Hoje, eu havia tirado o dia para relaxar. Havia deixado tudo de lado e estava com uma garrafa de cerveja em minha mão direita. Estava com as pernas esticadas, deitada no sofá enquanto mudava de canal frenéticamente porque detestava assistir a televisão, mas como eu realmente não havia encontrado algo melhor para fazer, estava lá, trocando os canais, ouvindo inutilidades, tragédias e piadas prontas para divertir barrigudos numa noite de sábado.
Sem dar muita importancia, ouvi a porta rangendo, avisando que agora eu teria companhia. Minha companhia, não era um cachorro ou coisa do tipo, tem gente que jura que por eu ser assim largada e cinica, teria apenas um cachorro latindo e defecando por todo meu apartamento, mas não, não é um cachorro. Até porque cachorros não conseguem abrir portas, pelo menos eu imagino que aqueles que moram em apartamentos não consigam.
- Cheguei... O trânsito estava um inferno hoje e... Pera! Você está bebendo? - Ouvi os passos se aproximarem e aquela voz estridente me estourar os tímpanos.
- Sim, hoje eu decidi pegar uma folga.
- Uma folga?
- É, uma folga. Quer uma cerveja?
- Não! Eu não quero beber com você em plena terça-feira! Amanhã eu trabalho! E até onde eu sei, você também.
Acenei com a cabeça apenas para parecer educada. Dei um sorriso de canto enquanto estendia minha garrafa em sua direção.
- Escuta, eu acho que você deveria beber um pouco! Tá geladinha.
- Eu já disse que não vou beber!
- Então não beba. - Dessa vez, me ajeitei novamente no sofá e continuei a assistir algumas inutilidades, enquanto dava longas goladas naquela cerveja tão suave, mas Camila era o tipo de mulher mal humorada que odiava sua profissão. Apesar de ser bonitinha, ela sempre dava um jeito de me incomodar.
- Ai, você não sabe! Estou tão cansada do trabalho!
- Sei...
- As vezes eu gostaria de matar esses clientes, sabe? Um por um!
- Entendo...
- Você está me ouvindo?
- Em alto e bom tom! Até agradeceria se você pudesse falar um pouco mais baixo. - E retribui com outro sorriso, dessa vez, irônico. Camila, emputecida comigo, apressou seus passos até o sofá, atrapalhando a minha visão, pousando com sua bunda grande e gorda em frente aos meus olhos, que estranhamente, passaram a arder, talvez pelo forte odor ou pela visão extremamente desagradavel.
- Você está muito engraçadinha pro meu gosto hoje! Pare já com isso e pare de beber! Isso faz mal!
- Ah, agora você virou evangélica? Pensei que ainda era católica... Pelo menos não implicava com a minha cerveja.
Vi aquele rostinho coberto por uma pele sedosa se tornar tão vermelho quanto as maçãs deixadas em cima da mesa. Camila tomou a cerveja de minha mão e atirou a garrafa na parede, enquanto se preparava para reclamar mais uma vez, de tudo e da sua vidinha de merda, a mesma vida de merda que compartilhava comigo todas as noites. Aquele sexo terrível e o cheiro de gambá que possuía, pelo menos quando baforava na minha cara de manhã.
- EU NÃO AGUENTO MAIS VOCÊ! TUDO O QUE VOCÊ FAZ É FICAR AÍ, VAGABUNDEANDO SEM QUERER SABER DE NADA! ESTOU CANSADA DISSO! VOCÊ NÃO SE ESFORÇA MAIS POR NÓS!
- Meu bem, quando foi que você percebeu isso?
- Escuta! Eu não sou NENHUMA dessas vadias que você vive comendo por aí!
- Acredite, todas essas "vadias" cheiram melhor e dão melhor que você. - Com isso, logo senti um impulso e senti uma superficie quente atingir meu rosto, deixando uma marca e um sorriso estampado na minha face, juntamente com uma leve sensação de ardencia, que me causou certo prazer. O sorriso que Camila detestava, e consequentemente, o sorriso favorito das "vadias" que eu comia por aí, já havia tomado conta de meu rosto por inteiro, indo de orelha a orelha.
- Camila, meu bem, eu nunca me importei. Só estava acomodada.
- Acomodada???
- Exato. Eu não tinha nada melhor pra fazer. Encontrei você num boteco, tão fodida quanto eu e decidi te trazer pra casa... Cê devia ser mais grata.
- Eu não estava fodida! VOCÊ ME FODEU! E EU NUNCA VOU LHE AGRADECER POR ISSO, SUA PUTA EGOÍSTA!
- Claro, eu te fodi de todas as maneiras possíveis... De fato, me arrependo de todas... E também gostei do elogio, obrigada!
- Estou indo embora! Já chega.
- Se quiser ajuda, é só pedir.
Enquanto ela me assassinava mentalmente, eu já não tinha muitas esperanças. Quando a vi sumir pelo corredor, em direção ao quarto para arrumar suas coisas, lembrei-me da sujeira que ela havia feito ao atirar a minha bela garrafa de cerveja na parede.
Levantei-me do sofá lentamente e fui até a região atingida, encontrando lá um bom pedaço de vidro quebrado.
- Bom, é melhor eu tirar isso daqui...
Um sorriso irônico era tudo o que eu vestia na minha face no momento em que aquele vidro já cortava parte da palma da minha mão. Dei um sorriso e fui andando pelo corredor até avistar o banheiro no final do mesmo, embora eu realmente tivesse muita vontade de ir até lá, virei o rosto para a direita, vendo a mesma bunda gorda de alguns minutos atrás, arrumando suas coisas com pressa, enquanto ouvia Camila fungar. Engraçado que isso fazia com que meu sorriso só se tornasse cada vez maior e com lentos passos, me aproximei dela, bem lentos e curtos, aproveitando cada milimetro em que eu pisava.
Quando me aproximei de suas costas e seus longos cabelos castanhos, ajoelhei-me para poder observa-la melhor.
- Camila, querida...
E quando sussurrei tais palavras perto de seu ouvido esquerdo, aproximei uma de minhas mãos até seu pescoço e com uma leve movimentação, passei o vidro quebrado por sua garganta, lentamente, abrindo caminho para o seu interior, rasgando-a, enquanto sentia aquele liquido quente tomar conta de minhas mãos, ouvindo sons inidentificaveis que eram liberados a cada leve carícia que eu fazia sobre sua garganta.
Sua garganta jorrava sangue, como se fosse uma bela fonte de vinho tinto, e logo vi que seu corpo, fora se debruçando sobre a cama, também manchada pelo liquido vermelho que insistia em sair de Camila. Dei apenas mais um sorriso e beijei sua linda nuca, que era a minha parte favorita de seu corpo.
- Durma bem, meu anjo.
Abandonando Camila adormecida em minha cama, fui em direção a cozinha com o objeto ainda nas mãos, atirei-o na pia, passei um pouco de água em minhas mãos e peguei mais uma nova cerveja, apenas esperando pela manhã seguinte, aonde eu teria que ir trabalhar e provavelmente colocar Camila na churrasqueira para mais um final de semana contente.
Um conto sobre Camila e eu

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