Meia dose de pinga.

 Uma dose e meia de pinga e um sorriso sincero para o mundo. Para ti, toda a felicidade do universo e que para mim, seja a mesma o fruto da minha. Quem seria eu sem um copo na mão direita e um cigarro na mão esquerda pra reclamar de você?
 - Cê ainda não foi embora não?
 - Porque?
 - Porque você deveria ir embora. Já disse.
 - Só porque você não me ama mais?
 - É, você tá me atrapalhando já.
 - Cê reclama demais. - Continuou dando de ombros.
 - Reclamo nada, cê que é acomodado demais. Anda, vai embora.
 - Vou nada.
 - Vai sim.
 - Se me der um bom motivo.
 - Deixei de te amar. Não basta?
 - Não, não basta.
 - E porque?
 - Porque cê não deixou de me amar.
 - Como pode ter tanta certeza?
 - Quem deixa de amar não escreve mais. Quem deixa de amar não olha mais assim. Quem deixa de amar não resmunga mais.
 - Do que você ta falando?
 - Que ficaria mais preocupado se você nao resmungasse mais.
 - Porque?
 - Porque aí sim você deixaria de ter me amado.
 - Como pode ter tanta certeza?
 - Eu tenho. Você ainda questiona demais. Ainda me ama.
 - Amo nada.
 - Ama sim. Quer fingir que não, mas quando eu sair, você vai sofrer.
 - Vivi a vida inteira sem você, porque agora vou precisar?
 - Porque me ama.
 - Amo não.
 - Ama. Ama demais. Ama mais que eu.
 - Você é convencido demais.
 - Não. Eu sei o que sente.
 - Então o que sinto?
 - Raiva e amor. Quer estar comigo, me ama mais do que eu te amo mas seu orgulho não te permite.
 - Ah, me poupe!
 - És orgulhoso demais.
 - Nunca fui. És o mais idiota.
 - Sim, mas me ama! Me ama bem mais do que ler Machado de Assis.
 - Cale a boca e dê o fora logo. - Ele se levantou e meu coração apertou, os olhos torceram e imploraram para que ele ficasse, ele pegou a unica coisa que lhe permitia e sorriu pra mim.
 - Eu vou. Eu vou porque me pedes. Eu vou porque te amo. Eu vou porque eu sei eu vou voltar.
 - Não preciso que volte.
 - Eu volto. Volto sim. Volto aqui. - Se aproximou de mim e envolveu seus braços em minha cintura, meu corpo estremeceu como um todo e eu não pude deixar de me dar por vencido.
 - Porque faz isso?
 - Porque te amo. Te amo como me amas. Ama-me como lhe amo e tudo ficará bem.
 Depois, ele nunca mais partiu e se partiu, me levou com ele... Mas agora só tomamos sorvete juntos porque o destino nos permite o eterno, que nunca existiu.

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