O balanço dos pequenos guizos pendurados em suas vestes. Seus cabelos, presos, num segredo que nem os seus suspiros mais obscuros poderiam contar. Olhos brilhavam quando os pequenos flocos de neve gelada passaram a tocar seu rosto, pálido pela maquiagem, belo pelo inverno, assustado pelo destino.
Suas mãos, movimentavam-se lentamente acompanhando o ritmo do vento, os guizos compunham uma canção e seu kimono balançava com os pequenos desenhos que a neve passava a se formar sobre o tecido. Seus lábios revelavam um sorriso, um sorriso tão frio que parecia se fundir com toda aquela agua condensada diante de seu pequeno e delicado nariz. Um sorriso de neve, um sorriso de batom vermelho.
Getas deixavam pegadas, um caminho longo traçado por ela em direção aquela árvore de sempre, mas que desta vez, não possuía nada além de longos galhos cobertos de algodão que abrigavam suas pequenas memórias em cada longa ponta. Ela não tinha muito, apenas uma aparência, uma máscara, um silêncio que já lhe era comum. Uns olhos sabe-se lá de que, mas que combinavam tanto com o cenário tão sem vida em que ela se encontrava. Ela esteve sempre alí e por um segundo sequer, pensou em se mover.
Os laços, presos aos cabelos negros como a escuridão da madrugada anterior, eram vermelhos ferrugem e possuíam algumas pequenas flores brancas perfeitamente desenhadas em cada espaço que alí se abria. De vez em quando, esses mesmos laços costumavam a acompanhar os guizos e os pequenos penduricalhos, também junto ao seus pequenos laços, dançavam com seus leques em uma harmonia infinita, roubando todos os olhares que por alí passavam. Seus detalhes, suas cores, seus instintos e seu corpo.
Quando a madrugada chegava e sua delicada pele se unia ao doce kimono negro, tudo parecia fazer sentido. Os movimentos lentos dos leques com kanjis espalhados, aqueles mesmos que compunham o nome das outras mulheres, se tornavam reais e como em uma mágica, feita especialmente para crianças, as palavras eram desenhadas no ar. Os contos eram formados a partir dos seus pés e seus pequenos braços sutis, que escondiam parte de seu rosto em algo que resolveu chamar de amor. Amor ou paixão. No caso dela, paixão e amor.
Depois, tudo se explicava. O sorriso nunca aparecia, toda noite era uma outra noite, seus amores e mistérios jamais desvendados, sua aparência tão melancólica e elegante, seu corpo jamais tocado, sua seda jamais arrebentada e sua carne composta de cicatrizes de um passado que ela mesma desconhecia.
Seu nome, ainda sim, era neve.
Yuki

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