Um quarto.

 Roupas e mais roupas espalhadas pelo chão. Diferentes peças e diferentes cores se entrelaçando como se fossem únicas. Amassadas, atiradas, abandonadas que desfrutavam da companhia dos outros elementos espalhados pelo mesmo ambiente, pelo longo chão de madeira, quente. Como o sol lá de fora.
 Eu? Onde estou para arrumar isso? Estou sentada na cadeira de frente a todo esse espetaculo de cores e tamanhos diferentes. Presenciando a cena com tamanha melancolia em meus olhos, as quais nunca consegui tirar de lá. As mãos apoiadas no joelho e uma expressão indiferente, abandonada e amassada como as cores amarelas que estavam ao lado das vermelhas, bem no canto do armario e tudo parecia tão distante e tão infinito de se enxergar. De se chegar. E espalhavamos folhas de livros antigos, histórias rasgadas e frases sem sentido para poder formular palavras que pudessem me lembrar de algum tempo atrás, aonde eu conseguia mover as pequenas coisas que me encomodavam. Nada de pentear o cabelo ou coisa parecida.
 Esqueci de mencionar que os tenis estavam ali e a porta para o banheiro estava aberta, com as luzes acesas. Eu enxergava vagamente o que se consumia depois, parecia que todas aquelas roupas fumavam o mesmo cigarro que eu e já estiveram presentes em meu corpo num dia muito especial, que talvez acabasse nem sendo caso eu não optasse pelo tropeço que dei naquela rua. Na verdade, naquela estante, naqueles livros, naquelas palavras, naqueles suspiros e ah... Naqueles olhos, lógicamente.
 Embora eu soubesse que a minha frente, estava a minha pequena e estupida vida, nunca havia parado para observa-la de tal ponto que soubesse que não é nada mais do que uma eterna bagunça. Um eterno chão coberto por roupas sujas, algumas limpas, outras rasgadas, outras coloridas, outras pretas, outras maiores e outras menores. Tênis, boinas e qualquer outra coisa que eu pudesse alcançar, ou até mesmo, que não pudesse alcançar.
 Suspirei três vezes, tentando criar coragem para afastar aquelas roupas infinitas e poder pisar com meus pés no chão novamente. Só pra sentir firmeza novamente. Há algum tempo eu não piso nesse chão imundo, o qual já me segurou tantas vezes em que decidi cair. Não haveria mesmo para onde ir depois, então eu só continuo fumando meu cigarro e matendo esse ritmo lento de quem não enxerga além do que se pode.
 Temo que continue sempre assim. A minha bagunça e os meus três suspiros. Os meus tragos, os meus cigarros, o meu alcool e qualquer outra coisa que me sustente, principalmente a minha vontade de queimar tudo isso. Palavras e mais palavras. Fogo e brasa. Cadê os meus livros?

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