinho pela metade em cima da prateleira de vidro. Um papel rabiscado com um recado de uma data já antiga, minha assinatura nele e mais algumas pequenas palavras rasuradas no verso que você nem se deu o trabalho de tentar decifrar. O cigarro que você tanto odeia no cinzeiro da mesa e meus olhos secos pregados num mesmo canto por horas e horas, acompanhados por um cansaço quase infinito de se viver daquela forma. Todos os dias e sempre a mesma história.
Tuas mãos, teus laços, teus sorrisos que não são meus. Teu corpo e teus cabelos longos que coloriam as paredes brancas desse apartamento com cores vivas que você mesma nem via... E me deixava só, como quem andava de olhos fechados, sem medo de se perder, sem medo de alcançar, sem medo de nada... Eu tinha de sobra e você nem via! Você nem vê.
Teus passos pelo chão, as pegadas da noite anterior e do teu cafuné nos meus cabelos cansados, dos meus olhos fitando os teus e você sempre a sorrir. Também nem via o que eu via, também não sentia o que eu sentia e nem imaginaria os tantos rascunhos de meus dias nublados que procuravam abrigo debaixo do teu abraço seguro e protetor, sem que você notasse que meus olhos junto aos teus, parecem crer em algo além da realidade monótona e sem cor alguma. Assim como as paredes do meu quarto.
Mas quando pisco os olhos, devagar e vejo todas as paredes brancas que estão a minha volta, dou um longo suspiro e volto a minha realidade, rasgo a folha de papel, retiro a taça da prateleira, apago o cigarro inútil a minha dor. Passo a mão pelos olhos, esfrego-os e lembro-me de que já está quase na hora de ir.
Existem coisas que são melhores se nunca forem ditas.
Uma pequena reflexão.
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