Sobre o tecido da noite.

 Quando me deito sobre essa paisagem melancólica chamada noite e acendo o isqueiro na esperança de evaporar toda essa dor, penso em tudo o que eu poderia dizer ou no que eu poderia fazer caso estivesse ao meu alcance. Caso eu não estivesse tão embriagada pra ver. Caso eu não precisasse de pílulas pra me manter sorrindo por pelo menos um dia inteiro. Quem seria eu sem as minhas drogas diarias? Quem seria eu?
 Então, quando a lua decide aparecer, eu a observo como se o tempo pudesse parar. Como se as galaxias mais distantes pudessem ouvir os meus gemidos. Como se eu pudesse ser um astronauta a flutuar entre poeiras e me deitar nos anéis de Saturno para fumar um cigarro. Como se os meus inúteis 18 anos se resumissem apenas em cachaça e espaços vazios num apartamento grande demais para alguém pequeno como eu.
 Entre paredes brancas, entre sofás, entre quadros e poesias. Entre fotografias e desamores. Entre desapegos e mentiras. Entre tudo no que eu poderia simplesmente acreditar e jogar fora, como se não fizesse sentido algum, mas sou covarde. Não posso. Não posso simplesmente me desfazer das coisas como se elas nunca tivessem feito sentido algum. Não posso rabiscar cartas como se palavras fossem descartadas. Não posso ouvir Engenheiros do Hawaii e repetir exatamente a frase de Perfeita Simetria que diz "te chamar de carta fora do baralho, descartar e embaralhar você", até porque eu não vou conseguir fazer você voltar, já que você nunca quis ficar. Então eu vou continuar fumando, esperando por qualquer coisa que possa me satisfazer.
 Talvez agora eu me pergunte porque me preocupo tanto com essas pilulas. Com esse meu mundinho matematico de merda que não me leva a nada. Com esse sentimentalismo babaca que eu tento aprender. Essas coisas estranhas que acontecem de algo tão vazio quanto eu. Preenchido apenas por orgãos que me mantem viva, de resto sobra espaço. Espaço pra tanta coisa, menos pra me permitir algo a mais e acabo me sentindo como um buraco negro.
 Gosto de andar sozinha mas também gosto de escrever poesia. Gosto de tanta coisa que até escrevi uma canção pra ela e sou tão orgulhosa que nem ao menos consigo admitir o que se passa. O que é a minha fraqueza, porque detesto me sentir assim.
 Detesto saber que as coisas não passam simplesmente quando você quer e só quando são necessarias. Detesto muito e é assim que as coisas funcionam aqui. Sem nada e sem pressa de chegar a lugar nenhum. Como quem nunca se encontrou e nunca se encontrará.

Bookmark the permalink. RSS feed for this post.

Leave a Reply