Era verão. 1932. Nova Iorque.
Eu caminhava pelo Central Park procurando uma solução. Via casais, via crianças, ouvia risadas e observava uma Nova Iorque toda em branco e preto, sem respostas e sem alternativas para um ser perdido como eu. Eu estava no auge dos meus 23 anos e enquanto não trabalhava para a mafia Nova Iorquina, caminhava no Central Park para fumar o meu querido Marlboro Red e pensar sobre todas as mortes cruéis que já havia participado. Sempre na cena do crime, nunca procurado pela policia e sempre fugindo dos outros mafiosos. Sempre com uma arma no bolso e os olhos azuis atentos para o que poderia acontecer.
Embora eu fosse um filho da puta assassino, eu gostava de observar casais com crianças, porque toda aquela pureza que eu nunca pude ter, eu via naqueles pequenos seres que um dia, provavelmente, estariam no mesmo lugar que eu ou levando uma vida completamente normal. Teriam pais para visitar nos feriados, esposas pra amar e respeitar, crianças pra contar história enquanto o desfecho das minhas, sempre aconteciam em tragédias. Uma sequencia de tragédias durante a minha guerra civil. O país se recuperava da crise de 29 ainda e eu aqui, matando e roubando para satisfazer o meu patrão.
A noite chegou. Eu estava no bar do Moretti, meu grande chefe, enquanto tomava algumas doses de whisky e ouvia a bela voz de Louis Armstrong soando na radio. Eu era apaixonado por Louis Armstrong e suas musicas me acalmavam. Eu costumava ouvi-las antes de arrumar mais um trabalho sujo, como da ultima vez em que assassinei uma linda garota enquanto aquela voz tão aspera soava pelos comodos da casa da menina do Brooklyn. Suspirei e acordei quando meus colegas me chamaram para ouvir o plano da noite. O grande assassinato seria hoje, a grande hora. Preparei meus dedos para puxar aquele gatilho pela última vez e nunca mais sentir tanta dor como sinto quando estou prestes a fazer isso.
Debrucei sobre a mesa ensanguentada a minha frente. Lagrimas escorriam do meu rosto enquanto via aquele ser tão inocente sangrar sua alma em frente a mim. Suspirei como se não houvesse outra alternativa e tentei me acalmar. Eu já não aguentava mais. O unico problema é que sair da mafia, me causaria muitos problemas, eu não sobreviveria. Moretti não me deixaria andar um quarteirão sem saber com quem estava ou aonde iria. Eu nunca poderia me casar e nem ter meus filhos, criar alguém para compartilhar comigo todas as minhas frustrações. Criar um amor eterno e um laço de esperança de dar uma vida bem mais feliz a esse filho meu.
A arma jogada no chão, os olhos azuis manchados pela luz e um tiro no ar. Quem sabe agora eu finalmente possa me debruçar sobre as arvores do Central Park e dormir como quem descansa num pique nique com a namorada. Tarde demais pra sonhar quando se tem balas na pistola.
Central Park

Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest