Ter você

 Eu tenho você.
 Eu tenho você dançando ballet no meio da sala de estar, com um blusão para dormir e as janelas abertas, deixando a penumbra da tarde invadir o seu corpo, como as arvores que cantarolavam as canções exatas, você sorrindo, seus compassos e giros, sua voz.
 Eu tenho você.
 Deitada na minha cama, abraçando o meu travesseiro. Rindo e contando piadas, de vez em quando apertando a minha mão e me encarando com os seus olhos negros que chegavam a me assustar. Você, rolando de um lado pro outro, com um sorriso e meio na boca, um copo na mão esquerda, um par de meias e suas roupas espalhadas pelo chão.
 Eu tenho você.
 Me abraçando apertado na hora de ir embora. Sussurrando verdades desfeitas em meus ouvidos, e respirando lentamente, a fim de embaçar os vidros do carro. Tenho seus dedos entrelaçados nos meus, sua apreensão, mistério, paixão e sentimento ensaiado. Três tragos de um cigarro, uma vodka quente, um conhaque argentino e você, novamente, sorrindo.
 Eu tenho você.
 Aonde não poderia ter. Tenho porque não tenho, mas gosto de pensar que tenho. Finjo ter. Finjo crer. Finjo rir para depois te ver partir. Tenho porque você quer que eu pense em ter, tenha a mim porque você quer ter a mim. Ou talvez não queira.
 Eu tenho você.
 Não porque quis, mas sim porque os caminhos sombrios me disseram que sim. Tenho você dançando ballet debaixo das lindas arvores de sakura, numa bela primavera japonesa, como eu sonho em ver, como eu quero crer. Tenho você ensaiando para um grande ato, com as pétalas rosas espalhadas pelos seus cabelos e corpo. Corpo da penumbra da madrugada, corpo do sol.
 Eu tenho você.
 Só a verdade de ser um pequeno romance ao qual me submeti.
 Eu quero ter você.

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