Retrovisor

 Com todo esse aperto e esse calor insuportável, minhas pernas cedem e os meus três segundos contínuos de uma respiração ofegante, explodem em meu peito como se fosse uma bomba. Um sufoco fora do normal, uma sensação de estar tirando os pés do chão e um sentimento intenso de algo que não parece fazer sentido... Eu cega, perdida... De novo e de novo.
 As vezes, me parece impossível querer enxergar o que não existe, pelo menos não dentro de mim, e fazendo com que tudo ao meu redor se tornasse um pouco menos confuso, aonde eu realmente pudesse crer em algo diferente, que pudesse fazer sentido, embora não faça nenhum e não haja nada que me diferencie dos outros. Apenas o fato de que gosto de estar sozinha.
 Palavras me sufocam, conversas me destroem e os fatos não perceptiveis continuam a elaborar teses e teorias dentro de uma mente tão perdida em seus pensamentos. Pensamentos estúpidos, banais, pensamentos meus, trancados a sete chaves, que parecem ser apenas devaneios de experiencias frustradas e medos incomuns que chegam a tornar cada minimo erro, algo extremamente normal. Rasuras da vida, páginas rasgadas.
 Elo quebrado. Ligações cortadas e vozes ao fim. Cada corpo em sua cama, fazendo planos que talvez nunca se realizarão antes de dormir, e acordar suspirando, imaginando e sonhando que o dia possa ser melhor. Que talvez tudo passe a fazer sentido, que as respostas existirão, mas que nada, nada mesmo, seria apenas uma hipótese de uma vida bem vivida. De argumentos bem feitos, uma vida maldita, destruída. Vida de poesias.
 Vida de partidas e chegadas, desconfianças. Sentimentos e consciência estranha. Nada que pareça tão certo que não possa ser julgado, nada que não faça chover na manhã seguinte, e presenteie a noite com belas estrelas e um conto e meio pra se chorar. Nada que não traga sol em uma tarde de outono qualquer. Nada que não seja qualquer coisa que possa ser dita. Nada que possa ser prometido.
 Então eu escrevo. Escrevo muito. Vivo essa eterna chuva de outono em cada pequeno segundo de minhas manhãs semanais. Respiro esse ar impuro, contendo veneno para me fazer repousar pela madrugada, apagando cada detalhe que esteve em minha mente numa noite anterior. Toco essa superficie sólida, que parece se desfazer quando minhas lágrimas se misturam com a tinta preta da caneta que me borra a pele.
 A tatuagem apagada, as cicatrizes aparentes, as letras marcadas. Manchas de uma vida que poderia ter sido e nunca foi. Nunca será. Nunca entenderá.
 Pele manchada de maio, chuvas e invernos sem fim... Abandonos, máscaras e bebidas... Todas por eternas noites assim... Vidas invertidas de retrovisor, cicatrizado e estilhaçado.

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