Um domingo no meu apartamento.

 Desistir de você talvez tenha sido a coisa mais sabia que eu já tenha feito. Desistir de tudo, de planos e de todos os momentos que eu imaginei ter com você e que se tornaram um pesadelo quando me aproximei e tentei pegar sua mão, por uma ultima vez e descobrir que depois daquilo, depois daquele aperto no peito, as coisas nunca mais seriam as mesmas. Soltar sua mão pra cair ao inferno de novo e voltar a bagunça que minha vida sempre fora. Dois dias e meio, talvez mais alguns meses tentando apagar todos os seus rabiscos pelas paredes do meu quarto e eu que nunca soube esconder, agora escondia as cicatrizes de todas as palavras que você ja me disse um dia.
 Hoje sou eu novamente. Menina estabanada dos cabelos bagunçados e dos oculos estranhos. Sentada no chão com a cabeça encostada na parede, escrevendo rascunhos e pensando em tudo que poderia ter sido, mas nunca foi. Em tudo que eu poderia ter dito, mas nunca disse e não me arrependo. Eu continuaria calada o tempo inteiro, porque no final, as palavras sempre iriam contrariar os meus pensamentos e tudo voltaria ao normal, como sempre.
 Embora eu tenha organizado a minha vida, me surgiu algo inesperado que acabou por bagunça-la mais uma vez e cá estou novamente perdida em devaneios, bagunças, livros, cds, discos, uma porrada de papéis rasgados, canetas e lapis, todos sem ponta, todos desgastados e um olhar sedento por um momento especial com a garota do verão passado. Mãos suadas, marcando pedaços do papel com uma expressão quase indiferente. Não consigo me ver agora, não consigo entender o que se passa, porque tanta espera, porque não pode ser dessa vez. Porque não consigo dizer nada. Porque é tudo tão bobo e estupido ao lado dela.
 Eu suspiro e olho ao redor. Tudo escuro. Janelas fechadas, cortinas fechadas, luzes apagadas, poeira e mais poeira. Panos brancos, conversas aleatórias, risadas, choros, gritos, cadeiras, carros, momentos, raiva. É tanta coisa em um espaço tão pequeno que eu nunca saberia diferenciar o porque. O porque de tudo ser assim, de tudo ter que acontecer da forma que é. De não dormir de madrugada e não sonhar contigo ou pensar nos olhos dela durante uma noite inteira até o relógio despertar e eu ter que voltar para a minha vida tão estupida e banal. A minha bagunça diaria. Os meus sapatos no chão, as minhas roupas, o meu violão no meio da confusão e um bando de histórias sem nexo algum.
 Não sei mais o que fazer. Só suspiro e te escrevo com um dia a esperança de criar a coragem para lhe dizer tudo o que eu sempre quis dizer. Fico me perguntando se você iria gostar de saber ou se simplesmente, iria embora pra deixar minha vida bagunçada e eu, sozinha... Se bem que nunca esteve por aqui. Quem me dera você estivesse aqui. Quem me dera eu pudesse lhe fazer feliz. Ouvir beatles e te por pra dormir. Quem me dera você fosse minha. Só minha.

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