Céu de veludo.

 Mais tarde do que nunca, num finalzinho de tarde de uma segunda-feira, resolvi me deitar na sacada de meu apartamento e observar as cores em degradê naquele céu tão imenso. Poucas estrelas espalhadas, flutuando sobre um mar azul bem escuro enquanto as outras partes daquela pintura pareciam se desprender lentamente, tornando-se um só, um tecido negro em veludo com algumas pontadas prateadas em suas extremidades e um pouco da iluminação artificial que vinha da cidade, mas que não parecia fazer muita diferença.
 A brisa estava leve, fresca e levava consigo alguns fios de meus cabelos cansados, como meus olhos que se perdiam naquela imensidão sem fim. Vozes, carros, buzinas, aviões e nada conseguia me tirar daquele estado de hipnose. Era como se não houvesse outro dia, como se não houvesse mais uma unica razão, um porquê de estar rolando de olhos fechados, se encolhendo num véu negro, coberto de diamantes falsos e uma impressão de um pseudo sorriso vindo do outro lado. Furos por todo o carpete e a brisa não parecia mais cantar.
 Doces vozes suaves pareciam ecoar enquanto os meus passos lentos passavam pelo carpete e ao meu redor, milhares de nuvens que anunciavam a chegada de uma forte tempestade, que ao final de tudo, jamais me machucaria e sim, me levaria deitada pelas gotas de agua que se desprendessem de cada parte daquele algodão cinza e quente e eu caíria como um torpedo no chão, pronta para destruir qualquer coisa e escorrer para me juntar as outras gotas que não planejavam secar na manhã seguinte, embora isso sempre aconteça.
 Só pude perceber o quanto o céu estava negro depois que meus olhos foram cegados pelos falsos diamantes daquele véu de sempre e eu nunca pude dizer o porquê, mas passei a dormir coberta e protegida pelo véu todas as noites de inverno, pra nem precisar chover.

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