A insônia me consome. As responsabilidades despencam sobre meus ombros enquanto meus olhos continuam abertos. As vozes são músicas para a minha mente, enquanto que as memórias passam lentamente como um filme sendo rodado em camêra lenta. Eu não consigo adormecer. Eu não consigo parar de pensar em maçãs. Eu não consigo, por um momento sequer, tentar não pensar em maçãs. Tudo sobre as maçãs. Doces, pequenas maçãs doces cortadas ao meio, divididas por uma faca antiga. Divididas por uma dose qualquer de tristeza.
Eu digo maçãs porque maçãs são belas. Possuem um sabor suave, lento, neutro. São belas de se admirar, boas de se cuidar, deliciosas para se devorar. Penso em você como uma pequena maçã enfeitando as minhas tardes de outono. Penso em você como uma maçã que eu possa saborear lentamente, que não precise de tempo, que deixe o relógio desandar enquanto nos apreciamos lentamente. Penso em manhãs delicadas, frutas delicadas, sentimentos delicados, sua pele delicada e seu cheiro tão gostoso quanto uma brisa de primavera.
Então, como penso, lembro-me de uma determinada noite de sábado. A sua voz do outro lado do celular, eu pensando em tanto pra dizer, fingindo esconder, você cavando os meus segredos e me fazendo rir depois de um longo dia. Pensava em como gostaria de lhe encontrar, como faço algumas vezes quando posso tê-la em minha mente. Queria por um motivo ou dois, reivindicar as minhas palavras, as minhas fraquezas e admitir por inteiro o quanto você consegue me deixar sem nem ao menos o que dizer, limpando a minha mente de qualquer coisa racional que eu pudesse dizer, você compondo as minhas bobagens e eu, melódicamente, cantando-as no seu ouvido. Você e sua voz.
Aí então, vejo novamente por alguns segundos, aquele seu famoso sorriso libriano que eu tanto gosto. Aquela maneira engraçada que você tem de me olhar as vezes, como se pudesse me despir e desmoronar todos os meus muros, minhas proteções, e me afagar os cabelos como quem não precisava ter medo de se aventurar. E você se aventurava, se afobava junto a mim. Nós riamos e nos calavamos em seguida. Eu te queria e você, se deitava nos meus pensamentos enquanto fumava um cigarro e passava os olhos por mais um dos meus contos bobos pra você. Você sorria e eu, também.
Olhos intensos. Eu percebia e te olhava como se não pudesse encontrar um fim para aquele olhar tão sincero que você me lançava nas noites de sábado. Olhar que me prendia a alma e me calava as palavras secas, depois me torturava lentamente como se soubesse o que queria. Depois, vinha acompanhado de um imenso sorriso. Esse sorriso que eu tanto gosto! Essa pele quente que eu tanto quero e esses lábios tão belos quando tocam os meus. Quero você por inteira. Por uma noite ou três, por quantas noites você quiser.
Quero sua voz, o seu corpo, suas curvas, suas mãos e seus abraços. Seus beijos, principalmente aqueles adocicados com Stella. Quero você como uma maçã. Doce e forte. Para lhe devorar os detalhes, sentir a sua textura e lhe cravar marcas de uma noite quase inesquecível. Eu quero tanto.
Inclusive, quero seus papos. Suas risadas harmonicamente com as minhas e suas mãos para beijar e lhe sorrir um novo dia. Quero ser o seu refúgio e me aventurar ao seu lado enquanto a tempestade nos leva para um lugar qualquer, e depois, quem sabe, a gente se preocupa em voltar para algum lugar.
Eu quero velejar ao seu lado, Bárbarela, lentamente como as vozes do vento cantam as canções da noite.
Ventos e maçãs

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